Manaus, 1 de dezembro de 2023

Ecce homo caboclo

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Fábio Oliveira Gomes
*Fábio Oliveira Gomes

Senhoras e senhores:

Eis meu pai, Francisco Gomes da Silva, cuja data natalícia a alvorada se encarregou em trazer as  boas recordações de   sua infância e juventude.

Como não lembrar de meus avós paternos, Pedro Gomes e Olívia Maria, eternos admiradores daquele outrora menino franzino, que desde cedo sonhou com a grandeza, não a grandeza pessoal, mas a da sua amada Itacoatiara!

Mais adiante, vislumbro o lar humilde na 15 de Novembro e meus onze (11) tios ladeando o irmão estimado, testemunhas do surgimento de alguém incomum, que forjou seu destino acompanhado da honra a distinguir os Homens.

Aos 13 anos de idade começou a labutar e, dentre as inúmeras profissões exercidas, foi com a de jornaleiro que lapidou o dom da oratória, quando anunciava nos bancos de praça as notícias do dia.

A leitura voraz e o senso crítico da realidade social prenunciavam os caminhos pela política, tendo participado de movimentos estudantis e da fundação do jornal “O Idealista”.

Dentre as muitas emoções vividas, destaco uma em especial, o encontro de um pretenso escritor com o então governador do Amazonas, Arthur Cézar Ferreira Reis.

Naqueles idos, meu pai com 19 anos e já estabelecido em Manaus, chamou a atenção desse grande amazonólogo com o esboço de um livro contando a história da Velha Serpa.

Diante do texto visceral de um apaixonado por sua terra natal, não restou dúvida sobre a necessidade da publicação de seu primeiro trabalho literário, “Itacoatiara. Roteiro de uma cidade”, lançado na abertura oficial da Rodovia Manaus-Itacoatiara, em 05 de setembro de 1965.

Naquela ocasião festiva, a futura esposa e mãe de seus três filhos, Maria de Fátima Oliveira Gomes, estava entre a multidão que saudava o ilustre conterrâneo e a comitiva governamental.

Em outra passagem, engajado pelo retorno da democracia em nosso país, o então estudante do Instituto de Educação do Amazonas, em meados de 1966, assinou o livro de fundação do Movimento Democrático Brasileiro.

Graduou-se em 1972 em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas, pena que na foto de formatura na escadaria do Teatro Amazonas faltasse minha avó, Olívia Maria, mas, sem dúvida, ela estava aplaudindo no céu a vitória de um obstinado.

Em 1978 ingressou no Ministério Público do Estado do Amazonas, encontrando a realização profissional ao seguir à risca o lema do Parquet: Legum Sustentatio Magnum Sacerdotium.

Os vários anos ocupado em estudar e divulgar a trajetória histórica de seu berço de nascimento, tornaram-lhe imortal em 24 de setembro de 1999, quando de seu ingresso na Academia Amazonense de Letras, passando então a ser definitivamente o trovador do Principado de Serpa.

E, assim, nesse dia de homenagens, após revisitar as boas lembranças, se acompanhado ao crepúsculo os olhos marejarem e a voz teimar em embargar, não tenha dúvida, meu Pai, tudo terá valido a pena, sendo mais do que justo celebrar a vida.

*Bacharel em direito e servidor público estadual. Filho mais velho do historiador Francisco Gomes da Silva e de dona Maria de Fátima Oliveira Gomes. Discurso proferido em Manaus, no Clube Dulcilas, na noite de 28/11/2015, ocasião em que se comemorava o 70º aniversário de seu genitor.

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2 respostas

  1. Fábio Oliveira Gomes:
    Pena que não participei da festa do teu pai como havia planejado e me preparado. Circunstâncias que fogem à nossa vontade impediram-me de fazê-lo. O perfil que dele traças neste discurso, bem expressa o conteúdo de afeto que te prende ao homem que te trouxe ao mundo e te soube educar. Homem de luta e de inteligência lúcida e esperta, ele é alguém que os pajés da terra da Velha Serpa escolheram para celebrar a história e a vida de sua gente. Tenho certeza de que o povo itacoatiarense também deve estar comemorando o aniversário de 70 anos do sempre jovem Francisco Gomes da Silva.

    Que Deus te abençoe e sempre guarde o teu pai.

    Abraços,

    Elson Farias

    1. Obrigado grande poeta do seleto grupo daqueles dignos Homens que merecem a admiração do povo da Velha Serpa, tão raros e especiais que em suas certidões de nascimento deveria estar registrado, nascidos no Principado de Serpa.

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