
*Nelson Azevedo
Que fique claro: quem ataca a Zona Franca de Manaus, ataca a ideia de um Brasil inteiro.”
O preconceito contra a Zona Franca de Manaus (ZFM) não acaba, nem fica pequeno. Apenas muda de forma, de tom e de manchete. Sempre que o país atravessa crises fiscais, políticas ou identitárias, a Zona Franca volta à berlinda. Nunca como solução, mas sempre como problema. E isso não é coincidência — é projeto.
A mais recente manifestação dessa estratégia aparece no jornal O Estado de S. Paulo, em uma matéria que afirma, no título, que as renúncias fiscais da ZFM e do agronegócio somam mais de R$ 200 bilhões. A informação é tecnicamente falsa e editorialmente tendenciosa. Na realidade, segundo os próprios dados da Receita Federal que a matéria menciona, o agronegócio responde por R$ 158
bilhões e a ZFM por R$ 75 bilhões.
A distorção do título cria um efeito perverso: induz o leitor a crer que a ZFM é responsável pela maior parte da renúncia, ou que ela é comparável ao Agro em dimensão e impacto fiscal. Não é. E essa comparação é desonesta.
A ZFM não é o Agro
Enquanto o agronegócio avança sobre florestas, concentra terras e distribui pouco, a Zona Franca de Manaus emprega mais de 100 mil pessoas com carteira assinada, distribui renda, mantém a floresta em pé e evita o colapso social e ambiental de uma região que historicamente sofre com a ausência do Estado.
O Polo Industrial de Manaus responde por cerca de 80% da arrecadação federal no Amazonas. Seus incentivos são compensados por um retorno direto à União. O Agro, ao contrário, se beneficia de subsídios bilionários sem devolução proporcional, com passivos ambientais expressivos e baixa inclusão social.
A comparação só serve a um objetivo: deslegitimar a ZFM como política de Estado.
Indústria não é Agro – Imagem criada por IA
A quem interessa esse preconceito?
É preciso perguntar: quem ganha com o enfraquecimento da Zona Franca? Certamente não o Brasil profundo, que ainda vê na ZFM uma das poucas tentativas concretas de interiorizar o desenvolvimento. Tampouco a Amazônia, que ficaria ainda mais vulnerável à mineração predatória, ao desmatamento e ao narco garimpo.
Quem ganha são os setores econômicos concentrados no Sul e Sudeste, que há décadas disputam os mesmos recursos e tentam capturar a narrativa do desenvolvimento nacional como se o país terminasse no Planalto Central.
O preconceito contra a Zona Franca de Manaus é o mesmo que olha a Amazônia como periferia e não como centro estratégico do século XXI. É o mesmo que trata a floresta como obstáculo e não como ativo. É o preconceito de quem nunca precisou disputar uma vaga de emprego a mil quilômetros do centro urbano mais próximo. De quem nunca entendeu o valor logístico, simbólico e geopolítico de se manter a Amazônia conectada à economia global.
A verdade que não cabe na manchete
A ZFM não é isenção fiscal: é política pública. Não é enclave industrial: é âncora de soberania. Não é favor: é dever do Estado com sua porção mais crítica e mais promissora.
E esse modelo não está parado no tempo. A Zona Franca de Manaus está em plena transformação: investe em inovação, pesquisa, ESG, energias renováveis, bioeconomia e florestas produtivas. Queremos ser ponte entre o Brasil industrial e a Amazônia sustentável. E isso não se faz com preconceito. Se faz com visão de futuro.
Indústria sustentável
Resistência e compromisso
Enquanto houver má fé, desinformação ou manipulação contra a Zona Franca, haverá resistência. E ela virá da sociedade civil, das entidades industriais, dos trabalhadores e de quem ainda acredita que é possível crescer protegendo, produzir conservando e desenvolver incluindo.
Esse ensaio é mais que um alerta: é um manifesto. Um compromisso com a verdade, com o desenvolvimento e com a Amazônia viva, pensante e produtiva.
Que fique claro: quem ataca a Zona Franca de Manaus, ataca a ideia de um Brasil inteiro.
*Economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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