
*Nelson Azevedo
Estiagens cada vez mais severas exigem medidas mais eficientes e urgentes. Uma delas é a instalação do balizamento adequado e construção de canais com dragagens precedidas de monitoramento sob o critério da sustentabilidade.
A Amazônia se aproxima da terceira grande estiagem consecutiva, um fenômeno sem precedentes. Rios em níveis críticos, dificuldades no abastecimento de comunidades, perda de biodiversidade e prejuízos para a navegação compõem um cenário alarmante. Estudos recentes apontam que a capacidade da floresta de reciclar água caiu até 75% em áreas degradadas, sobretudo por causa do desmatamento. Essa redução impacta diretamente os chamados rios voadores e compromete o regime de chuvas em todo o país.
Hidrovias como resposta parcial
Nesse contexto, o Decreto Presidencial nº 12.600, publicado em 29 de agosto de 2025, surge como medida para enfrentar um dos efeitos dessa crise: os gargalos logísticos. A inclusão das hidrovias Madeira, Tocantins e Tapajós no Programa Nacional de Desestatização não representa “privatização de rios”, mas a abertura para concessões reguladas e temporárias. O objetivo é modernizar trechos estratégicos, com investimentos em dragagem, sinalização e terminais.
Passageiros e pequenas embarcações isentas
No caso da hidrovia do Madeira, o contrato piloto prevê R$ 109 milhões em aportes, com 80% financiados pelo poder público e apenas 20% por tarifas sobre cargas comerciais. Não há cobrança prevista para passageiros ou pequenas embarcações. Ou seja, micro e pequenos empresários terão livre trânsito nas hidrovias.
Um elo entre floresta e indústria
O Polo Industrial de Manaus (PIM) é um exemplo claro dessa interdependência:
• Sofre diretamente com os altos custos de transporte, agravados por estiagens que reduzem a navegabilidade;
• Poderia obter até 40% de redução logística com hidrovias modernizadas, além de diminuir as emissões de carbono ao substituir transporte rodoviário.
Interlocução construtiva
Ou seja, a degradação ambiental intensifica o gargalo logístico, e a falta de infraestrutura agrava os impactos socioeconômicos das estiagens. Temos que intensificar o debate, os estudos e a interlocução construtiva. Desinformar é prejudicar o desafio da energia compartilhada e necessária.
Medidas necessárias:
• Frenar o desmatamento é a condição de base: sem floresta em pé, não há rios perenes nem hidrovias funcionais.
• Modernizar a infraestrutura logística é urgente para sustentar a competitividade do PIM e reduzir vulnerabilidades diante de secas cada vez mais longas.
• Garantir transparência e fiscalização nos contratos de concessão, assegurando que o investimento público se traduza em benefícios sociais e ambientais.
• Planejar de forma integrada: logística, meio ambiente e economia não podem ser tratados em caixinhas separadas.
Estiagens e logística precária
Estiagens cada vez mais severas exigem medidas mais eficientes e urgentes. Uma delas é a instalação do balizamento adequado e construção de canais com dragagens precedidas de monitoramento sob o critério da sustentabilidade no combate da precariedade crônica.
Desafio duplo
A Amazônia enfrenta uma equação desafiadora: de um lado, a floresta perde sua capacidade natural de gerar água; de outro, a economia regional segue amarrada por uma logística precária. O decreto das hidrovias não resolve sozinho a crise, mas inaugura um caminho. Sua eficácia dependerá de como será conduzido: com responsabilidade ambiental, visão de soberania e compromisso com o desenvolvimento sustentável.
*Economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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