*Aristóteles Comte de Alencar Filho
Em 05 de dezembro de 1905 foi publicado no Jornal do Commercio, de Manaus, um classificado do Doutor Jeronymo Ribeiro que atendia nas farmácias Galeno e Humanitária. Era especialista em febres, moléstias da pele e sífilis, ou seja, infectologia e dermatologia.
Doutor Jeronymo Ribeiro da Costa foi um médico muito influente na cidade de Manaus, durante várias décadas. Em 1910 foi nomeado para exercer, interinamente, o cargo de inspetor sanitário, encarregado do Sanatório Militar de Itacoatiara.
Doutor Jeronymo Ribeiro da Costa em Itacoatiara. Acervo da família da Professora Maria Luísa Freitas Pinto
A família do Doutor Jeronymo mantinha relações de amizade com a família da saudosa Professora Maria Luísa Freitas Pinto. Ele era casado com a senhora Esther Ribeiro, e tinha um casal de filhos: Helena Heloisa Ribeiro e Fernando Ellis Ribeiro, que viria a se tornar um médico famoso na cidade do Rio de Janeiro, nas décadas de 1940 e 1950.
Segundo o meu amigo e confrade, na Academia Amazonense de Letras, Francisco Gomes, nas duas primeiras décadas de 1900, o doutor Jerônymo clinicou naquela cidade, atendendo diariamente na Farmácia Cruz Vermelha, e o doutor Fernando Ellis Ribeiro, depois de graduado em Medicina pela antiga Universidade do Brasil, integrou o Corpo Médico da Polícia Militar do Rio de Janeiro e, ao que consta, foi professor visitante da Universidade de Paris (cf. SILVA 1998).
Doutor Jeronymo Ribeiro e sua esposa Sra. Esther Ribeiro. Acervo da família da Professora Maria Luísa Freitas Pinto
Realmente, Fernando Ellis Ribeiro estudou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, depois de formado, também exerceu sua profissão na cidade de Manaus, por curto espaço de tempo.
Quando o professor Artur Cezar Ferreira Reis (1906-1993) assumiu o governo do estado do Amazonas, achou por bem homenagear o ilustre filho de Itacoatiara dando o seu nome a uma das Escolas da rede estadual, construídas em Itacoatiara.
Doutor Jeronymo Ribeiro, sua esposa Esther Ribeiro, e seus filhos; Helena Heloisa Ribeiro e Fernando Ellis Ribeiro. Acervo da família da Professora Maria Luísa Freitas Pinto
No Jornal do Comércio de 15 de agosto de 1930, aparece uma propaganda de seus serviços temporários, na cidade de Manaus.
Além de informar que fora laureado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, realizava operações, cuidava de moléstias de senhoras e vias urinárias.
Tratava varizes sem cirurgia, utilizando o método de “Sicard”. (Doutor Jean Athanse Sicard (1872-1929), médico francês, que é considerado um dos dois criadores do método esclerosante atual para o tratamento de varizes. Naquela época, injetava nas veias de pequeno calibre, uma solução de Salicilato de Sódio, que promovia o desaparecimento das pequenas veias varicosas. Doutor Sicard, ficou famoso também, por ter introduzido o contraste iodado, Lipiodol, na radiologia para os exames de flebografia).
Doutor Fernando Ellis, também anunciava a “Tubagem duodenal (Einhorn)” para diagnóstico e tratamento de doenças da vesícula biliar e do duodeno. (Doutor Max Einhorn [1862-1953], um médico polonês-americano, que no início do século XX, em 1910, utilizou a “bomba duodenal”, um tubo com uma cápsula metálica no final, para introduzir leite, ovos, açúcar e água, diretamente no duodeno. Ele criticava fortemente o uso da via retal para a alimentação, devido a incidência elevada de irritação retal e a pobre absorção dos nutrientes).
Atualmente, existe a sonda nasogástrica, que é muito utilizada para esse fim. Resta uma dúvida sobre o procedimento diagnóstico que o Doutor Fernando Ellis anunciava com essa sonda, já que não existiam câmeras de vídeo para realizar a endoscopia.
Doutor Fernando, divulgava que curava, de forma radical, hérnias e hidrocele e ainda operava tumores.
A nota no final de seu anúncio, hoje, faz todo o sentido, quando informava: “durante sua curta estadia nesta capital”. Essa observação, não deve ser considerada uma atitude esnobe, pois na realidade, ele já tinha uma carreira de sucesso na cidade do Rio de Janeiro.
