Manaus, 28 de novembro de 2023

Amazônia: a poronga e o meio ambiente

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Ser poronga na Amazônia, portanto, significa identificar os arautos da propaganda perversa e mal-intencionada que defende o desmatamento para atividades nocivas ao tecido social, ao clima e ao país. Ser poronga é cuidar do meio ambiente e, principalmente, clarear resguardar os direitos civis das 30 milhões de pessoas que aqui vivem, sabem proteger a floresta e devem ser tratados como protagonistas de sua gestão sustentável e da distribuição dos benefícios da prosperidade inteligente e coletiva.

A poronga há se continuar a alumiar as sombras da floresta! Que motivos temos para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente na Amazônia? O desmatamento com seus índices alarmantes dos últimos anos, as queimadas, o Dia do Fogo, uma data sombria inserida no calendário oficial da República, a disseminação do mercúrio nas águas da vida amazônica pelo garimpo ilegal em terras indígenas, a criminalidade, a violência, o tráfico humano e o conjunto de sequelas climáticas e humanas que tudo isso representa? Isso, é óbvio, não começou há pouco. Podemos dizer que a depredação criminosa é a melhor/pior descrição da presença dos não-indígenas na floresta, faz mais qde cinco séculos, desde os genocídios dos primeiros navegantes, passando pela Cabanagem e outros desastres/atrocidades socioambientais que temos padecido impunemente.

O Último Jardim do Mundo está ameaçado por esta civilização predatória e suicida. A gravidade dessa constatação pode ser ilustrada nos desvios de verbas destinadas a prevenção de catástrofes ambientais por agentes públicos, como se constatam nos últimos eventos de calamidade pública e climática no Brasil. O vetor da destruição transforma sua prevenção em delito. Estamos caminhando sob o signo da escuridão e da opressão em suas refinadas versões.

E o qual o sentido de escolher a poronga- um artefato essencial da rotina diária dos seringueiros da Amazônia, usado durante o ciclo da borracha para gerar uma riqueza generosa a partir de uma só espécie da Amazônia, a árvore da fortuna, a Hevea brasiliensis. Tratava-se de uma lamparina, uma luminária individual presa na testa dos operários da borracha para proceder à coleta do leite da seringueira nas madrugadas escuras de cada dia. Naquela época, ainda não haviam descoberto a tecnologia para evitar a coagulação do leite/látex em contato com a luz solar. Esta invenção revolucionou o beneficiamento da Borracha e gerou um ciclo de riqueza.

Celebrar o Meio Ambiente na Amazônia significa refletir sobre a relação entre os recursos naturais do banco genético da Amazônia e os imperativos da inovação tecnológica, Bio&TIC uma sigla criada pelo encontro de suas esfinges amazônicas, a bioeconomia e a tecnologia da informação e da comunicação. O fator humano é o substrato de aceleração deste acasalamento. Segundo Samuel Benchimol, nos apontamentos que rechearam sua tese de mestrado sobre Manaus, no século XX, e os aspectos socioeconômicos do desenvolvimento do Amazonas, estão assentados cearenses no desembarque de meio milhão de nordestinos, em sua maioria cearenses, na Amazônia, fugidos das grandes secas do semiárido nordestino.

São eles os inventores da poronga, um instrumento capaz de iluminar caminhos, espantar predadores e organizar a cadeia extrativa e participativa do látex, o precioso ouro branco, que fez da Amazônia um contribuinte generoso para a República desde então: por três décadas, contribuímos com 45% da formação do produto interno bruto do país. E por que destacar esses dados emblemáticos da formação econômica de uma Amazônia hoje entregue à gestão do crime organizado, legalizado e naturalizado pela omissão ou silêncio obsequioso das autoridades constituídas? E por que será que, ironicamente, nas aferições de voto das populações ribeirinhas da Amazônia, a atual administração pública do Brasil tem destacado apoio e confere confortáveis índices de adesão eleitoral a seus protagonistas? Duas hipóteses podem ser aventadas. Uma delas é a familiaridade e a naturalidade com que a barbárie se infiltrou no imaginário social dos nativos, marcados por indicadores de desenvolvimento humano de níveis deploráveis na Amazônia profunda. O estereótipo, segundo o qual essa população adere a todo aquele que chegar com uma sinalização de receita, emprego e renda, é, entretanto, questionável. A segunda hipótese apenas confirma a relação atávica entre os nativos e os exploradores desde os primórdios coloniais. Não significa adesão, nem recusa, este acolhimento é consequência pura e simples da necessidade de sobrevivência. Alguns tostões e eventos de cultura/fake/sertanejava dos gustavos laranja lima da vida, cumprem o papel de pão e circo, a fórmula eficaz de opressão/distração bem sucedida desde o império romano, antes da Era Cristã. Apesar, ou por causa, de tudo isso, festejar a poronga significa exaltar a necessidade de iluminação dos caminhos, que passam necessariamente pela informação objetiva e coletiva que mergulhe na esfinge amazônica, através de educação científica, priorização da inovação tecnológica a partir dos primórdios da educação escolar.

Ser poronga na Amazônia, portanto, significa identificar os arautos da propaganda perversa e mal intencionada que defende o desmatamento para atividades nocivas ao tecido social, ao clima e ao país. Ser poronga é cuidar do meio ambiente e, principalmente, clarear resguardar os direitos civis das 30 milhões de pessoas que aqui vivem, sabem proteger a floresta e devem ser tratados como protagonistas de sua gestão sustentável e da distribuição dos benefícios da prosperidade inteligente e coletiva.

