Manaus, 16 de setembro de 2024

Cancioneiro da Lili

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Continuação…

MÃOS DE TRIGO

É festa e tempo de celebrar os amigos,
Lili faz pães com o bom trigo das padeiras,
tempera e cose a massa com o sal do afeto e o
calor do carinho humano que não cessa.

Tece as cestas de pães com papéis coloridos, arma
grandes laços de fitas nos afagos,
a casa se enche com as cores da alegria
e as bênçãos do Natal, do Ano Novo e da Páscoa.

Escolhe com carinho as cores das mensagens, os
cartões precisam ter insígnias das festas
aquelas que dominam o seu coração
e se expressam nos gestos do amor mais claro.

E lá vai ela na cidade iluminada
em que todos levam aos seus uma lembrança,
vai levar aos amigos um gesto de amor
das mãos de trigo abrasadas de esperança.
Páscoa de 2015.

ANÚNCIO

Sua voz é sempre alegre
desta vez está feliz,
notícia de mais um neto,
– mas ele é lindo, ela diz.

Vai ampliar o plantel
do nosso afetivo exército,
vem ao grupo de combate
mais uma força de afeto.

A imagem da sua fala
nadava como no mar
e pousou no coração
jamais cansado de amar.

Mais uma trave no amparo
dos alicerces do lar.
(1/10/2017)

BRAÇOS QUEBRADOS

Lili de uma queda foi ao chão,
acudi para ajudar
ela pediu que eu esperasse.
Rachou a cabeça do úmero
do braço esquerdo que é o melhor.
Reduziu os movimentos.
O braço se imobilizou.
Lili não pôde mais concluir a festa do neto
parou com os enfeites do Natal
não podia mais fazer comida.

Ficamos de braços quebrados.
(10/11/2017)

TRÊS ÍNDIAS

Recordo aquela viagem ao rio Andirá.
A aldeia dos índios Maué
nas águas escuras amanhecia.

Três jovens índias sorrindo
cochichavam segredos.
Lili sorriu.

As três índias sorrindo
trazem três laranjas numa cuia
e oferecem à Lili.

Lili olha ao redor no intuito de ver
uma lembrança na manhã do rio Andirá
para oferecer àquelas três mocinhas.

Não pararam de sorrir
no segredo guardado entre elas quatro,
como se a prenda fosse aquele sorriso.
(28/11/2017)

VELHO ORATÓRIO

A cruz do Cristo retorcido
pregado na madeira velha
salvou dos temporais o sítio.

Faíscas vinham das profundas
nuvens abertas sobre as árvores,
seringueiras e sumaúmas.

Recendia cheiro de mato
mesmo embaixo das grandes chuvas
queimado no fragor dos raios.

A mãe queimava palha benta
e rogava ao Cristo de chumbo
que iluminasse a noite intensa.

Enfrento de novo o mau tempo
aos braços da cruz de madeira
na imagem que guardei comigo.

Lili me olha e vê que eu existo
na devoção ao mesmo Cristo.
(13/11/2017)

TOADA PARA O MEU BOI

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Nuvens negras se aproximam
vem chuva com vento bravo,
a chuva molha a roseira,
o vento desfolha o cravo.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Toda noite quando escuto
um trovão com seu tremor,
não é chuva nem é vento
é meu boi com seu tambor.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Meu boi chega e balanceia
no meio da trovoada,
escuto um trovão à porta,
é a voz da vaquejada.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Pai Francisco não tem medo
de nada que venha d’água,
os relâmpagos refletem
no gume da sua faca.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Curumins e cunhantãs
se aprontam para dançar,
o meu boi dança na chuva
e nas noites de luar.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

O contrário é boi medroso
não gosta de chuva e vento,
o meu boi não teme nada
nem a dor do pensamento.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Na chuva chegou a cobra
a cobra sucuriju,
fiz-lhe do couro pandeiros
com armações de bambu.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Vem pra cá linda morena
vem domar meu boi zangado,
vem dançar no meu terreiro
com o meu boi encantado.

O coró-coró cantou
– olha a chuva… ele avisou.

Suplico a Virgem do Carmo
como em gesto de oração
que meu boi sempre renasça
dentro do meu coração.

A chuva cai na roseira,
é a rosa da canção.

(Escrito a quatro mãos com a Lili,
em 23.07.2018.)

Continua na próxima edição….

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