Durante os 30 anos em que esteve no Amazonas, pequenos espaços de tempo permaneceram na sua farmácia.
O Doutor Carlos Studart nasceu em Fortaleza, Ceará no dia 28 de março de 1862. Filho de John Willian Studart, um cidadão inglês que imigrou para o Brasil quando tinha 11 anos de idade, tendo criado raízes no Brasil por toda vida e se dedicado ao comércio.
[…] John Willian Studart casou-se com uma brasileira e segundo o professor Agnello Bittencourt seus filhos orientados pelo pai tornaram-se homens notáveis nas ciências, nas industriais e no comércio, destacadamente Guilherme Chambly Studart, de renome continental pelos seus grandes serviços à cultura e à humanidade, mas, conhecido pelo distintivo honorifico de Barão Studart.
Fonte: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro. Editora Conquista: 1973. Pg. 156.
Carlos Studart ficou órfão de sua mãe aos cinco anos de idade. Seu pai logo reconstruiu sua família casando com sua própria cunhada, senhora Augusta de Castro Studart, ela ficou responsável pela educação do sobrinho e enteado, vale destacar sua dedicação e carinho como madrasta, dedicando-se a ensinar-lhe as primeiras letras.
Adolescente ainda, Carlos Studart comunica aos pais que desejava começar a vida trabalhando no comércio. Obtém permissão para seguir rumo a Pernambuco sob a orientação do cônsul inglês em Recife. Tendo chegado a Recife consegue emprego de uma firma que comercializava com fazendas e tecidos. Vale a pena lembrar que neste período, o primeiro emprego de um jovem em um estabelecimento comercial, era de cacheiro – vassoura, fosse ele filho de um pobre ou de uma família que possuísse bens, naturalmente recebia o mesmo tratamento com rigor, conquistando a confiança logo foi promovido a cacheiro graduado, abandonando o espanador e a vassoura, porém, fazia as entregas na cabeça de grandes compras a pé pelas ruas. Na verdade, foi o início de sua vida profissional.
A partir desse momento seu trabalho consistia em manter a casa limpa, fazer as entregas dos clientes ou em outras casas comerciais. Carlos, que era um moço franzino não reclamava de seu trabalho, nem o peso das mercadorias que entregava quase sempre em longas distâncias. O regime era duro, em contraste com o trato na residência de sua família. Essa experiência lhe tinha sido adversa, porém, acendeu em sua alma a explosão de uma revolta e amor na busca de sua independência.
Com o passar do tempo resolve regressar ao convívio da família, não como filho pródigo, mas cheio daquela experiência que lhe transformou em uma lição, assim, foi indescritível a alegria que seus pais o receberam em casa.
Os tempos mudaram neste momento os negócios de John Willian Studart já não iam bem levando-o quase a falência. Hábil Timoneiro torna a adversidade pondo em ação os destinos dos negócios. No decorrer do tempo ocorre o falecimento do chefe John, a 20 de fevereiro de 1878, ainda muito jovem com 59 anos.
Carlos resolve transferir-se para a Bahia, em cuja Escola de Medicina seus irmãos acabavam de concluir suas formaturas. Sua permanência ali, criou um forte desejo de estudar e realizar seus preparatórios para o vestibular. Carlos era um jovem sonhador e logo desperta a ideia de seguir a carreira militar, então viaja ao Rio de Janeiro, a fim de entrar na Escola Militar.
[…] Recém-chegado ao Rio – diz o seu filho e biografo, General Carlos Studart Filho – ardentemente desejava alistar-se cadete. Estava, porém, praticamente só naquela grande e estranha cidade, sem apoio, nem amigos que o orientassem, na consecução de seus projetos: os presentes, em cuja, casa-se hospedara, não viam com bons olhos a esdruxula inclinação do moço estudante pela carreira das armas e, por isso, não queriam dar-lhe o auxílio de que tanto carecia. Em tão aflitivo momento, resolveu valer-se do General Osório, então Ministro da Guerra do Gabinete Sinimbu. Procura-se em sua residência e lhe expõe os seus anelos. O velho e benemérito militar ouviu-o com bondade e logo procurou dissuadi-lo desse proposito, fazendo-o ver a insensatez dos seus sonhos e toda a grandeza da pretensão. Havia poucas vagas no modelar estabelecimento de ensino e estas destinavam-se a filhos e protegidos dos altos figurões do império. Ele, um provinciano bisonho, sem padrinhos, nem bons amizades na corte, que poderia esperar? (Meu Pai, pág. 16).
Diante dos fatos, tendo gastos cerca de três anos em tentativas frustradas, Carlos Studart regressa a Salvador e matricula-se na Escola de Medicina – realiza o curso de Farmácia, diplomando-se em 18 de setembro de 1882. Munido do seu diploma, retorna a Fortaleza onde funda a Farmácia Studart, no centro comercial da cidade, a poucos passos da, já então famosa, Praça do Ferreira.
Quando Carlos Studart se retirou de Salvador para Fortaleza, lá deixava um compromisso de casamento com D. Maria Elvira Morais, o que cumpriu, em Salvador, em 1883. Mas, foi um enlace transitório, pois D. Maria Elvira veio a falecer, em Fortaleza, a 12 de setembro de 1884, sem descendentes.
