A série de reportagens que o programa Fantástico, da rede Globo, vem exibindo aos domingos é contundente. A Amazônia sofre pesadas perdas de áreas territoriais a troco de praticamente nada. Cerca de 19% do seu território já foram desmatados, podendo chegar a 40% no ritmo em que as agressões vêm se perpetrando. A região não tem como reagir em face da imobilidade do governo federal e dos estados, que assistem a esse processo de degradação ecológica sem força de reação. Os povos amazônicos, atônitos, choram diante da gravidade do desastre. Segundo a reportagem, “áreas públicas invadidas, desmatadas, transformadas em pasto e depois vendidas ilegalmente é um cenário cada vez mais comuns na Amazônia. A grilagem de terras é apenas um dos problemas que ameaçam nossa grande floresta. Dia a dia, o comércio criminoso de madeira destrói o maior tesouro do Brasil”.
Não é segredo para governantes e políticos, para a sociedade local, enfim, que o problema da região decorre essencialmente da ausência de políticas públicas que equacionem soluções objetivas voltadas para o desenvolvimento regional. Centenas de estudos desenvolvidos pelas universidades e centros de pesquisa continuam ignorados pelo governo brasileiro. Fato que em si, penso eu, configura crime tão relevante quanto as ações livres dos criminosos ambientais. Tese defendida pelo pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental (Cpatu), constata que “a redução dos desmatamentos e queimadas na Amazônia vai depender de ações concretas visando à utilização parcial da fronteira interna já conquistada em vez da opção extrativa que apresenta grandes limitações e do contingente populacional envolvido. Nesse sentido, a implementação de políticas agrícolas é mais importante do que a própria política ambiental para resolver as questões ambientais”.
De acordo com artigo publicado por Alfredo Homma no e-book “Extrativismo Vegetal na Amazônia”, a região vem sendo prejudicada enormemente devido à “ênfase na biodiversidade abstrata, que tem prejudicado a definição de rumos concretos de políticas públicas na Amazônia, esquecendo a biodiversidade do presente e do passado”. Nesse meio tempo, não evoluem planos de ação a partir de uma visão em que, como conceitua o Inpa, “a valorização econômica dos recursos florestais e aquáticos da Amazônia se coloca como um marco fundamental para sua conservação”, a despeito das “recomendações apresentadas visando à implantação e consolidação de um novo paradigma de C,T&I para a região, capaz de impactar decisivamente o seu desenvolvimento”.
Em que pese a Amazônia possuir instituições científicas antigas e de excelente qualidade, elas são em número insuficiente para a execução de uma estratégia científica capaz de promover o desenvolvimento com sustentabilidade da região. O Inpa tem desnudado ancestral descaso do Brasil para com a Amazônia. De fato, “nos últimos 30 anos, a preocupação com C,T&I culminou em diversas iniciativas para o fomento da Ciência e Tecnologia na Amazônia conforme previsto em documento . Diversos programas, planos e projetos foram concebidos e inseridos numa agenda amazônica sempre fragmentada. Entre eles, e para citar apenas alguns, o Programa do Trópico Úmido – PTU; o documento da Comissão Coordenadora Regional de Pesquisas na Amazônia – CORPAM; o Programa Norte de Pesquisa e Pós-Graduação – PNOPG; o Programa Norte de Interiorização – PNI; o Protocolo de Integração das Universidades da Amazônia Legal – PIUAL; além do fórum das Universidades da Amazônia – UNAMAZ, Mestrados e Doutorados patrocinados pela Capes.
Qual o resultado prático dessas ações? Na verdade, a Amazônia continua distante e desconhecida do Brasil, os povos da floresta e dos beiradões – índios e caboclos – permanecem desprovidos de assistência de saúde, educação e de meios próprios de produção para o sustento de sua família. O escambo ainda constitui o meio de troca mais comum nos ermos amazônicos. Em resultado de todas essas adversidades, o grosso da população interiorana ainda se constitui de párias sociais sem presente, nem futuro.