*Manoel Domingos
Continuação…
Parte 4
ELEGIA E LENDAS
ELEGIA DA LENDA DO BOTO
Tão lôbrega era a noite e tu não vieste,
O sol se despedia a meia imagem…
Cheguei…e não vi sequer um vulto teu;
Vem! Assim não é o conto, assim é visagem.
Que mãos que te seguram p’ra não vires
Saudar quem sempre te saúda o banho,
E aqui me completar a história pura?
Vem! Assim não é o conto, assim estranho.
Eu sempre acompanhei tua embarcação,
Queria te levar p’ro meu encanto;
Mas, ficaste no dissídio do instante…
Vem! Assim não é o conto, assim espanto.
Por que tu te demoras, bela jovem,
Não vês que a luz do dia já se vai?
Não quebres o rito desta lenda ardente,
Oh! Vem mitologia, vem meu ente…
E assim tu me enganaste, oh quanta dor!
Não vens porque tu foste p’ra cidade,
Porquanto na enseada desfaleço,
E a minha história se tornou um avesso.
CUMPADI BOTO
Na noite de lua, estava triste
Vim pra beira do rio
Ouvi quando me pediste
Virar de peixe pro cio…
Ai, que gozo padrinho,
Ai, madrinha que frio.
PROVÁVEIS MADRIGAIS DO RIO
I
Naquela noite te esperei de azul,
Deixei o meu chapéu e terno branco,
Pra receber-te!
Iriamos passear na correnteza.
E no fundo do remanso em que entraríamos…
Iria beijar-te
No cômodo do “Loide” que arrumei
Pra te amar…
Tu não vieste!
Oh, que pena!
Irei para a festança do divino
E lá encontrarei outra morena.
II
Eu, amanhã, estarei
Na boca do estirão
Vou tornar-me belo jovem
E meter-me no samba de chão
Olharei as belas ancas
Das moças do beirarão
Vou esperar a noite seguinte…
Ai gozação…!
Ai gozação…!
III
Oh! como tenho estado dolorido
Um golpe resvalou sobre o meu peito
Porque te quis. lega
E enquanto Amadriade me conforma
Ensaio aqui uma outra melodia
Para cantar-te em murerus!
Hum! e quando tu, donzela lavadeira
Desceres lá na ponte da beirada
Vou-te mirar!
Te levarei para duzentos coitos,
E na lua cheia voltarei afoito!
IV
Subi em meus suspiros lascivos!
Seguindo aquela canoa pequena,
Lá, vai uma morena…
Menina da enseada… da face formosa!
Por que não te espelhas neste Cor-de-rosa?
…Oh! Ai! Doce fêmea…!
Se vires o pulo e o meu salto dengoso,
E olhares com feitio pra mim,
Em ti sereno…
A noite te visito calmo e silencioso,
E sob gozo, dormiremos plenos,
E dormiremos sob plenos gozos.
DOLPHIN, THE BOTO
(Eu sou o boto)
Lonely night… that’s my heart-boat follow something,
you see,
Searching for morena’s looking.
and for your warm degree.
Even alone…someone argued and come
in orbital love pressure…
Tell me dolphin, what’s your sure?
“Oh, it’s my waterfull, it’s my mind,
I jump sexfull… and she cry”.
Sitting in this waterful desires…all night long
It makes me out in my alchove Amazon,
Times are loneless… senses I hired.
Tell me dolphin…how you smile?
“Oh, it’s my…
Alone…no one can trust in cabocla’s feelings
Feelings, but caress… how good loneless!
Something…anything…I sing…
This cloudy mind throughout my reason
Refletions of empty things
All my friends…getting along in.. all in love
So,
Feelings are but a basic caress
This words are words and swords,
I confess…
Tell me, dophin..
FLERTIVAL DE JACI-LUA
Jaci-lua estava triste porque queria casar,
E olhou para Selva Amazônica e disse:
“Eu gostei desse lugar!!”
Jaci desceu do céu, num dia de março de chuva,
Caiu na flor da munguba,
Escorregou-se lentamente pelo cacho do inajá
Vergou-se o mulateiro viúvo, entoou-se o bem-te-vi,
Todos queriam olhá-la…
Gritou o papagaio: “Olha a cunhã está aqui!”
Ela correu para o lago, serpenteando murerus,
Assustou os socozinhos, fez-se garça e jaburu.
O canário todo afinado soltou um solo violado,
Por todos os colibris. Grita, de novo, o papagaio:
“Jaci- cunha está ai !!”
Depois daqueles ruídos, no talo de uma bacaba,
Remando na ventania, apareceu curumim,
Com galhinhos de arruda e com a pata do quati,
Fez então banho de cheiro:
“Quero casar com jaci!”
O japiim na samaumeira, que imitava todo mundo,
Convidou a “caba” rainha p’ra se juntar nesse rito,
Fez a paródia do evento e assim se orquestrou o mito.
Dublou os gritos e os cantos para a formosa Jaci…
Tudo estava preparado, para casar curumim.
Por detrás da imbaubeira, naquele verde molhado,
Jaci estava sentada, esperando o namorado,
O encontro foi no abieiro, bem pertinho de uma “moita”,
Dançaram sob a ingazeira, com o tango-do-Pará,
Subiram na samauma, cantou e cantou o japiim,
Rolaram capim-colônia
Sorriram no castanhal,
Comeram muitos araçás,
Puruís e guabirobas,
Camapus e biribás.
Cansados daquele dia que já chegava ao seu fim,
Dormiram à sombra do verde… molhados…
Jaci-Cunhã e Curumim.
A noite estava chegando, ela Tinha que ir p’ro céu.
E o Curumim ficou na espera em cada fase da lua,
Contando com sua volta, contando com a amada sua.
Ele namora a lua vendo o espaço sideral…
Foi num chuvisco de março…um dia de flertival.
MAIS UMA VEZ …DEZEMBRO
É fim de ano…as horas que tocaram em nosso interior,
se foram sagazes… mansas…atônitas… e fugazes,
podem traduzir nossas ações em lições.
Lições de um mundo pequeno, algoz e sereno.
Mais uma vez… dezembro, o sino da última torre de ano,
dos encalços natalinos, nos faz repensar
nas certezas e enganos, nas perdas e nos ganhos.
Porque é fim e início de ano…
A vida não é uma viagem profética
é interferência de todas as linguagens: humana
material, espiritual e poética.
Interferência para mais ou para menos,
e se você fez para mais…mostre um sorriso,
se fez para menos…pense, pois você é capaz,
…na brincadeira que não colaborou…
…no trabalho que não realizou…
…na parede discreta, que em gosto ingênuo,
você impensadamente estragou.
…nos sorrisos…nos seus sorrisos,
que com alegria e companheirismo você expressou
É fim de ano…sua busca não pode fracassar
pense na sua interferência positiva para o mundo.
Mais uma vez …dezembro,
Tenha sua chama mais viva, tente mais querê-la
Pois você pode muito bem, ser mais que uma estrela
Deus, por nós, é a plena existência…
No devaneio ou na alegria…e na sobrevivência…
*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.
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