Carlos Studart contrai novas núpcias com sua prima D. Maria da Fonseca Pereira, filha do comerciante Capitão Antônio Joaquim Pereira. Deste ser matrimônio, houve os seguintes filhos: Arthur Pereira Studart, farmacêutico, bacharel em direito, médico e industrial, nascido em Fortaleza a 4 de maio de 1886, e que a 30 de junho de 1910 se consorciou com a prima D. Leonisia da Cunha Studart; Hilda Pereira Studart, viúva do bacharel em Direito, José Maria Corrêa de Araújo, nascida em Fortaleza a 10 de novembro de 1887 e falecida, no Rio de Janeiro em novembro de 1961; Beatriz Pereira Studart, viúva do bacharel em Direito Jose Alves de Souza Brasil, nascida em Fortaleza a 19 de dezembro de 1891 e Carlos Studart Filho, doutor em Medicina e general professor, nascido em Fortaleza a 17 de junho de 1897, casado a 13 de novembro de 1924 com D. Neusa Dinoá da Costa. (Meu Pai, pág. 18.)
Fonte: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro. Editora Conquista: 1973. Pg. 157 e 158.
Foto: Jorge Franco de Sá
Carlos Studart casa-se pela terceira vez com a senhora Francisca Rodrigues das Neves, desse enlace matrimonial nasceu uma filha Emília Studart. Tomando parte nas atividades políticas do Ceará, entrega a gerência da Farmácia Studart a seu irmão e passa a visitar o interior da Província e propaganda partidária e abolicionista que por muitas vezes correu o risco de vida.
Com sucesso de sua farmácia passou a comprar propriedades no sertão, sua campanha política durou aproximadamente três anos, tornando-se conhecido em vários municípios e por fim retorna definitivamente a capital. Não lhe interessavam cargos públicos, em dado momento aceitou a função de Preparador de Química no Liceu do Ceará e naturalmente os trabalhos na Santa Casa de Misericórdia.
Amazônia naquele período tinha uma certa atração e o Nordeste por sua vez era estimulado a emigrar, o que naturalmente motivou Carlos Studart a regressar com a família para Manaus, deixando Fortaleza no dia 4 de junho de 1899, e chegando a Manaus a 12 do mesmo mês. Não era uma imigração forçada e sim voluntária naturalmente com alguns recursos. Sua chegada foi cercada de pessoas acolhedoras e de expressões o que lhe permitiram aumentar a possibilidade de vencer.
Semi-ambientado, sobretudo, no meio da numerosa colônia cearense, cruza o centro da cidade, numa época em que se iniciativa o rush da valorização da borracha. Encontra, na esquina da florescente Av. Eduardo Ribeiro e da Rua Municipal, mais tarde Av. Sete de Setembro, o ponto estratégico para assentar a base dos seus esforços e, aí instala a Farmácia Studart, homônima daquela que fundara e deixara em Fortaleza. Estava montando a cavaleiro para as lutas do comércio e da riqueza.
O estabelecimento vivia abastecido de drogas nacionais e estrangeiras, do que havia de mais moderno e acreditado. A Farmácia Studart não havia mãos a medir nas preferências de uma grande freguesia.
Studart prosperou rapidamente. Sua residência particular enchia-se de conterrâneos. Com a franqueza que lhe era habitual, sua mesa de refeições, máximo nos domingos e feriados, parecia a de um patriarca. E, ele o era espiritualmente.
O irmão do Barão de Studart tinha na alma e no sangue, algo dos seus antepassados, da linha paterna: qualquer coisa de nômade e de aventureiro. E, pela etnia materna, o mesmo fenômeno, traçado pelo atavismo: os nordestinos dizem-se as pessoas mais andejas do mundo. Onde quer que se chegue, nos paramos da China e do Japão, encontram-se filhos da terra de Iracema.
Durante os 30 anos em que esteve no Amazonas, pequenos espaços de tempo permaneceu na sua farmácia. É que seu espírito de direção, na sua ausência, ficava otimamente entregue ao escalão da competência e da lealdade.
“Na gíria popular, era homem que não esquentava lugar”.
Itinerante incansável, Studart derivou repetidas vezes para o velho continente e, entre 1905 e 1911, cruzou, ora só, ora acompanhado da família, doze vezes o Atlântico (Obra cit., 31). Em suas excursões, visitou os países mais adiantados da Europa, não esquecendo as terras em que nasceram os trisavós, os Studart.
Depois da Primeira Grande Guerra, suas viagens também, por várias vezes, eram para o Ceará e para o Rio de Janeiro.
Dentro do Amazonas consta ter feito viagens: esteve no Rio Juruá, até S. Felipe, hoje Eirunepé.
Em 1921, liquidou seus negócios em Manaus e transferiu-se para São Paulo, fazendo-se industrial, manipulando o seu Leite de Colônia, de extraordinária procura. Com este produto de beleza Carlos Studart recheou sua algibeira, em pouco tempo, tornando-se. Parte de sua fortuna, entregou na construção de dois arranha-céus, no Rio de Janeiro, dando a um deles o nome de Manaus, grata lembrança da terra hospitaleira.
Fonte: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro. Editora Conquista: 1973. Pg. 158, 159, 160.
Informações cedidas por Jorge Franco de Sá
Views: 5