Manaus, 11 de dezembro de 2024

Cancioneiro da Lili

Compartilhe nas redes:

Continuação…

ROMANCE

O amor permanece o mesmo,
a filha e a mãe no portão
conversam sobre o carinho
com uma rosa na mão.

Na manhã de um belo dia
deixaste um recado raro
num bilhetinho singelo
no para-brisa do carro.

No final de todo dia
a gente ficava junto
ouvindo o som de um piano
e nunca faltava assunto.

Com seu diadema de luz
a noite vinha soberba,
surgias simples e bela
com teu sorriso de estrela.

Agora o que vejo brilha
todo dia e toda noite,
nos sonhos da minha vida
és sempre a mesma que foste.

(28/09/2020)

SUGESTÃO

Para vencer a rotina
mudem-se os móveis da sala
de lugar não de modelo
porque toda moda passa.

Frigideiras copos pratos
mexa no tom da cozinha,
gesto humano que renova
a vida contra a rotina.

Use se você é destro
com cuidado a mão esquerda
nos afazeres do dia
se está cansada a direita.

Lide-se em olhar o mundo
nos avessos da paisagem
se você está exausto
de ver sempre a mesma imagem.

Enfim lhe sugiro andar
de olhos abertos a tudo
sempre existe um jeito novo
de viver no velho mundo.

(13/10/2020)

CANÇÃO DA LUA CHEIA

A lua cheia chegou linda
bem cedo ainda ao fim da tarde,
antes batia a ventania
rugindo nas copas das árvores.

O vento uivava cão feroz
varando as frestas das janelas,
nem parecia que era a lua
branca no céu que se fizera,

como se em vez da noite escura
anunciasse a madrugada
e no lugar do sol parasse
a sua face iluminada.

Ah, lua, lua das seis horas,
cantam ainda os sabiás
e no infinito as raras nuvens
cessam seu jeito de voar.

Com sono as heras já cochilam
em suas camas sobre os muros
e longe escondem-se as corujas
na escuridão dos seus refúgios.

A lua cheia lá bem alta
depressa vai buscar o dia,
se recompõe nos céus da noite
sobre a floresta adormecida.

Agora sim, é madrugada
e recomeça a nossa vida.

(31/10/2020)

PEQUENA FÁBULA

A Geraldo Gadelha

O vento tirou do ninho
o pequeno sabiá,
sem abrigo a criaturinha
ficou jogada sem lar.

Um bom homem apanhou-o
e o acolheu em sua casa,
fez-lhe uma cama de plumas
e uma gaiola de graça.

O pequeno sabiá
ganhou penas e o bom homem
ensinou-o a voar.

Um dia ele foi embora
pra seu lugar na floresta
e o homem ficou feliz
por ter salvo o sabiá.

À noitinha ele voltou
tal como fez noutras noites
para dormir na gaiola,
o seu antigo lugar.

Quando a gente encontra amor
uma gaiola é um lar.

– Feliz Natal!

2020

RECORDAÇÕES

I

A paz no silêncio da noite
é a palavra mais viva,
tem o calor de um colo
de mãe.

É a palavra cordial
como a brisa perfumada
quando a nova madrugada
já vem.

II

É uma bênção a paz,
é a luz da aurora
com o calor intenso
do amor.

Foi o maior encanto
lembrar o momento
do nosso primeiro
encontro.

(7/02/2021)

O RIO EM FRENTE

Gosto de estar comigo mesmo,
não tenho medo de mim
nem do rio Negro
na serena face como está hoje.

Eu teria de ter medo de mim
se fosse como o rio Negro lá no fundo,
porque eu conheço os meus peraus
mas não conheço a fundura do rio,
nada sei das feras que moram lá
das lendas que nasceram lá,
porque eu só conheço
a bela face desse rio como está hoje.

Quanto a mim eu só admito o medo que há em mim,
as criaturas de natureza mais adversa que conheci,
os viajantes de canoa a vela
como o meu pai,
aqueles que precisavam de vela para navegar
e não eram o meu pai,
mas navegavam
tão bem como o meu pai
e me mostraram os caminhos da floresta tal como me ensinou meu pai.

Por isso não lamento a minha vida
por mais que a vida me impressione
nos seres que se entregam à dor
e se esquecem do sonho das viagens,
dos jardins das cidades por onde andaram,
das flores
do perfume das flores
e do amor.

(7/03/2021)

Continua na próxima edição….

Views: 2

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques