Manaus, 29 de junho de 2025

Folguedos juninos

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É forçoso afirmar que os folguedos juninos, tal como bem traduziam os antigos, entre eles pesquisadores de escol como Mário Ypiranga Monteiro e líderes de brincadeiras de São João, como meu pai, Lourenço da Silva Braga, não são mais realizados como manda a tradição mais segura. Mesmo assim, ainda empolgam grande parte da população amazonense, mesmo que não respondam ao estilo e a forma que encanta o povo do nordeste do Brasil de onde procede a maioria das danças, adivinhações e culinária típica de que nos aproveitamos para alegrar os dias de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal.

Não se vê mais fogueiras nas ruas, troca de promessas e passagem de “primo” em redor do fogo que iluminava as acanhadas ruas de Manaus, e muito menos alguém pegando em agulha virgem para depositar delicadamente nas águas postas em bacias de alumínio ou as moças fazendo a pregação da faca virgem no tronco da bananeira lá pela meia-noite do dia da festa esperando descobrir a inicial do nome do futuro parceiro de vida.

O grande Festão do Povo que Mário Ypiranga começou a organizar pelos idos de 1940 no campo do Pobre Diabo, na Cachoeirinha, e que “O Jornal” e “Diário da Tarde” levaram para o estádio general Osório transformando em grande atração popular, embora resista ao tempo, perdeu toda a sua elegância e em grande parte deixou de traduzir o folclore que nos caracterizava e representava a expressão da essência do povo amazonense, com seu jeito simples de ser. Sucumbiu à invenção de danças sem pé nem cabeça e à imitação desmedida de manifestações forâneas que em nada nos dizem respeito.

O que nos salva – e muito bem salvados, aliás – é o Festival de Parintins -, precisamente pelas apresentações de Caprichoso e Garantido, sempre monumentais e desafiadoras para os registros históricos, de antropologia e de artes cênicas, mesmo que isso tenha implicado no quase abandono das quadrilhas e danças regionais que se apresentam dias antes das grandes noitadas que empolgam e seduzem nos dias finais do mês de junho.

Além de representar o que podemos exprimir como mais amazônico, antes de ser brasílico, o Festival dos Bois de Parintins está a exigir, por isso mesmo, que os estudos acadêmicos recaiam sobre ele de modo a que possamos ter interpretações científicas mais precisas do que se passou e se passa, anos após ano, na concepção, construção e exibição das agremiações folclóricas nas três noites de grandeza.

Sobre a beleza plástica, a qualidade dos letristas e dos compositores das toadas, a empolgação e o espírito que rege a “galera”, a criação e elaboração das alegorias e a integração de tantos figurantes para a contação das histórias e lendas, tudo isso está a exigir, sem dúvida, aprofundados estudos científicos de modo que possamos registrar para o futuro o que se passa na arena na qual o maior desafio não é o tempo de apresentação nem conseguir a harmonia necessária para o espetáculo perfeito, é, sem dúvida, contar o sonho desenhado pela comissão de artes, impressionar o público e convencer os jurados, e acima de tudo: brincar de boi.

Afinal, “brincar de boi é minha sina”, como diz o poeta e é essa a festa mais esperada de todo o Amazonas para a qual a cidade inteira se prepara com esmero, canta e dança sem parar e se veste de gala para receber o povo que vem de fora, azul ou vermelho, são todos bem-vindos à ilha da magia.

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