Manaus, 3 de dezembro de 2024

Cancioneiro da Lili

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Continuação…

ALMOÇOS DE DOMINGO

Lili põe à mesa um montão de comida
como se fosse receber um time de futebol.
Reclamo por seu trabalho na cozinha.

Ela me olha e me ensina que é assim mesmo,
os filhos e os netos manifestam muitos gostos
e é preciso que eles tenham um bom domingo.

O espírito se alegra quando o paladar
____________________{agradece

e o coração bate cheio do bem que não se
_____________________{esquece.

(19/06/2018)

NOITE DE TEMPORAL

Com o vento vem a chuva
fica a floresta agitada
acordam no escuro as árvores.

Entre as frestas das janelas
entra o vento com seu canto,
coral do medo e do espanto.

– Socorrei-me anjo-da-guarda
“minha doce companhia”,
na oração minhalma grita.

Lili dorme e não acorda
com o rumor dos tambores
rufados dentro das nuvens.

De repente faz silêncio,
os relâmpagos se apagam,
cessam os ventos e a chuva.

Chega o sono indiferente
às dores de agora a pouco
e chove a paz sobre o mundo.

Os males foram nos ventos,
na chuva os maus pensamentos.

(28/07/2018)

VELHOS AMIGOS

Lembremos, Lili, os nossos bons amigos,
os colegas do colégio onde aprendemos
a lidar com os sonhos da juventude,
a dor do ciúme e o generoso abraço.

Nesta manhã de setembro após o tempo
feio e cortado dos relâmpagos de ontem,
pressinto que os amigos inseparáveis
jamais nos abandonarão no caminho.

Muito melhor estaria se estivessem
ao nosso lado saboreando o vinho
de tudo o que é sem lógica e desconexo
mas aquece bem lá dentro o coração.

Onde estariam hoje os nossos amigos
se jamais eles ficaram tão distantes
de nós, na fragilidade magoada
dos sons iniciais dos melhores sonhos?

CHUVA DE VERÃO

Do chão sobe o cheiro
de terra molhada,
a floresta cheira
de rosa de água.

As chuvas de longe
tecem rendas brancas,
chuviscos torcidos
molham as varandas.

Abranda o calor
no ardor de um minuto,
no rio o sol bate
faz ondas o vento.

As flores das árvores
exalam beleza,
na ponta dos galhos
a vida começa.

Lili nem se intriga
e tudo arredonda,
nas formas da chuva
que a vida retoma.

(30/09/2018)

CHUVA INESPERADA

Olha Lili, a fumaça abriu fogo,
faíscas das coivaras na floresta,
a cidade ameaçada se retrai,
o silêncio das aves nos alerta.

Onde andam as brigadas contra incêndio
que apagavam na cidade as queimadas?
Na terra devastada morre o mundo
e morrem as abelhas operárias.

Os espaços se mudam em pastagens
e sem árvores nascem os desertos,
vasta planície convertida em cinza
vida tragada por ares maléficos.

Enfim chegou a chuva inesperada,
é outubro e elas vem só em novembro,
lavam o ar das fuligens venenosas
e livram nossos dias desse assombro.

Fica a luz sem apelo ameaçada
até que a chuva dissolva a fumaça.

(12/10/2018)

UMA TARDE

Em novembro as tardes são azuis
O verde da floresta é mais amigo

Lili olha e me chama para olhar
A tarde azul com reflexos de verde
Cheia do calor aberto da Amazônia
Onde a floresta é mais rica e mais clara

Exala no ar o perfume das roupas
Enxugando nos varais da varanda
Iluminada pelo azul da tarde
Nas cores brandas da floresta calma

Os açaizeiros exibem os cachos fartos
Do alimento das aves voando ali perto,
As árvores abrem no seu topo as flores
Alvas como as ondas de um rio aéreo

Lili me chama para olhar a tarde
No azul e verde do mês de novembro.

(10/11/2018)

QUALIDADE DE VIDA

Um escritor brasileiro
em busca de paz para escrever um novo livro
recolhe-se ao seu apartamento de Paris.

Um pianista patrício
no preparo dos programas mundiais
abriga-se no seu estúdio em Haia.

Lili me indaga:
– mas você jamais saiu daqui
– para escrever os seus livros.

Respondo a Lili.

– Ah, mas nós vivemos na Amazônia
– às margens dos grandes rios
sob a sombra da grande floresta
no primeiro mundo.
Somos uns privilegiados.

E rimos os dois.

(28/11/2018)

Continua na próxima edição….

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COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques