
*Manoel Domingos
EPIGRAMA DA PALMEIRA DA PRAÇA DO ROSÁRIO
2o lugar no Conpofai – 1990
Eu sempre, ao meio dia, ao fresco vento,
Se me lembro, se me lembro, não esqueci.
Achava-me, à tarde, o dono do momento,
Pois ia me deitar bem junto a ti…
Quem te levou, palmeira bela
Da minha praça a aquarela?
O imenso fosso que deixaste é vão,
Pois eu aqui te expresso a cantilena,
Mas é por dó da Driade tanta pena..
Que vem do próprio tronco a inspiração.
Quem te levou, palmeira bela
Da minha praça a aquarela?
Não vejo mais aquelas folhas como aranhas,
O vento que era fresco se aqueceu
E já nem sinto aquela sombra como entranhas…
E com elegia eu traço aqui os versos meus.
Quem te levou, palmeira bela
Da minha praça a aquarela?
Quem te levou, minha palmeira bela,
Não sabe que a Poesia ainda te vela…!
ELEGIA PARA UMA ESPERADA BONANZA
1o lugar no Conpofai -1994
É tarde? Tão tarde? Será muito tarde assim?
Um escasso tempo cibernético e inconstante,
De canções tristes…de penar sem fim,
Aumenta a dor do peito a cada instante,
Porque você não está em mim.
É cálido o mirar na tensa face do horizonte,
É tépido o profundo desafago assim…
A guerra é quente… a guerra é fria,
Este difícil espaço, à tarde me inebria,
Porque você não está em mim.
É tarde? Tão tarde? Será muito tarde assim?
Calor e frio: jazigos do dia-a-dia,
Na praça sem graça, na guerra dos sexos,
Guerra de todos os complexos,
De muita vida vazia…que agonia…
Vêm “bips”, “urvs” e “disturbs”
e roubam trabalhos, pois sim,
Cresce a grande teia social de dores,
Porque você não está em mim.
Nem mesmo um vento resfria o coração,
Até aquela nossa hora matinal
que fazia esquecer uma ilusão algoz,
Se foi… com Senna, o gênio no Domingo veloz…
Se grito, se exalto, não sou louco…dou um salto!
Tentando amanhecer da noite horrenda.
Após, porém, a sórdida demência,
Ergue-se o tempo, revivem-se as cores…
Colorem-se os pensamentos brancos,
Rompendo todos os flancos,
Para novas manhãs, novos hinos…
É para vestir os sentidos, desfazer os pálidos juízos…
Então, meninos! Seremos novos meninos!
Não, não é tão tarde! Não muito tarde assim,
Ah! Bonança, você há de chegar para mim!
EPIGRAMA AO RELÓGIO DA PRACINHA
Relógio dizia p’ra muitos olhares,
Tardinhas e noites… Pessoas em pares,
Vendo o rio ou o brilho poente do sol,
No ermo do tempo, ao tom do arrebol.
Mas quem te levou, relógio da praça?
Quem retirou a hora daquele que passa?
Relógio da praça, sem tempo sem hora,
Me conta baixinho quem foi te arruinar?
Marcavas tão certo no tempo de outrora,
Será que os ponteiros não vão mais voltar?
E quem te levou relógio da praça?
Quem despojou a hora daquele que passa?
Se tu não dizes nenhum só minuto,
Nenhum tic-tac… Tampouco segundos…
És torre baldia num tempo de luto,
Pedindo esmolas às horas do mundo.
Mas quem te levou, relógio da praça?
Quem retirou a hora daquele que passa?
Quem te levou meu relógio da praça,
Ignorou o tempo da Arte que te abraça.
(1989)
EPIGRAMA DA GALERIA MARINA PENALBER
(pela a extinção da Galeria de Artes Marina Penalber)
Espaço de saudades e poesias,
Encontros de amigos e de canções,
Custódia de artesãos e cestarias,
Canto do Olímpio, de tantas razões.
Quem te levou nossa Galeria,
Quem emudeceu as falas e melodias?
Vejo-me em verso… Num palco estampado.
Lavradas imagens de estimas e dores
Sentidos de quadros, causos e amores,
Mas não te vejo, galeria debalde!
Quem que levou nossa Galeria,
Quem emudeceu as falas e melodias?
Tantas foram às causas em Terezinha,
Que venerou o oposto e o cerne da arte
Que te amoldou em verves dessa história,
Chorou esforço em ti, e agora partes!
Quem te levou nossa Galeria,
Quem emudeceu as falas e melodias?
Quem te levou saudosa Galeria!
Cegou-se à Arte: cultura e poesia! (2003)
FLUTUAÇÃO
Longe de ti, o olhar
Divagando sobre as instáveis ventanias,
Longe do olhar, o ermo
Cavalheiro das bisonhas calmarias
À esmo, fita o rio
Viajante eterno da imaginação.
Nas esquinas, te busco arfado de vária cação
Para ter-te em minha flutuação.
Continua na próxima edição…
*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.
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