Manaus, 20 de novembro de 2025

Bioeconomia, ocupação sustentável e distribuição de benefícios na Amazônia

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“Conhecer projetos e programas locais são ações que dependem tão-somente de nós. Eles tremulam a bandeira da Bioeconomia e da diversificação inovadora em todos os níveis, a geração sustentável, tecnológica e promotora do desenvolvimento social e da diversidade econômica. Este é o passo seguinte a ser dado a favor de nossa gente, a diversificação produtiva. É sem dúvidas, nosso melhor caminho, e nosso melhor desenho de ocupação inteligente da Amazônia.”

A pauta do momento é manter e distribuir os benefícios da economia da Zona Franca de Manaus, um arranjo fiscal bem sucedido apesar de governado à distância pela incúria federal secular. Uma política de Estado gerida, frequentemente, por pessoas – algumas bem intencionadas e outras alopradas – que não conseguem decifrar este enigma em forma de tesouro monumental, quase sempre tratado da maneira mais tacanha. É hora de ensaiar a virada. E inverter a chave essa ocupação. Além da Indústria aqui instalada, o que falta para implantar a alternativas adicionais como a Bioeconomia e os serviços ambientais precificados na ótica geração de benefícios regionais?

Primeiro é preciso mudar a estrutura mental e conceitual nativa na direção de manter e expandir a distribuição dos benefícios em favor da população local e regional, de acordo com o mandamento constitucional, de reduzir as desigualdades regionais.  São séculos de benefícios protelados por força da ocupação e gestão atrapalhada, posto que a lógica do saque é saquear e virar as costas. Chegou a hora de trabalhar apenas para a União gastar. E gastar mal.

O que temos a oferecer como lógica de negociação?  Vamos começar pelas moléculas vitais do oxigênio e pelo acervo imensurável de água, que propiciam, a partir da floresta, os preciosos e, até aqui, gratuitos serviços ambientais. Quando vamos monetizar e operar ações em favor de quem tem guardado até aqui este tesouro incalculável no modo 0880?

Bioeconomia

Reprodução Bioeconomia FEA-USP

Alguns rios da Amazônia, praticamente, geram toda a energia hidroelétrica que abastece a capital paulista, mas a população local paga as taxas mais caras do país. Que vantagem a população leva? Este modo de abordar o bem natural pereniza a pobreza a mantém a distância da Amazônia dos locus de decisão. A União Federal não é o governante. Ele não passa de um servidor do povo.

A posição administrativa preferencial de alguns governantes é ficar de costas e de cócoras para quem aqui vive. Ou é justo confiscar um bem natural de uma região tão empobrecida como a Amazônia? Por que não ajustar essa lista memorial de iniquidades, a imoralidade organizada, por força da Lei, seja a Constituição federal, sejam as cortes internacionais.

Celebramos há pouco os 56 anos da Zona Franca de Manaus, anos de prestação de serviços, de classe mundial, para todos os lares do Brasil. Com uma fatia de contrapartida fiscal, menos de 8% do bolo de incentivos do país, Manaus consegue fabricar itens de excelente qualidade a preços acessíveis. Geramos mais empregos no Sudeste do que na região, e mais impostos do que quase duas dezenas de estados da federação. Como fazer para direcionar o jato do bem estar econômico e social em nossa direção?

É preciso uma decisão política, da polis diretamente envolvida, e trabalhar na direção dos interesses dos nativos e dos chegados comprometidos. Isso implica em ter noção do que podemos fazer com os insumos da biodiversidade e da geodiversidade. Os astutos, há tempos, já descobriram e tem operado, muitas vezes com chancela oficial, e da pior forma. A tragédia humanitária Yanomami é a ponta de um iceberg centenário de desconexão e negligência. Basta de fingir que não vemos e sentimos na pele a sequela desse conformismo.

Multidão de pessoas

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Créditos: Condisi-YY/Divulgação

Mas o País das Águas e das Amazonas tem jeito e como tem. Temos um novo clima de boa vontade a aproveitar. Só temos que pensar de maneira integrada, conectada por inteligência natural e visceral, de quem sabe as vantagens de trabalhar com metas de quem sabe aonde ir, ter métricas e monitoramento de resultados. Que tal começar pelo inventário do que está rodando, dos projetos que estão dando certo?

Com 70 anos e com um acervo de estudos e coleção de espécies que levariam ao delírio os mega-laboratórios farmacêuticos, dermocosméticos e nutracêuticos dos países desenvolvidos, o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, está entregue à penúria de recursos de toda ordem, humanos, financeiros e tecnológicos. Resta a teimosia de seus cientistas e bolsistas. Ali estão adormecidos vários ovos de Colombo esperando que a tribo os coloque em pé e a serviço geral.

Desde 2001, por pressão dos empreendedores locais, foi concluída a instalação do Centro de Biotecnologia da Amazônia, um ensaio de diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus na direção das populações locais e tradicionais. São mais de duas décadas de faz que vai mas não vai. A pergunta, portanto, não pode calar, pois a chave precisa virar. 

E quais são os elementos dessa operação? INPA, Ufam, UEA, mantida pela Indústria da ZFM, Embrapa, e demais institutos regionais de pesquisa e desenvolvimento, bioeconomia e tecnologia da informação e da comunicação, empreendedores e trabalhadores nas diversas áreas, todos, há anos, estudam os caminhos da diversificação e da transformação, o sinônimo da redenção regional.

Conhecer projetos e programas locais são ações que dependem tão-somente de nós. Eles tremulam a bandeira da Bioeconomia e da diversificação inovadora em todos os níveis, a geração sustentável, tecnológica e promotora do desenvolvimento social e da diversidade econômica. Este é o passo seguinte a ser dado a favor de nossa gente, a diversificação produtiva é, sem dúvidas, nosso melhor caminho, e nosso melhor desenho ocupação inteligente da Amazônia.

