Manaus, 3 de dezembro de 2024

Festejar Gonçalves Dias

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Sei muito bem que os historiadores modernos fogem dos referenciais cronológicos nos seus estudos, mas, em se tratando de mestres da literatura e verdadeiros símbolos nacionais, espero que me perdoem ressuscitar os necrológios que foram moda em anos passados.

Neste ano que ora inicia, dentre tantos eventos relevantes como o bicentenário da Adesão do Amazonas à Independência do Brasil a ocorrer em 9 de novembro próximo, é dever comemorarmos o bicentenário de nascimento do poeta Antônio Gonçalves Dias, nascido nas proximidades de Caxias, no atual Estado do Maranhão, em 10 de agosto de 1823, herdeiro imediato de brasilidade autêntica, pois filho de português com mestiça brasileira.

Tendo estudado humanidades e ciências jurídicas em Coimbra, foi advogado por cerca de dois anos e professor de História e Latinidade do famoso Colégio Pedro II, na capital do Império, e, nesta condição, encarregado de supervisionar escolas públicas no chamado Norte do País, e, em seguida, na condição de Oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros, seguiu viagem para a Europa com o objetivo de conhecer os sistemas de educação aplicados no “velho mundo”.

Depois dessa importante experiência passou a integrar a Expedição Científica do Império pretendendo viajar por várias regiões em nome e por interesse das ciências, no entanto a comissão não foi admitida com tranquilidade pelos políticos, mas, mesmo assim, rompeu resistência e seguiu para a Província do Ceará. Pouco depois, desgarrado do grupo que estava se desfacelando porque não conseguia condições financeiras mínimas para desenvolver as pesquisas pretendidas, veio ao Amazonas, em cujas terras chegou em 27 de fevereiro de 1861.

Acolhido pelo então presidente da província, Manoel Clementino Carneiro da Cunha, foi nomeado para o posto de Visitador-Escolar e seguiu penosa viagem para o interior distante, indo e vindo das barrancas para a capital. Sua residência em Manaus – infelizmente demolida – na Rua do Barroso, em frente a sede da Biblioteca Pública, era modesta casa baixa, de porta e janelas de guilhotina, em cujo teto residiu, anos mais tarde, meu avô e cartorário João Luiz dos Santos Pereira, e minha mãe experimentou as primeiras brincadeiras infantis pela calçada, uma das quais é título do livro que fez publicar ao dealbar da vida: “O Psi-Pau”.

O relatório que Gonçalves Dias ofereceu ao governo provincial amazonense após a visitação escolar, lido e relido nos dias que correm, e com olhos de quem queira ver, demonstra a verdade e as precariedades do ensino daqueles anos, e, para deixar pasmo qualquer cristão, ressalta que nosso atraso no ensino e na formação adequada da juventude vem de muito longe.

Sua importância para as letras nacionais e a relação mais aproximada com nossa terra e esse mundo de florestas e águas foi ressaltada pelo Clube da Madrugada em 1964, no centenário de seu falecimento nas águas do mar que beijam a capital de sua terra natal. Editado um livro, erguida uma herma na Praça de Heliodoro Balbi – Praça da Polícia como é costume dizer-se – seus versos foram cantados e decantados e sua vida de amores relembrada tal como em muitos de seus versos.

O que se espera provocar com este artigo é que o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e a Academia Amazonense de Letras que resistem aos temporais depois de cem anos de fundação, possam comemorar o evento sobre o grande vate, festejar a sua memória e apregoar sua poesia nas esquinas e salas de aula, afinal, com ele imperam alguns dos ‘brasis’ que somos e parte de nossa identidade se reconhece em “Canção do Tamoyo”, “Os Timbiras” e “Y-Juca Pirama” como em outras tantas criações desse gênio brasileiro.

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