Manaus, 22 de novembro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

ATOS DE UM SIDERAL NA PRAÇA DA MATRIZ
(O QUE UM SONHO NÃO PODE FAZER)

“O mundo escuta e não entende o choro
Que transbordando, se desata em cantos:
E pobre poeta, como a flor do vale.
À mingua de calor, de luz, de seiva,
Pálido, lírio, pende a fronte murcha”
(C. de Abreu)

A noite estava um tanto mais serena,
A penumbra revelou um ermo banal,
Falta energia… Racionamento total.
Firmei o olhar no céu claro e aberto,
E numa piscada revi a praça… A tal deserto…
A torre da igreja sentiu a falta do sino,
Que pena! Ele chamaria uma estrela,
P’ra iluminar todo o largo.

Calei. Cumpri com os olhos num alívio
Como uma metamorfose intima,
E a tradução do instante, verteu-me.
Adormecido, me vi numa luminosidade…
No ramo do “benjamim” veio à estrela,
As outras mutuamente enciumaram,
Todos os neons se incomodaram,
A vida inteira de um “benjaminzeiro”
Por uns minutos de claridade…

Do canto dessa praça solitária,
A estrelinha se espalhava brilhante,
Depois de todas as horas de escuro,
Tudo se fez radiação com o vento
Que embalava aquela cantilena de luz

A grama cresceu bem verde, e as palmeiras sorriam,
Canteiros coloridos enfeitavam o passear da gente,
O brincar da garotada ficou bem muito mais humano,
O ar ficara mais fresco, soprado do grande rio.

E assim se tecia aquele momento legal…
Do ramo do “benjaminzeiro”, se foi o astro real,
Subiu na língua do sol, através da lua errante.
No banco da esquina ficou um menino tristonho,
Do alto da igreja o sino o acordou do sonho.
Depois fiquei a pensar num instante,
Rápida beleza nos trouxe essa estrela,
Ah! Se voltasse de novo… p’ra sempre,
E a nossa praça pudesse tê-la! (1994)

VITAL DE MENDONÇA E O POENTE
(em memória do antigo e histórico prédio do Ginásio)

Este é um dos momentos poentes,
De uniformes cansados que agitavam saídas…
Olhares, atônitos, alegraram,
Entristeceram-se como em despedida.
Escola… Colegas… amigos…poesia,
Parece fim de uma diversidade,
Alguma certeza, caminhos e alegria.

A ânsia desnuda os meus espaços
E os caminhos da minha mocidade
Depois do último dezembro, estou refém
Me vejo além do horizonte…muito além.
Não se apavore, tu sabes o que é ânsia,
A brevidade da vida que nos remete,
Íntima, ao espaço das dúvidas,
Mas, nunca espere tanto, irmão,
Porque se esperar… alcança… em vão.

Tarde de julho…estás ficando poente…
O silêncio dos milhares de egressos
Dessacraliza os anseios de tua existência.
As vozes se calaram diante de tua história.
…E caíste… até parece demência.

Vital de Mendonça… escola da saudade,
Das lutas, protestos, vero espaço de amizades…
Queria levar um pedaço de alguma sinceridade.
Engoliram-se todas as ausências
…E caíste… até parece demência.

QUEM NÃO AMAZONAS?

Se não Ama zonas, amacio,
Não amacio,
O que não Amazonas…
Quero gasodutos,
Fecanis em maratonas

Quem não Pizzonia
Não se amacia,
Quem não vela
Para o Norte,
Não Amazonas,
Então não me sacia.

Quem não cultura, não Amazonas…
Quem não Ciranda, não Quadrilha,
Não acolhe os verbos caseiros…vai passar!
Se não Andirás, perde a certeza de se amazoniar.

Se os que “Amazonam”,
Velam apenas para si,
Vem à tona o que fingem,
Torna nódoa o que impingem,
E jogam farpas em mim.

Quem não Álvaro Maia, “Desamazona” até o fim.
Então quem não Amazonas,
Não adianta lambança…
Temos que entoar,
“Somente o esplendor desta hora febril:
Canção de Fé e Esperança”.

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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