Manaus, 19 de setembro de 2024

Amazônia: Solidariedades nacionais e internacionais – TEXTO 3

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Neste terceiro artigo, reafirmo a importância das solidariedades nacionais e internacionais para a proteção cultural e ecológica da Amazônia. Ela continua cercada e sitiada pelos políticos e o mercado financeiro predador; destruidores da natureza que a consideram um laboratório onde eles testam a força, o poder e o alcance de suas perversidades e barbaridades. Herança de nosso passado colonial, ignorância e subalternidade política ao capital predatório.

As janelas e os filtros da história permitem-nos identificar os fundamentos deste passado abominável forjado pelos nossos colonizadores que se apropriavam das “gentes” e ambientes amazônicos numa perspectiva eugênica e preconceituosa. Sobrepunham realidades de devastação, fome e peste de seus países às grandezas e complexidades de um novo mundo incorporado às futilidades imperiais europeias.

Senhores da guerra que atravessaram os mares para encontrá-la, e aprisionar as suas gentes e as vastidões de seus territórios numa cartografia etnocêntrica e sanguinária. Séculos de dominação física e cultural marcados por genocídios, etnocídios e expropriação das naturezas além-mar. Inauguraram a era da devastação ecológica no novo mundo. Período seguido pela emergência do progresso assentado na educação e nas conquistas da ciência e tecnologia, dissociadas, mas aliançadas com as religiões, no qual se propunha civilizar a barbárie e humanizar os gentios primitivos. Sempre na perspectiva de um futuro melhor, mas marcado pela crescente verticalização e concentração de poder nos países colonizadores.

Em certa medida, pode-se afirmar que a prosperidade destes países era muito dependente da subalternidade política dos governantes dos países colonizados e de suas “rapinagens civilizadas” nestes mundos distantes e exóticos. A historiografia crítica amazônica precisa desvendar com mais acuidade estas atrocidades civilizatórias. Mostrar que nossas gerações também são sobreviventes devido às resistências tenazes dos povos originárias, nossos ancestrais, à colonização sanguinária que se instalou na região.

Precisamos honrar aqueles que morreram em defesa da Amazônia, aos mais de 5 milhões de parentes que têm tombado em confrontos desiguais e covardes com os colonizadores, passado e presente. Terra das Amazonas, Lugar das Águas, Mundo das Abundâncias, por tudo isto, pode-se, também, afirmar que: ‘Amazônia nosso amor’, ‘Amazônia nosso tesouro’, e, ‘Amazônia e as crianças da sustentabilidade’ compõem dimensões de um justo ‘Tributo à Amazônia’. Dívida histórica do Estado nacional com a região.

Mas a pós-modernidade pôs problemas mais complexos à humanidade. A destruição ecológica do planeta, a desigualdade social e econômica exacerbada, a privatização do mundo e a mercantilização da vida lideram as grandes controvérsias civilizatórias. Este quadro histórico impôs a necessidade de ressignificar os fundamentos, sentidos e mecanismos operacionais dos modelos de desenvolvimento econômico e do conceito de cidadania. Este marco civilizatório incorporou, definitivamente, novas representações simbólicas nas políticas de ciência e educação, nas formas de organização do trabalho, e na proteção social e ecológica do planeta, principalmente. Com os poderes políticos e econômicos se organizando em redes horizontalizadas e compartilhadas. A despeito do distanciamento institucional, os instrumentos, plataformas e redes públicas têm possibilitado maior inserção mediática das sociedades, sempre valorizando o cotidiano das pessoas e dos ambientes. Processo que possibilita os acessos e as interações, simultâneas, aos tempos breves e longos, passado e presente, em busca dos contornos das lembranças de nossas famílias e de nossos antepassados. Oferece possibilidades de comparações entre o antes e o depois, em todas as classes sociais e econômicas. Mostra os nossos hábitos, preferências, crenças e afinidades ideológicas. Identifica também a origem da miséria e das riquezas materiais. Reafirma o tempo presente. Constitui um marco de uma nova Era.

A integração sistêmica entre indivíduo, processos criativos e produtivos, e a filosofia ecológica marca esta Era da humanidade que propõe novas formas de recomposições civilizatórias. Recomposições que podem se desdobrar em rupturas ou vice versa, mas, certamente, assentadas na afirmação da existência humana em suas diferentes classes e condições sociais, e na proteção dos ambientes naturais. A construção da equidade social e econômica e da sustentabilidade situada e global também compõe a base material de o futuro da humanidade do tempo longo.

