* João Bosco Seabra da Silva
Eu sou um índio, eu sou tupi
Eu sou caboclo, eu sou daqui
Não tenho loção após o banho
Não tenho loção pra barbear
Minha mulher não usa enfeite
não usa enfeite pra enfeitiçar
A nossa dança não tem confete
O nosso bolo não tem confeito
não temos cama para amar
O nosso leito é o nosso peito
O nosso leito é nosso chão
Nosso cheiro não é loção
Nosso cheiro é fedor de peixe
suor de mata, suor-sertão
Eu sou um índio, eu sou tupi. Eu sou caboclo, eu sou daqui
– Diga adeus pra Tupã, que comigo vem meu Deus
Adeus pra Tupã. Há Deus!
Vim doutros lados da terra
com o modo certo de ser – trago civilização
a chave do seu problema montada no meu esquema
Não tema, pois nada há pra temer
e siga o que vou dizer: Vá vestindo este calção, pegue a foice, o terçado
desmate a vegetação
Não coma mais carne crua, não coma mais peixe cru
acabe o costume besta de sempre, sempre andar nu
Só quem deve andar nua é índia nova no barracão do homem do outro lado
que trouxe o progresso e a loção e tudo o que é injeção
pra curar qualquer mandinga de quem vai pro pantanal:
anti-tetânica, anti-variólica e até anti-moral
e em plenas noites de lua, possui nossas marias,
rouba um puro coração com a loção e o progresso
destrói um povo, uma raça
que vai virando fumaça
que vai sumindo no ar
e vai ficando deserto