Recortes Pessoais
Continuação …
Capítulo 5
O breve e decisivo Tenreiro Aranha
Em 05 de setembro de 2022, acompanhado de meu filho Júlio, fiz uma visita à Praça da Saudade, localizada entre as ruas Epaminondas, Ramos Ferreira, Ferreira Pena e Simón Bolívar, no centro histórico de Manaus. Ali estive para constatar, o que, de longe, vislumbrava: o estado de abandono em que ela se achava, a qual, há muito, abriga o monumento em honra a João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha.
Fiz um post, a respeito, nas minhas redes sociais. Como é de minha índole, que é a de sempre buscar uma solução construtiva e respeitosa, lamentei o fato, mas, conhecedor da atenção que a prefeitura vinha dedicando aos espaços públicos, como na “Bola das Letras”, ali próximo ao conjunto D. Pedro, com vazão para as ruas Theomário Pinto da Costa e Jacira Reis, pedi, como cidadão que a Praça da Saudade e o monumento fossem revitalizados.
Há poucos dias soube que houve a intervenção, embora o fato se tenha tornado notícia pela ótica negativa, resultante de denúncia de especialistas, segundo os quais a estátua de Tenreiro Aranha, em bronze, não poderia ser pintada de dourado, como foi. Ciente, a prefeitura tomou as providências para remediar o ocorrido. E a polêmica? Claro que incomoda, mas no fundo e no fim, tem aspectos positivos, pelo menos em dois pontos: daqui por diante haverá mais cuidado quando se for mexer com o patrimônio histórico e cultural da cidade; e servirá de alerta em relação a dezenas de outros prédios ou logradouros públicos municipais, estaduais ou federais que necessitam de reforma, restauração e conservação.
Tenreiro Aranha nasceu em Belém, do Pará, em 23/06/1798 e morreu na mesma cidade em 19/01/1861, onde foi deputado provincial. Entrou, porém, para a nossa história por ter sido o propositor do projeto que resultou na Lei n° 582, de 05 de setembro de 1850, a qual elevou o Amazonas à categoria de Província, livrando-lhe da submissão ao Grão-Pará, uma aspiração antiga, que tivera seu ápice com a Revolta Autonomista de Lages, de 1832. Outra significativa contribuição do curto mandato de Tenreiro Aranha, de janeiro a junho de 1852, foi o início da navegação a vapor, com investimentos de Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá, através da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas.
A homenagem a Tenreiro Aranha, por sua vez, surgiu de uma proposta do deputado Silvério Nery, em 1883. A ideia era construir um monumento, com busto. No mesmo ano, o então presidente da Província José Paranaguá editou a Lei n° 617, mudando o objeto para uma estátua de corpo inteiro, que acabou por ser instalada apenas em 05/09/1907 na Praça Tamandaré. Só a partir de 1932 é que aconteceu a transferência para a Praça da Saudade. A encomenda original da estátua se deu, ainda, na gestão do governador Eduardo Ribeiro e o responsável pela confecção foi o escultor italiano Enrico Quattrini, o mesmo autor do monumento à Abertura dos Portos da Praça de São Sebastião. A Praça da Saudade, conforme o ex-presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) Antonio José Souto Loureiro, ganhou este nome em virtude de haver em frente, onde hoje se localiza o Atlético Rio Negro Clube, o cemitério de São José. Ela foi chamada ainda de Largo da Saudade, Praça Washington Luís e Praça 05 de setembro. Curiosamente o monumento a Tenreiro Aranha não se encontra na praça que leva o seu nome, aquela que fica ao lado do hotel Amazonas, na avenida Floriano Peixoto, próximo ao Mercado Municipal.
Continua na próxima edição…
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