Com alteridade, imaginação e criatividade, a Amazônia tem nos ensinado sobreviver nestes longos e difíceis períodos da história das civilizações. Passaram-se os cacicados, os reinados, as monarquias e as ditaduras, substituídas pelas democracias e as repúblicas, e a sua destruição cultural e ecológica continua sendo intensificada. Uma guerra de ocupação e uso depreciativo, lenta e atroz, contra os seus povos e ambientes naturais.

Seus povos originários continuam resistindo e construindo novas resiliências e sabedorias de sobrevivência voltadas à proteção de suas culturas e territórios. Sem esta resistência obstinada e heroica não haveria Amazônia. Hoje, o sucesso pleno dessas iniciativas depende, também, do nosso envolvimento com a sua sustentabilidade cultural e ecológica. A hipocrisia, estupidez e irresponsabilidade histórica do capitalismo predatório continuam conspirando contra a perenidade da Amazônia. Os assassinatos recorrentes de suas lideranças indígenas, as labaredas de ódio que consumem as suas florestas enviando-as em forma de cinzas e aerossóis para outros povos, e os mercúrios, fungicidas e germicidas que envenenam as suas águas, floras e faunas continuam destruindo-a irreversivelmente. Não há vacinas para imunizar e proteger a Amazônia e o planeta das barbaridades do capitalismo predatório num mundo uno e integrado. O seu desenvolvimento sustentável é um dos pressupostos à sua sobrevivência numa conjuntura de muitas incertezas e riscos. Este tipo de desenvolvimento apresentará novos caminhos para ela, ao Brasil e à humanidade. A implantação de uma plataforma de ciência e tecnologia no Amazonas para a construção de seu desenvolvimento sustentável estruturado a partir de suas culturas e ambientes naturais constitui um desafio complexo que precisa ser materializado. Este empreendimento precisa de todas as solidariedades nacionais e internacionais. Pelas razões apresentadas, convido os leitores a compartilharem uma carta de compromissos políticos para a implantação de uma plataforma de ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, em especial do estado do Amazonas, que será apresentada no próximo artigo. Finalizando este texto, apresento o poema “Amazônia e Papa Francisco: sustentabilidade e religião”.

AMAZÔNIA E PAPA FRANCISCO: SUSTENTABILIDADE E RELIGIÃO*

Amazônia,
Casa de Francisco,
Protetor da natureza, dos animais
E dos mais necessitados.

Amazônia de Francisco,
Francisco da Amazônia,
Compartilhem os seus espíritos
De bondade e humildade,

Com os humanos destruidores
Da natureza,
Arrogantes e prepotentes.
Mostrem para eles os caminhos

Da dignidade e dos direitos de todos,
Pessoas, plantas e animais,
À vida plena, à sacralidade
E à transcendência.

Mostrem-lhes que a sustentabilidade
Absoluta do espírito
Contrapõe-se ao extermínio da vida física,
Num mundo onde as criaturas vivas

São irmãs e filhas de Deus.
Papa Francisco,
O espírito da sustentabilidade
Apresenta-se como grande defensor

Dos seres vivos.
Ele encontra-se em harmonia
Com os ciclos da natureza
E os dogmas cristãs,

Confronta-se com os destruidores
Da Amazônia e de sua sacralidade existencial.
Protege nossas crianças e culturas.
Papa Francisco,

A Amazônia é de todos nós,
Insista em sua defesa
E perenidade física e divina.
Na proteção de seus povos,

Animais e floras.
Estenda o seu manto sagrado sobre ela,
Pois ela está morrendo,
Em nome do lucro exacerbado

E da ambição desvairada,
Que constroem pobreza,
Sofrimento e dores.
Francisco da Amazônia,

Abençoe os seus povos,
Vítimas do preconceito,
Da intolerância racial,
E da tirania política.

Manaus, 14 de Maio de 2022
*Poema publicado no livro “Amazônia nosso tesouro”, Marcílio de Freitas, KDP – Amazon Book, 2022
Manaus, 2 de Abril de 2023
Marcílio de Freitas

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