Continuação…
CANÇÃO DA MANHÃ
Chuva doce da madrugada
É mais a imagem de um bom sonho
Mais acolhedora é a cama
Do teu carinho onde me ponho.
A lua esconde-se atrás das nuvens
Fica dormindo no infinito,
O sol acorda bem mais claro
E deixa o dia mais bonito.
Mas vem Caronte em sua barca
Meter seu remo no meu rio
Sinto que aí vai a minhalma
Mais do que o meu corpo vazio.
Vejo que dormes a meu lado
E estás ali sempre sonhada
Só nos meus sonhos de carinho
Da chuva desta madrugada.
(2/03/2020)
5 HAICAIS
1
O dia das mães amor
é todos os dias
E os filhos sabem.
2
Quintal de fazenda: para não perder o jeito
o galo gala a galinha
e preserva a vida.
3
As garças voam manhã de abril
deixam as imagens
impressas nas árvores.
4
Urubus ao vento competitividade
disputam o vôo
com um helicóptero.
5
É o reflexo do sol manhã de verão
ou uma garça pousada
sobre as árvores?
(de 10/05/2020 a 16/07/2021)
UM EXAME CORDIAL DE RESSONÂNCIA
Um peixe mergulhado nas águas do rio
e dentro dos cardumes, contra a solidão,
onde aparece o sol nadando como um peixe,
no fundo de um perau chamado coração.
Um peixe nos abalos sábios das tormentas
que só sabe chegar com alguém de igual saber,
um peixe nos remansos, ágil como um pássaro
que no embate dos ventos vai sobreviver.
A máquina é manobrada lenta como um remo
nas águas enganosas presas nessa história
que só um remador do rio sabe contar,
tal como o pai contava nas noites do tempo
da casa de madeira em nossa vida sóbria,
um belo peixe livre e pronto pra nadar.
(3/07/2020)
COMO NASCERAM OS TAJÁS
O jovem índio sonhou
E com tajás acordou
Tajá do bom caçador
Tajá do bom pescador
Tajá que oculta do grito
o índio de mau espírito
Tajá protetor da guerra
e do cansaço da pesca
Tajá que resguarda sãos
de conflitos os irmãos
Tajá dos homens queridos
das mulheres preferidos
Tajá das mulheres belas
do amor que venceu a morte
assim os tajás nasceram
dos sonhos de um homem forte.
(6/07/2020)
VIDA NOVA
Essa verdade antiga é velha como a serra:
os pássaros voaram, feitos para voar,
no pouso eles fincaram os dois pés na terra
e voltaram às nuvens para aprender com o ar.
Foram ao céu buscar a força das estrelas,
a grandeza do mundo e a dimensão dos ventos
que os faz bem diferentes com o bem de tê-las
renovando na vida o dom dos sentimentos.
Não recusam a rara herança do passado
recente quando a casa pronta os abrigava
e aquecia na cama o sonho aconchegado.
Tudo ficou pra traz no céu onde voavam
e enfim vão navegar num ar desconhecido
mas cheios de esperança no ninho onde
{estavam.
(15/07/2020)
MANHÃ NA PISCINA
O ar da floresta é bem um alimento,
tem o sabor encantado das folhas
filtrado entre os seus galhos pelo vento.
Logo sentirei fluir no meu dia
a funda aspiração que me faltava
para que a vida seja de alegria.
Mergulho n’água e bóio do mergulho
mais leve que as espumas de um remanso
vogando em seu caminho sem barulho.
Mais novo irmão das aves e dos peixes
vou relembrando cheio de humildade
as breves ondas que nas águas deixes
tempo em que eu era asas em revoada
dos pássaros despertos que voavam
nos rumos de uma nova madrugada.
(7/03/2020)
HIDROGINÁSTICA
Ao Alan
O azul da piscina
com o azul do céu
rima.
O rio que reina
com as águas negras
rima.
A chuva bem fina
com a cor das nuvens
rima.
A bênção mais linda
no galho de flores
rima.
O som que se anima
com o dom das águas
rima.
O azul na piscina
com o sol da manhã
rima.
(11/03/2020)
Continua na próxima edição….
*Poeta e ensaísta. Membro da União Brasileira de Escritores do Amazonas da Academia Amazonense de Letras do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
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