II

Produção de semicondutores na Amazônia: 10 razões para acreditar

E o que significa voltar a produzir, em Manaus, um componente tão precioso como semicondutores? O que temos a oferecer, logística tupiniquim à parte, recursos humanos já treináveis, ou facilmente qualificáveis, para a missão e miríades de talentos de toda ordem. E o mais importante: experimentar essa alternativa singular e sustentável da produção industrial no coração da Amazônia, que não separa economia e ecologia, há 56 anos.”

No auge da pandemia, com a desarticulação da cadeia asiática de suprimentos, o Polo industrial de Manaus, em tempo recorde e de desesperança, azeitou sua capacidade industrial instalada. O que poderia ser feito para salvar vidas – e proteger profissionais da saúde na frente de combate ao vírus – foi feito. Descobrimos que Manaus sabe criar soluções mais do que imaginávamos. E quando se agravou a crise de suprimentos para a indústria, uma pergunta não pôde calar. Por que não apostar na produção de semicondutores – o componente mais cobiçado pela indústria mundial – no coração da Amazônia.

Além de oxigênio, água e oportunidades, por que não produzir e distribui o chip verde? Mais do que gargalos tecnológicos universais, estamos diante daquilo que se chama vontade política. Vamos, portanto, listar alguns itens dessa utopia, lembrando sempre que o termo utopia, nada mais é do que uma realidade que é possível antecipar.

1 Nos anos 90, quando alardeávamos o fato da Zona Franca de Manaus abrigar o maior polo de eletroeletrônico da América Latina, já sabíamos fazer semicondutores, os famigerados chips daquele tempo, que era chamado de circuito integrado. Os tempos mudaram, mas a habilidade de aprendizagem nativa permaneceu.

2 O país talvez não saiba que os primeiros celulares fabricados em território nacional saíram do Polo Industrial de Manaus. Empresas como a Nokia, LG, Samsung, Sharp, Cal-Comp, CCE, Microsoft, entre tantas outras, aqui vieram desenvolver suprimentos destinados, sobretudo, ao portentoso polo eletroeletrônico, um movimento que a indústria asiática esvaziou

Uma imagem contendo edifício, estrada, trem, pista

Descrição gerada automaticamente

Vista aérea da fábrica da Samsung em Manaus (Foto: Divulgação)

3 Em 2010, com sede inicial em Porto Alegre, foi instalado o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada, para desenvolvimento e fabricação de semicondutores/chips eletrônicos. Por falta de adesão da indústria nacional, na onda de esvaziamento dos programas de C&T&I, o Ceitec quase foi extinto, ou vendido em troco do atraso.

4 No último dia 8 de fevereiro, no âmbito do ministério da CiênciaTecnologia e Informação, foi criado um grupo interdisciplinar com dupla tarefa, revitalizar o Ceitec e colocar em prática, em caráter emergencial, uma politica de desenvolvimento de semicondutores no Brasil.

Cidade com prédios

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Foto: Bruno Domingos

5 Entre as sequelas da pandemia, plantas industriais de todo país, particularmente, fabricantes de smartphones, automóveis, computadores, drones, aviões e sistemas militares, foram obrigadas a paralisar total ou parcialmente sua produção, por escassez de componentes eletrônicos, principalmente os semicondutores. Algumas deixaram o Brasil e outras ainda se debatem com problema. É hora, pois, de virar a chave.

6 O assunto foi destacado no encontro entre os presidentes Lula, do Brasil e Biden, dos EUA no mês passado, o que nos permite especular que no toma-lá dá-cá, a Amazônia e semicondutores, em algum momento, cruzaram seus destinos. Até porque, na guerra industrial entre EUA X China, os países do continente americano oferecem vantagens competitivas adicionais que poderão favorecer a indústria brasileira.

Homem de terno e gravata ao lado de cortina azul

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7 Os primeiros resultados começaram a aparecer. Uma delegação de empresários americanos, com a presença de um representante do governo Biden, desembarcam nesse início de mês no Brasil. É importante assinalar que o Polo Industrial de Manaus conta com diversas empresas americanas, todas participantes do PPA – Parceiros pela Amazônia, patrocinando startups de Bioeconomia e de impacto social, uma iniciativa da Embaixada dos Estados Unidos, que teve apoio do CIEAM. E ademais, os EUA são um dos principais importadores dos produtos da Zona Franca de Manaus.

8 Entre as iniciativas, já encaminhadas pelo MDIC, está uma medida provisória para redimensionar a Ceitec, a redução de tributos, flexibilização burocrática para importação de matéria-prima e programas de treinamento bilateral para profissionais do setor.

Produção de semicondutores na Amazônia: 10 razões para acreditar

9 Da parte do EUA ainda, foi criada a Lei dos Chips, que inclui fundos bilionários de US$53 bi, do governo americano, para qualificação e produção de semicondutores. Aqueles que aderirem a esses fundos, incluindo os parceiros do continente, não poderão participar de qualquer joint-ventures envolvendo empresas da China. Diplomacia àparte, esta é uma oportunidade que não pode ser descartada. Quem sabe, um discreto percentual dos créditos de carbono, produzidos no quintal de nossa casa, não esteja buscando caminhos de benefícios para os habitantes da Amazônia.

10 E o que significa voltar a produzir, em manaus, um componente tão precioso? O que temos a oferecer, logística tupiniquim à parte, recursos humanos já treináveis , ou facilmente qualificáveis, para a missão e miríades de talentos de toda ordem. E o mais importante: experimentar essa alternativa singular e sustentável da produção industrial no coração da Amazônia, que não separa economia e ecologia, há 56 anos.

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