*Francisco de Abreu Cavalcante
Essa poesia pertence ao livro MARAVILHAS DA VIDA, do autor, a ser lançado em breve.
Lembranças de feliz professor.
Que também foi pescador
Canoeiro de mãos calejadas,
Cútis branca de peles queimadas
De sol abrasante a castigar,
E as noites frias a remar, remar…
I
Acompanhando meu irmão
Passava os dias a pescar
Debaixo de sol e muito calor
Só para admirar a beleza,
Pescando apenas com amor
Ao esplendor da natureza.
II
Pensava, sonhando acordado
Com os dias vindouros chegar,
Precisava ser de algo dotado
Para meu semelhante ajudar
Como fazer? A escola distante,
Sem condições de estudar.
II
O tempo e a idade avançando,
Tudo queria… à noite pensando
Sem nada fazer de melhor,
Apenas trabalho, trabalho só,
Alimentação sempre tinha –
O salutar peixe com farinha
IV
Mesmo assim não me continha
Coragem não me faltava
Eu até consegui uma profissão!
Fazia móveis, canoas, um batelão
Que virou barco de pesca
Para a lida de meu irmão!
V
Meu irmão, nada estudou
Mas não raciocinava a cru!
Nossa mãe quando lhe ensinava,
A soletrar a palavra, “ma-la”,
Sua inteligência, atestava:
Dizia rapidamente “baú”
VI
Mesmo sem ler e escrever,
Nas contas, ele tudo sabia,
Era considerado o gestor
Dos valores da pescaria
“É produto de meu trabalho!”
Era o que sempre dizia.
VII
E mais: trabalhar como empregado
Achava uma escravidão!
Pescando, sentia-se livre
Não importava a solidão,
Porque pescava com amor,
Fez da pescaria sua profissão.
VIII
Assim continuou meu irmão
Naquela doce vida arriscada
Porque gostava da profissão
Por amor e ação deliberada,
Gerindo sua própria vida
Vida talvez predestinada.
IX
Uma cena que na pesca aconteceu:
De noite, num igarapé se passava,
A escuridão era absoluta
Àquela hora, pescadores não se arriscavam
E o pavio da lamparina molhado
Fósforo? Só dois palitos restavam…
X
Mas Deus abençoada noite nos deu
Porque o primeiro palito molhou,
Mas o segundo palito acendeu
E o brilho nas águas voltou,
Assim, aquele poder divino
Até a casa paterna nos guiou.
XI
Noite de chuva fina constante
O vento frio nos assolava
Era susto a todo instante
Que a candeia quase apagava!
Meu forte irmão, um gigante!
Remava, remava e não cansava.
XII
Até altas horas a remar,
Superando sentido cansaço
Pelo afã de em casa chegar
E dormir, da noite um pedaço,
Porque deveria à pescaria voltar;
Meu irmão: um homem de aço!
XIII
Deparando com tantas pessoas
Sem estudo, vivendo naquele lugar,
Decidi comunicar ao meu irmão.
Que precisava voltar a estudar,
Pois gostaria de ser professor
Para àquela gente ajudar.
XIV
Até que um dia, pelas garras
Do destino, tornei-me um professor.
Concursado para trabalho integral
Impediram-me voltar ao interior.
Trabalhador de capital que
Para cidade natal jamais voltou.
XV
Mas o nosso destino é assim
E por ser assim não se deve contrariar.
As forças do bem nos amparam
Onde e como nos é mister estar.
Para a vida Deus nos prepara
Até onde Ele nos permite chegar.