Manaus, 20 de junho de 2025

Cancioneiro da Lili

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Continuação…

GARÇAS NA CHUVA

As águas lavam a terra
e as garças pousam nas árvores,
chove agora todo dia
chove das manhãs às tardes.

As águas lavam a terra,
uma garça lá em cima
contempla o verde na chuva
com seu jeito de rainha.

As águas lavam a terra do
lixo de tantos danos
no mundo cheio de garças na
beira do rio pescando.

Vi as garças bem de perto
vi que não eram de pedra
eram de sangue e de penas
alvas que limpam a terra.

(16/03/2020)

UM CÃO NA MADRUGADA

Ladra um cão abandonado
na madrugada,
cai uma chuva fininha
e o cão não cala.

Não guarda a porta do dono
o pobre cão,
guarda o barulho da porta
da solidão.

Não tem lençol sua cama
só pedra dura,
ladra o cão abandonado
solto na rua.

Com o latido do cão
quase apagada
abro um livro mas não leio
nem uma página.

O sono vem e me entrego
ao que faltava,
um mergulho no silêncio
das águas da alma.

Quando menino o meu cão
não me deixava,
era o meu melhor amigo
e anjo da guarda.

O cão parou de latir
e no meu sonho
ele desperta espantado
um novo mundo.

(19/03/2020)

AS NORMAS LEGAIS

I

As leis nascem dos gritos dos aflitos
e os poetas escrevem essas leis,
legislam sobre os fatos do invisível
desde o tempo das tábuas de Moisés.

Limpa o profeta no monte Sinai
a bobagem de Adão e a árvore de Eva,
aos amigos que os homens são livres
e o mundo de Deus vivia nova era.

A lira de Davi e sua dança
livrou das sombras a Arca da Aliança.

II

A lei agora é do homem da Amazônia
do largo rio e o Paraná de Serpa,
da alagação três noites e três dias,
tempo de sol fechado e chuva aberta.

Das várzeas invadidas pelos rios
definindo o melhor do que se possa,
dos cardumes de peixes no jardim
um mundo bem melhor em nossa porta.

Sono cheio dos sonhos de bonança
de uma vida fundada na esperança.

III

Revelar o silêncio das palavras,
onde medra o valor da sua essência,
a essência da definição do bem
vencedor das antigas desavenças.

Atrapalham o sucesso da vida
os nós das ambições bem amarrados,
na ilusão do poder e na miséria
guardada nos porões de muros altos.

Abarrotada de ouro sem sentido
do fato que só vale bem vivido.

IV

Humilde se te peço alguma coisa
vou caminhando desde a madrugada,
vi no infinito límpido as estrelas
e o silêncio da vida na noite alta.

Brilha a lua no espelho do rio Negro
e vai até que chegue a manhã clara
e traga as suas normas de esperança
bem escritas das mãos até os pés

as leis cheias dos gritos dos aflitos
desde o tempo das tábuas de Moisés.

(24/03/2020)

MANHÃ DE DOMINGO

Abro o livro à procura do meu poema preferido.

Nem bem abro o livro
outro livro se me abre com as páginas do rio
{ Negro
o rosto velho e sempre novo,
amigo dos dias de paz,
sereno como um espelho de princesa
ou rabugento como os duros vendavais.

No domingo do nosso permanente verão
as águas brilham na prata dos talha-mares
dos iates barcos jet-skis
das manobras marinheiras com os seus batéis
aparando do ar os pára-quedistas
deitados n’água como flores de aguapés.

Leio no rio os meus poemas preferidos.

(14.09.2020)

Continua na próxima edição….

*Poeta e ensaísta. Membro da União Brasileira de Escritores do Amazonas da Academia Amazonense de Letras do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

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