“Aos que negociam com revólver na mesa, o Brasil responde com o poder silencioso da diplomacia e a firmeza daqueles que sabem que gritar não é sinal de força – e sim de covardia.”
Num mundo que coleciona cicatrizes de guerras comerciais e da retórica armada da intolerância econômica, o Brasil enfrenta uma dupla investida contra sua estabilidade diplomática e sua soberania produtiva. Primeiro, o tarifaço de até 50% sobre exportações brasileiras, anunciado pelo governo de Donald Trump. Agora, uma nova escalada: a abertura de uma investigação comercial sob a Seção 301 – um dispositivo jurídico com poder extraterritorial, considerado por diplomatas experientes como a “bomba atômica” da política comercial norte-americana.
Ambas as ações partem do mesmo espírito: o do unilateralismo ameaçador, que trata parceiros estratégicos como o Brasil não com respeito, mas como adversários a serem corrigidos a golpes de sanção.
A altivez que constrói: o gesto brasileiro em defesa da convivência
Com a serenidade de quem conhece a história e a firmeza de quem compreende o presente, o governo brasileiro respondeu com grandeza. Sob a liderança do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, foram convocadas em Brasília reuniões decisivas com os principais representantes da indústria e do agronegócio.
Houve, ali, convergência entre o setor produtivo, o setor econômico e o Estado em torno de uma diretriz clara: esgotar os canais de negociação com o governo norte-americano à luz dos fatos, da técnica e da confiança mútua construída em 200 anos de relações comerciais amistosas.
Economias complementares, não rivais
No encontro, o CEO da Metalúrgica Tupy, Rafael Lucchesi, lembrou que o Brasil não concorre com os EUA – ele complementa. Sua indústria exporta blocos e cabeçotes para Caterpillar, Cummins, DAF e Ford, integrando cadeias produtivas consolidadas há décadas. A imposição de tarifas de 50% equivale, segundo Lucchesi, a um embargo disfarçado – e sem justificativa técnica, já que o Brasil, neste caso, é superavitário para os EUA.
Até a US Chamber of Commerce, tradicionalmente cautelosa, manifestou-se contra as tarifas, alertando que 6.500 empresas norte-americanas seriam prejudicadas.
A escalada da pressão: da sanção ao cerco institucional
Mas a pressão não parou por aí. Com a abertura da Seção 301, o governo dos EUA amplia o cerco ao Brasil, mirando um leque de temas: comércio digital, pagamentos, tarifas preferenciais, medidas anticorrupção. Um diplomata do Itamaraty, em declaração contundente, cravou:
“É como negociar com um revólver apontado para a cabeça.”
A metáfora é dura – e justa. A Seção 301 dispensa mediação internacional, ignora o espírito da Carta da ONU e das regras da OMC (hoje esvaziada), e transforma o que deveria ser diálogo entre nações soberanas em imposição vertical. O Brasil passa de parceiro a réu.
A resposta brasileira: altivez, lucidez, convergência
Ainda assim, o Brasil se recusa a abandonar sua tradição de civilidade diplomática. Nosso país responde com clareza estratégica:
- Refuta as medidas como desproporcionais e prejudiciais às duas economias;
- Reforça alianças com empresas, cadeias produtivas e governos locais dos EUA;
- Mobiliza o Itamaraty, as federações industriais, o Congresso e a sociedade brasileira;
- E principalmente, sustenta sua postura com inteligência institucional, convicção pacífica e força moral.
Porque civilização não se improvisa – se cultiva
Estamos diante de um ponto de inflexão. Não é apenas uma questão de comércio exterior. É uma questão de princípio. De destino. Ou o mundo reafirma as pontes do diálogo, ou afunda nos abismos da retaliação descontrolada.
O Brasil – e seu povo – já escolheram seu lado: o lado da razão, da construção conjunta, do comércio ético e da soberania pacífica.
Aos que negociam com revólver na mesa, o Brasil responde com o poder silencioso da diplomacia e a firmeza daqueles que sabem que gritar não é sinal de força – e sim de covardia.
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