Nem parece, mas se passaram cinquent´anos, e tão rapidamente que o peso dos anos não me fez curvar como imaginava, afinal, a tanto se somaram experiências intensas e proveitosas, algumas delas capazes de produzir positivas transformações. Nos primeiros tempos caminhava com certa insegurança, mas, munido da audácia que costuma impregnar os jovens, avancei de logo sob a orientação dos que me acolhiam. Depois, firmando os passos, conheci caminhos mais seguros e a trilha se tornou mais clara, e, apesar de atropelos, os naturais atropelos que se antepõem a qualquer um que rasgue estradas, eis-me a festejar o cinquentenário.
No primeiro dia em que fui vestido com a honraria de que me orgulho, jovem de cabelos aos ombros em sintonia com a minha geração, sob o olhar abençoado dos meus pais e irmãos, apoiado por mãos amigas e fraternas, não vislumbrava as crescentes responsabilidades que me aguardavam.
De volta com o olhar para a trajetória cumprida, o que posso ver é que não deslustrei o nome, a família, os amigos que me confiaram o convite e a condução preliminar, nem as esperanças que em mim foram depositadas como o “benjamin” que ousava varar os umbrais da Casa, quase sem pedir licença, desde o convite fraterno de Francisco Gomes feito na calçada da Faculdade de Direito onde estudávamos, preparando-nos para o bacharelado.
Os encargos a mim atribuídos de logo foram mais pesados do que meus ombros poderiam suportar. Secretário, coordenador de cursos, organizador do museu, secretário geral, vice-presidente e presidente, foram missões cumpridas em longa carreira, com o melhor de mim, depois reconhecidas com os títulos de benemérito e grande benemérito.
Em meu redor, ilustres e ilustrados escritores, professores, cientistas, sábios, quase todos homens porque as mulheres ainda não haviam alcançado o patamar que lhes competia – por direito e para maior enriquecimento das ciências e das letras -, a me permitirem exercer a posição de liderança e a contribuírem com ensinamentos que jamais olvidarei.
As reuniões dominicais eram presididas pela confraternização espiritual que nos unia, e se traduziam em alegres manhãs de domingo, nas quais, depois dos assuntos pertinentes à administração da Casa, aos trabalhos acadêmicos, discursos e conferências, aos eventos que poderíamos realizar, à conservação dos acervos sobre os quais tínhamos responsabilidade, dava-se ágape simples, regado, também e antes de tudo, pelo convívio elegante e lúcido que a estatura moral e a formação intelectual dos convivas permitia.
Os nomes dos que mais frequentavam estes encontros me vem à memória, assim como o olhar de surpresa, de consideração, de aprovação e reprovação que percebia estampado em vários deles diante de situações inusitadas, a maioria dos quais não rompia o silêncio respeitoso resguardado entre pares.
Neste 25 de março de 2023 são completados, pois, cinquenta anos da sessão solene em que, com 21 anos, tomei posse como Membro Efetivo do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, na cadeira do general José Vieira Couto de Magalhães em noite de grande brilho e auditório lotado, ao tempo da presidência do desembargador João Rebelo Corrêa, a bondade personificada.
Nem parece que faz tanto tempo, sinto-me pronto e disposto para novas empreitadas, apesar de setentão.