Manaus, 30 de junho de 2025

Cucaracha censurada

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Para se aprender uma língua estrangeira é necessário estudá-la diariamente. E ter, no mínimo, três aulas por semana. Ou seja, 180 minutos de aulas. Pelo menos durante dois anos.

Nas escolas públicas regulares e mesmo nas privadas a língua estrangeira aparece, na grade horária, geralmente duas vezes por semana. Aulas de 50 minutos. 10 minutos para chamada e 10 para acalmar no mínimo 30 adolescentes cheio de hormônios e bagunceiros. Ou seja, temos meia hora de aula.

Com somente uma hora líquida por semana e sem estímulo para estudá-la não se aprende Inglês, nem Francês ou Espanhol.

Na década de 1970 do século passado, a Professora Nilce Galante, então coordenadora de Línguas Estrangeiras da Rede Pública de Brasília, montou o pioneiro Centro Interescolar de Línguas do Distrito Federal. A Professora Nilce teve todo e pleno apoio do então Secretário de Educação e Cultura de Brasília, Embaixador Wladimir Murtinho.

O projeto foi exitoso. Há centros de línguas públicos em todo o Distrito Federal. O DF é a unidade federativa onde há o maior índice de brasileiros bilingues, segundo o IBGE.

Participei desse projeto como jovem professor de Inglês. Ensinava-se também Francês e Espanhol. Toda sexta havia 15 minutos de música, geralmente sugeridas pelos alunos.

Cansados de boleros e tangos uma turma de Espanhol ensaiava a conhecida canção la Cucaracha (“A barata”) . Trata-se de tradicional canção folclórica, do gênero corrido, bastante popular no México . O refrão é bem conhecido: “La cucaracha, la cucaracha/

Ya no puede caminar/ Porque no tiene, porque le falta /Una pata para andar”

Nos anos de 1970 não havia internet. Portanto, não havia a expressão “viralizar”. Mas as coisas se espalhavam boca a boca, em festas, reuniões e encontros. Uma paródia inconveniente para a severa censura vigente e oficial modificava o recorrente refrão para: La cucaracha, la cucaracha/Ya no puede caminar/Porque no tiene, porque le falta/marijuana que fumar.

Mesmo a direção e os professores de Espanhol explicando que só ensinavam e cantavam a versão original, com patas e patitas, a música foi proibida na escola. Não foi pelo STF. Foi pelo DPF. Departamento de Policia Federal.

Com liberação de até 40 gramas de porte da cannabis, inclusive para cucarachas, seria a paródia censurada nos dias atuais? Naquela época censurava-se até as patas da barata.

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