*Manoel Domingos
Continuação…
VITÓRIA RÉGIA
Deitada na água morena, abre-se desconsertada
A rainha do lago… e das flores de encantos.
E lentamente, se endeusa em sol ou chuva
Lastrando em fluvial silêncio, seu manto.
É o ganho da natureza…insurreição do cio,
Ninfomaníaca lacustre, a Vitória Régia se abriu.
Flor do nácar, vizinha dos cascos e da rosa,
Que na água serena se revezam alegres,
Porque ela, na água noturna, se faz formosa.
Todos se avizinham volúveis e vigilantes.
Relvas, canaranas e jauaris abrem alas,
Para essa primogênita e ninfa aquarela,
Que assim não aguenta o peso da sombra,
Tampouco mais que meio quilo do tempo,
Oferta assim seus espinhos às vidas
Aos socós, piaçocas e margaridas…
E se faz formosa ao firmamento.
SINAS E SINAIS DE TEFE
O DHARMA DE ZERITE*
O Boto, que arribava rio além,
Por que roubaste o dharma de alguém?
Vermelho, plùmbeo… Força desta “elite”,
Tiraste a identidade do Zerite*.
Tu que, à noite, encanta a moça bela,
O termo branco, a vaidade, a lapela,
Fizeste maldade e feriste nos dotes
E nas costas do amigo José Lopes*.
Some antes que venha molecada!
Cuidado com a pimenta do José,
Foge boto! O Boto, dessa galhada!
Se apareceres lá, o homem alarma,
Convém que fiques longe, lá no fundo,
O Zé não quer que leves mais seu dharma*
Este poema foi elaborado em Tefé no periodo de Licenciatura.
*Dharma: segundo a sabedoria hindu é o “eu”, a identidade, a alma.
*Zerite / José Lopes: colega acadêmico do Curso de Letras. Certo
dia tomava banho no rio Coari, e um boto resvalou-lhe a costa
quase o fazendo desmaiar, de medo. E desse episódio contado
por Walter, também de Coari, escrevi este soneto em sala. (aula d
e Marcos Frederico) em Tefé.
NO LAGO DE TEFÉ
Numa ode ensolarada
Olho o efêmero meio-dia
Rente o velho seminário.
Estou em frente da Bacia…
Eis o lago de Tefé:
Ainda suntuoso aquário.
O vento é adesivo do dia,
Lago de águas insinuantes
Que castigam e que refrescam
Tantos acadêmicos errantes.
Medindo olhar pela orla,
Juro passear de catraia
Rodeando os flutuantes
E os pontos de toda a praia.
Pego o sol no Solimões,
Diz a lenda e a parlenda…
Ega apruma seus bordões
Vou namorando a paisagem,
Já gasta…siliente e exausta,
“Pega a minha mão meu bem”,
Vamos no juízo do vento noturno,
No caboclo Tchê a um deleite,
Revisemos os instantes diurnos
Sentemos com Stilo…e me aceite.
No outro dia fui ao Abial
Dezenas de amigos…centenas,
Olhares bons, ruins e joviais…
É bom ter cuidado com as verbenas.
Grampeando meu sentido,
Depois do cortiço, as amigas vinham
Eram a Selma, a Núbia, Rosélia e as flautinhas
Chegavam o Chrischanan e o Luís.
E as leituras seguiam a pé,
Arfados das Letras e de giz,
Das salas do Frei André.
Abastecido da enseada,
Visto as lembranças de tia D’alva
Ouvindo as bertoléticas canções,
Ou perseguindo um banzeiro…
Depois, saio de mim rumo à praia.
Porém, se me aproximo de ti
Busco a Arte…faço um verso,
E num lugar, melhor aqui, no Lago,
Seremos latinos, ladinos, por certo.
Continua na próxima edição…
*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.
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