Doutor Fernando Ellis ainda retornou a Manaus no ano de 1937, permanecendo no período de 05 de abril a 23 de julho de 1937, quando retornou à cidade do Rio de Janeiro. Durante sua estada, realizou várias cirurgias com sucesso. Existem agradecimentos de pacientes operados por ele, publicados na imprensa local.
Sua chegada a Manaus, nessa oportunidade, foi festejada na imprensa local, inclusive com a direito a fotografia na reportagem.
A reportagem do dia 04 de abril de 1937, assim divulga: “No avião da Panair chegará amanhã a Manaós o dr. Fernando Ellis Ribeiro, amazonense que está honrando a sua terra, na capital do país, onde se tem evidenciado, desde os bancos acadêmicos, pelo fulgor de sua cultura, revelados em vários concursos em que, ao lado de muitos concorrentes, sempre conquistou o primeiro lugar, valendo-lhe isso o posto de Assistente da Faculdade de Medicina, seguidamente de Live Docente do mesmo estabelecimento e de chefe do Serviço Clínico de Vias Urinárias da Brigada Policial da Capital do País.”
Em 18 de janeiro de 1936, a Revista Brasil Médico, noticiou sua aprovação no concurso para Livre Docente de Clínica Cirúrgica, na Universidade do Rio de janeiro. Nessa época, era assistente do ilustre Professor Brandão Filho.
Em agosto de 1939, participou na Academia Nacional de Medicina, do II Congresso Brasileiro e Americano de Cirurgia. Nessa ocasião a Academia era presidida pelo famoso médico Aloysio de Castro. Por ocasião de sua palestra, descreveu, um aparelho de sua criação destinado a executar a venóclise contínua (administração de líquido nutritivo ou terapêutico na veia). O relato completo do evento poderá ser encontrado no informativo Brasil Médico, de 19 de setembro de 1939. Uma novidade na época.
Doutor Fernando recebeu diversas homenagens e prêmios.
Prêmio Manuel Feliciano (Medalha de Ouro) recebida pelo Doutor Fernando Ellis Ribeiro em 29 de dezembro de 1929, concedido pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Acervo da família da Professora Maria Luísa Freitas Pinto
Em 1950, presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e na ocasião, compondo sua diretoria, o diretor da Comissão Médica era o Doutor Pedro Nava, que seria considerado, posteriormente, o maior memorialista da literatura brasileira.
Participou, como palestrante, do 1.0 Congresso Brasileiro de Câncer. Era membro da Sociedade Internacional de Cirurgia de Bruxelas.
Em outubro de 1951, Doutor Fernando Ellis, conquistou a cátedra de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental, da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e foi promovido a Tenente Coronel e nomeado Diretor de Saúde da Polícia Militar. Por esses motivos, foi-lhe oferecido um almoço no dia 30 de outubro, nos salões do Automóvel Clube do Brasil.
No período de 1954 a 1955, Doutor Fernando, anunciou no Jornal do Comércio, em Manaus, porém divulgando seu endereço no Rio de Janeiro, que era a cidade preferida pelos amazonenses que gostavam e tinham recursos para viajar.
Doutor Fernando Ellis Ribeiro e sua esposa. Acervo da família da Professora Maria Luísa Freitas Pinto
Em agosto de 1955, aos 48 anos de idade, Doutor Fernando Ellis Ribeiro, faleceu subitamente na cidade do Rio de Janeiro. Seu passamento precoce, casou comoção na classe médica carioca. No dia 18 de agosto, em sua homenagem, foi inaugurada a “Enfermaria Dr. Fernando Ellis Ribeiro”, do Serviço da 2.a Cadeira de Clínica Cirúrgica da Faculdade Nacional de Medicina, na cidade do Rio de Janeiro. A placa foi descerrada por sua esposa Esther e o fato foi amplamente divulgado na imprensa carioca, com reportagens nos jornais Correio de Manhã, A Noite e no Diário de Notícias.
Referência Bibliográfica:
- Alencar, Aristóteles. Reclames Médicos na Manaus Antiga. Coleção Pensamento Amazônico. Série André Araújo. Vol. 50. Manaus. Gráfica e Editora Ziló. Academia Amazonense de Letras, 2023.
- Silva, Francisco Gomes da. Cronografia de Itacoatiara, volume 02
*Médico cardiologista formado na Universidade do Amazonas. Doutor em Cardiologia pela Fac. Medicina da UNESP/ Botucatu. Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia. Membro da Academia Amazonense de Medicina e da Academia Amazonense de Letras, da qual é o atual presidente.
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