“O planejamento urbano integrado avança, mas o rural amazônico continua sem luz, sem voz e sem vez. A justiça climática exige equidade territorial. Não há desenvolvimento sustentável com ênfase apenas nos centros urbanos. As bordas precisam de luz. Literalmente.”
Há que ser inadiável o compromisso na luta contra a pobreza energética.
Enquanto o Brasil se projeta como liderança estratégica da neoindustrialização verde e avança em metas de transição energética, uma tragédia silenciosa e cotidiana se mantém à margem do protagonismo nacional: a pobreza energética. Invisibilizados pelas estatísticas, milhões de brasileiros seguem barrados do baile da energia – sem acesso confiável à eletricidade, submetidos a combustíveis caros, poluentes e sistemas precários, sobretudo na Amazônia profunda.
Neoindustrialização Verde: Promessa de Futuro ou Privilégio Concentrado?
A chamada neoindustrialização verde não é apenas uma estratégia econômica. É, ou deveria ser, um projeto civilizatório. Em 2024, a indústria representava 24,7% do PIB nacional, com 11,5 milhões de empregos formais – uma força viva capaz de liderar o desenvolvimento sustentável do país. Mas há um paradoxo: enquanto discutimos inovação, eficiência e valor agregado com baixa pegada de carbono, comunidades inteiras da Amazônia ainda acendem lamparinas ou dependem de geradores a diesel que consomem dignidade e futuro.
A Expansão das Energias Eólica e Solar
A expansão das energias eólica e solar, especialmente no Nordeste, é exemplo de transformação estrutural bem-sucedida. Em dez anos, a capacidade instalada saltou de 20 mil para mais de 50 mil gigawatts – graças, sobretudo, a R$ 146 bilhões em financiamentos de bancos públicos. Mas e a Amazônia? Onde está o investimento equivalente em quem mais precisa?
Cidades em Adaptação, Florestas em Espera
A adaptação urbana às mudanças climáticas é urgente. O ano de 2024 registrou 58 desastres climáticos no Brasil. O custo da inação é trilionário: estima-se um déficit de mais de R$ 1,5 trilhão por ano. Mas também há retorno: cada dólar investido em adaptação gera mais de US$ 10,50 em benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Mesmo assim, as florestas não urbanas seguem esquecidas. O planejamento urbano integrado avança, mas o rural amazônico continua sem luz, sem voz e sem vez. A justiça climática exige equidade territorial. Não há desenvolvimento sustentável com ênfase apenas nos centros urbanos. As bordas precisam de luz. Literalmente.
O Papel do Crédito Público: A Quem Serve?
Em 2024, o Sistema Nacional de Fomento (SNF) respondeu por 98% das operações de crédito dos municípios. A Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), que articula os bancos públicos, destinou R$ 472,7 bilhões a projetos da Nova Indústria Brasil (NIB). Desse total, apenas 9,3% foram para descarbonização e bioeconomia – e dentro desse pequeno percentual, ainda menor é a fatia dedicada à Amazônia.
Caminhos para a COP e para o Brasil Profundo
O 10º Fórum do Desenvolvimento da ABDE, em 2025, será espaço importante de articulação com foco na COP 30. Mas a pergunta que ecoa da floresta para o mundo é simples: qual a prioridade do Brasil? Ser vitrine internacional da transição energética ou redentor das suas dívidas internas de cidadania?
Investir na Superação da Pobreza Energética na Amazônia
Investir na superação da pobreza energética na Amazônia não é apenas uma escolha estratégica. É um imperativo moral. O futuro sustentável não pode ser um privilégio dos conectados. Ele será coletivo – ou não será.
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