 

II

Amazônia, as portas abertas do esclarecimento e do reconhecimento

Visita Samsung- Foto Divulgação

“A iniciativa “Portas Abertas” não é só para a sociedade local ou regional. É para o gestor federal que precisa saber a diferença entre carimbó e xaxado, e que aqui, dizem os profetas e os visionários que aqui viveram e optaram por mergulhar no mistério promissor da Amazonia, sua cultura, seu engenho fabril e sua vocação de sustentabilidade para assentar as pilastras da prosperidade: aqui pode começar um novo tempo!”

Pra não dizer que “não falei das flores”, a secretária Glenda Lustosa, da Indústria, Comércio e Serviços, do Ministério da Economia, que tomou posse em março último, tão logo começaram a edição dos Decretos sombrios, veio visitar a Suframa. Foi recebida com a hospitalidade informal e atenta do superintendente Algacir Polsin, que tratou de mostrar-lhe o que é a tal da Zona Franca de Manaus.

E neste evento, a propósito, ficou demonstrada a abissal diferença entre os que ouviram dizer e os que viram fazer.  No roteiro de Glenda Lustosa estava a Samsung, a Moto Honda da Amazônia, a Smart Semicondutores, a Midea e a Cal-Comp, algumas das 600 indústrias da ZFM, 0,6% dos estabelecimentos industriais do país.

Visita Midea: Foto Divulgação

Orgulho da tribo 

Certamente a visitante ficou impactada, pois é assim que os brasileiros, “especialistas” em ZFM, reagem quando veem, pela primeira vez, um lingote metálico entrar numa ponta e na outra sair uma motocicleta de classe mundial, com tecnologia japonesa e o retoque Manaó, uma das etnias indígenas que fundaram Manaus. Com 85% de verticalização nacional, isto é, o percentual de partes e peças que compõem a motocicleta, a Honda fabrica, num piscar de olhos, a CG 160, a mais vendida no ano passado com mais quase 400 mil unidades. São três dezenas de fornecedores tupiniquins na fábrica da Honda e sete mil cunhatãs e curumins vestidos de branco, que produzem itens de duas ou três rodas, mais baratos que os importados, com mais de mil concessionárias para suporte técnico e de assistência aos usuários. Um orgulho da tribo.

Semicondutores da reindustrialização

Ué, mas não dizem que aqui só põem o parafuso nos produtos, a embalagem com a gaivota símbolo da Zona Franca de Manaus? Tudo não vem de fora? Essas questões, infelizmente, permanecem no imaginário da desinformação nacional. Obviamente, as demais empresas visitadas emprestaram, em seu segmento específicos, as mesmas impressões e espanto. E encanto, principalmente.

Com 4.300 empregos diretos, a Samsung produz 20 mil TVs por dia, incluindo  a charmosa “quadro vivo”, além de monitores, led display, ar-condicionados com sistema wi-fi e aparelhos celulares de última geração, no ponto de expectativas a tecnologia 5G. Na Smart, uma fábrica de semicondutores com 20 anos de Polo Industrial de Manaus, que atende a Samsung Eletrônica da Amazônia. Graças a ela, a gigante coreana mantém sua fábrica funcionando – ainda que, parcialmente – pois faltam semicondutores pelo mundo afora e os que são fabricados em Manaus não são totalmente suficientes para a demanda produtiva.

Alvoroço por decreto

Enquanto a visita à indústria da floresta estava ocorrendo, despertando as boas impressões de Glenda Lustosa, o ministro da Economia – convidado a explicar ao Congresso Nacional o imbróglio de seus decretos, que nocautearam a segurança jurídica das empresas instaladas em Manaus – não compareceu. Nem disse o porquê. Agora ele será convocado, pois as medidas contidas nos tais decretos, que foram parar na Suprema Corte, provocaram um alvoroço não apenas nas empresas instaladas em Manaus. O alvoriço é geral, incluindo a frustração generalizada com relação aos impactos prometidos pelo ministro com relação aos benefícios estimados.

Madeira pra toda obra

Antes de encerrar a visita, a secretaria de Indústria e Comercio, Glenda Lustosa, confirmou que seu setor está trabalhando na publicação de uma Medida Provisória para buscar soluções imediatas para o problema dos semicondutores em todo o país. O caos provocado pela pandemia e a desestruturação da ordem mundial com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a escassez de componentes se agravou, notadamente com a deficiência que os países apresentam nesse item tecnológico.

Temos condições de produzir, com destaque para as empresas instaladas em Manaus, como a Cal-Comp, e até fornecer para muitos países. O parque fabril instalado em Manaus – isso ficou provado no auge da pandemia – é madeira pra toda obra e muita construção.

De portas abertas

A iniciativa da gestão Polsin, à frente da Suframa, tem-se destacado por pressionar o poder central para prestar um pouco mais de atenção na Amazônia Ocidental, como fator de respostas a múltiplas demandas, tanto por parte do setor industrial de Manaus, como pelo conjunto de iniciativas que borbulham nas startups da região. Ou seja, não é o garimpo ilegal, nem o desmatamento criminosos e sim a inovação tecnológica, o melhor caminho para a gestão da Amazônia.

“A iniciativa “Portas Abertas” não é só para a sociedade local ou regional. É para o gestor federal que precisa saber a diferença entre carimbó e xaxado, e que aqui, dizem os profetas e os visionários que aqui viveram e optaram por mergulhar no mistério promissor da Amazônia, sua cultura, seu engenho fabril e sua vocação de sustentabilidade para assentar as pilastras da prosperidade: aqui pode começar um novo tempo!”

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