Manaus, 24 de abril de 2025

Crônicas do Cotidiano: A fúria que vem de Harvard

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A Universidade de Harvard, localizada na Cidade de Cambridge, Estado de Massachusetts, EUA, fundada em 1632, quando o país ainda era Colônia Britânica, é considerada uma das mais prestigiadas do mundo; exemplo de instituição privada sem fins lucrativos e responsável pelos mais importantes resultados de pesquisa e inovação tecnológica. É reconhecida, também, pelos seus mais de 150 Prêmios Nobel inscritos no portfólio de suas honrarias. Não é a mais antiga das Américas, mas tornou-se a sua referência, daí o respeito e até mesmo a veneração que todos têm pela instituição, dentro e fora do país. Por ela passaram os mais notáveis cérebros do mundo moderno, quer como docentes, quer como alunos, dentre eles, nove ex-presidentes da República dos EUA. A única pessoa que faz questão em desconhecer esses atributos e não tem respeito pela instituição é o atual Presidente da República do país, que decidiu de forma imperial, antidemocrática e contrária a Constituição, interferir diretamente sobre a autonomia das Universidades, sejam elas públicas ou privadas, impondo-lhes restrições acadêmicas, invadindo seus campi, prendendo e deportando ilegalmente seus alunos estrangeiros e determinando modos de conduta e de procedimentos na organização acadêmica e pedagógica das instituições. Coisa que nem os ditadores mais afoitos se atreveram fazer pelo mundo afora. O Presidente Donald Trump só não esperava a resposta dessa instituição secular à sua “ordem imperial”, em carta assinada pelos seus dirigentes: “É lamentável, portanto, que sua carta desconsidere os esforços de Harvard, em vez disso, apresente exigências que, em contrariedade à Primeira Emenda, invadem as liberdades universitárias amplamente reconhecidas pela Suprema Corte. Os termos do governo também contornam direitos estatutários de Harvard ao exigir remédios não comprovados e disruptivos para supostos danos que o governo não provou por processos obrigatórios estabelecidos pelo Congresso e exigidos por lei…Assim, Harvard não aceitará os termos do governo como um acordo em princípio”. Resposta que, certamente, encorajará as demais universidades a responderem veementemente às investidas dessa figura estranha que deseja submeter tudo aos seus caprichos.

A situação não é boa para as Universidades. Até bem pouco tempo eram vistas como o espaço do livre pensar, da competência para ousar e descortinar novos horizontes na compreensão do comportamento humano, da discussão das questões sociais universais e do desenvolvimento de todas as potencialidades dirigidas para o bem. A autonomia que lhe é garantida em todos os países democráticos, em nome da tradição medieval que resultou na sua criação protegida por muralhas, exatamente para poder defender-se de intrusos sempre prontos a questionar as suas liberdades em nome de princípios autoritários, religiosos, políticos ou morais. É inadmissível querer uma universidade utilitarista e conservadora se ela nasceu, exatamente, para se colocar sempre à frente de seu tempo, ser farol de inovação e contestação do status quo. Isso não elimina a responsabilidade que uma Universidade Livre tem para com a sociedade que a mantém e a reconhece: ela se fecha para pensar, refletir, produzir a crítica, propor caminhos e soluções possíveis e imprimir nos que por ela passam a sua Alma Mater, abrindo-se à sociedade, em seguida, para entregar, generosamente, o saber que produziu. Poucos entendem isso. No caso brasileiro, as forças políticas e econômicas pensam a Universidade como objeto de seus desejos e, agora, essa extrema direita obtusa vem querendo transformá-la em madraça, haja vista o que foi feito no governo passado quando o MEC foi entregue a delinquentes e às forças do mercado, deixando sequelas de interferência nas Universidades via Conselho Nacional de Educação, de domínios da CAPES e do CNPq e interferências descabidas de Corporações de Oficio como Conselhos, Ordens e outras associações sobre assuntos que não lhes dizem respeito e interferem na formação dos que vão pensar o futuro. Recentemente (dias 10 e 12 de março), a Universidade de Brasília (UnB) foi assaltada por um grupo neofascista de alunos que prometia “ações de limpeza” e erradicação do “comunismo” na instituição. Episódios dessa natureza se multiplicam dentro de universidades públicas com o apoio de instituições externas. Lembrem-se: “A Universidade é o nosso maior patrimônio”!

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