Manaus, 22 de novembro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

II. SETE SENTENÇAS

2. O HOMEM

O homem, dilema material,
Fim de mês… Tão freguês;
Fim de ano… Tão cigano,
Gasta segundos e cansaços:
Homem-morfema…

No fim de semana,
Cansa horas… Afia os rumos,
Adia suores… Ajusta os prumos.
Espreita moedas e rendas,
Falsos enigmas: Homem-lenda.

O homem, dilema existencial,
Parcas compras… Poucas vendas,
Entreolha-se arlequinal.
E após discursos e parlendas,
Nas avenidas e ruelas,
Em frente ao Lojão,
Apruma-se em todos os ventos,
Alinha os olhares vãos:
Homem de escassos linimentos.

Segunda-feira… É um dilema lateral
Desce rampas e ladeiras,
Do Jauary à Colônia
Guardando enganos e insônias:
Homem-arterial.

Farpa de si, angústia de mim…
Todo dia… Fim de mês… Tão freguês;
Fim de ano… Tão cigano,
Quarta-feira… Tão banal.
Homem à toa, no pálido natal,
Isento da vida… Ele existe,
Está dentro, fora, aqui e ali:
Homem – tempo, imaterial.
Janeiro / 1999

3. A PALAVRA

No mundo, se há uma coisa paciente
E sem intransigência é a palavra
Que se envolve nos seios das falas.
Nas cantigas das crianças e lavadeiras
E na ânsia de todas as relações,
Finge ser levada e leva a ser fingida por insanos,
E se esculpe na língua e é intima,
A palavra está nos sóbrios, ébrios e tiranos

A palavra é também gêmea da vida.
Por vezes um múltiplo de intensos olhares.
Muitas vezes é abstrata e serena.
E ômega súdita das chegadas
E alfa prestativa das saudades.
Sóciocêntrica, ela vai se averbando
Então, aglutinando os sentidos
De interjeições louras e morenas…

Palavra!
Ninguém dá tantos sentidos a ela,
Querem-na já cozida em seu campo…
Ainda que, para muitos esteja longe,
Do espaço, das certezas e do tempo,
PALAVRA é razão e sentimento,
Mas NA ESCOLA É CAMINHO de bons
pensamentos.
24.06.2002

4. A VIDA

A vida é marcada de choros e risos
Que vêm em banzeirinhos de praia
Ou como ondas… tin tin por tin tin…
Se me divirto ou me arrepio,
Não previno a noção de absorvê-la,
Tampouco de vê-la no fim.

A vida é marcada por cantos e sinos
Nas boas sinergias sonhadas,
Nas promessas simples e cantada
Que empurram a complicados caminhos.

A vida está em três espelhos:
Os que reverberam o passado.
Aqueles que assinam o presente,
E também os que vão apalpando o futuro…
No coração, na História e na mente.

Sei que devo tê-la sempre filtrada,
Do sono dos desejos às razões e fins
Desde as transcendências das auras,
Até ela, em essência, parar em mim.
(01.07.2002)

5. O TEMPO

Na ilha do tempo há um enquanto,
Que se estende agonizado em universos,
Conduzindo-te em supra realidades.
Essa circunstância é momento-luz,
Um espaço temporal do pouco e do excesso,
Mundo de horas que assim te conduz.

A enseada do tempo, se não vestes o hoje,
Vai sempre remeter-te p’ra trás…
Se não sabes de teu próprio tempo
Não és não foste e nem serás.
Nos repentes desses ínfimos estágios,
Sejam lendas ou mistas verdades,
Dialogias duradouras e vãs conversas
Podem-se trocar mentiras por vaidades .
Vive-se tempo de bem e de mal.

O tempo, numa condição é luto. Não age.
Porque a festa está nos calibres e nas maldades
Prejulgamentos, preconceitos e prepotência,
Nas mordaças, guerras ou enchentes.
Nesse mundo adverso, geram-se homens,
Os maus, que espreitam seu passar
Que algemam o coração da gente.

Fora Ilusões! Discriminações e desterros!
Esqueçam-se ideologias em medida adversa.
Instante agudo! É melhor um tempo de bondade.
Vivamos horas de paz e amor… O resto é conversa
O Tempo traz todo tormento à cura e à verdade!

6. A CORAGEM

A igualitária semente do medo,
É o invólucro de quem não ama
Em segredo,
Em degredo,
Em trabalhos…
Mas é a coragem que dita
As notas da vida
Nos sorrisos da deusa do amor,
Nas razões e nas lidas… Até na dor.
Zen é um entusiasmo abafado
De uma Coragem atordoada,
Que pode se afastar de ti
E das veias de quem se afligir,
Mas ela sobrevive do inconstante.

Coragem é a certeza de não estar só,
No mundo adverso e cru…
De não ser nem antes nem depois,
Coragem é queda e salto,
Perder e vencer o que se opôs.

É um ponto e um laço de encontro
Para unir todos os lados
Otimismo, desejos e confrontos,
Que são filhos de obstinação,
Pois a vida é recorrente,
É relutante, é passagem…
Arme-se, então, sempre dessa Coragem!

7. AS HORAS (INSIPIDAS)

Final da tarde, quando ao repensar,
Vou filosofando ensejos de Deus,
Que deu a explicação aos gestos meus,
Já cientes como o imenso Rio-mar.

Fujo de um sentimento que me assalta.
Sob as mangueiras alinhavo versos,
Nas inconstâncias diárias do universo,
No palco “a cola” dos meninos peraltas.

De repente, atemporais e incógnitas,
As horas azuis que se fizeram pretas.
Ébrios… Meninos sem livros… Más violetas!
A vida neste “palco” me alucina…
Mas me dita… É hora, é hora!
De levá-los ao mundo… Em oficinas.

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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