Quando a família de José Cruz decidiu, em 1945, implantar uma indústria de bebidas, inicialmente baseada no sagrado fruto amazônico do Guaraná, havia um movimento em Manaus para reativar a economia da borracha. Restara um vazio com o fim do conflito mundial e com a debandada dos americanos, que haviam – num esforço de guerra – financiado o resgate do látex, essencial para fazer rodar suas máquinas de guerra. Um dos entusiastas dessa façanha era o visionário Cosme Ferreira, que havia criado três empresas.
Empreendimentos que traduzem a expectativa econômica da época: a Companhia Nacional da Borracha, a Companhia Brasileira de Plantações e a Companhia Brasileira do Guaraná. O Brasil não queria mais saber de borracha – depois que perdeu a vez para os ingleses – e para os gestores da federação, plantar na Amazônia não fazia sentido. Foi assim que a família Cruz entendeu o filão de negócios oferecido pelo guaraná da floresta. Quem conta essa memória empreendedora é o conselheiro do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Luiz Carvalho Cruz, CEO da J.Cruz Indústria de Bebidas, a icônica fábrica do Guaraná Magistral. Confira!
Entrevista com Luiz Carvalho Cruz, CEO da J. Cruz Indústria de Bebidas Por Alfredo Lopes
Coluna Follow-up
BrasilAmazôniaAgora: – A Magistral, indústria histórica do Amazonas, surgiu como economia da resistência, logo após a segunda quebra do Ciclo da Borracha. A caminho dos 80 anos, qual é o segredo dessa longevidade fabril?
Luiz Carvalho Cruz – A J.Cruz Indústria de Bebidas (Magistral), iniciou suas atividades em 1945 pelo seu fundador, Comendador José Cruz e tem como seu principal negócio a fabricação do refrigerante de guaraná, fruto típico da região amazônica. Atualmente, contamos com Vitor Cruz e José Cruz Neto, com quem compartilhamos a gestão da empresa. Ao longo dos anos, foi diversificando seu portfólio com a fabricação de refrigerantes de vários outros sabores assim como a industrialização de água mineral
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Certamente é um exemplo de resiliência, dedicação e constante adaptação diante de mudanças econômicas e sociais que tem enfrentado ao longo dos anos. Uma das chaves para sua longevidade é sua capacidade de procurar sempre se reinventar e diversificar com inovação de seus produtos para se adaptar às mudanças do mercado o que lhe permite manter uma posição de destaque e fidelizar seus clientes ao longo dos anos os quais estão localizados na capital Manaus, na grande maioria dos municípios do Estado do Amazonas e, também, no sul do estado do Pará e no estado de Roraima.
Além disso, tem uma forte conexão com a comunidade local e investe em programas sociais, principalmente os ligados aos esportes e, ambientais, o que contribui para a sua imagem positiva e para o desenvolvimento sustentável da região.
Por fim, como uma empresa de estrutura familiar e, totalmente regional, já iniciando a terceira geração, tem procurado manter uma gestão profissional e eficiente, com um planejamento estratégico sólido e uma equipe de colaboradores comprometida sem perder de vista seus valores e sua identidade, colaborando assim para sua continuidade.
BAA – Na sua opinião, e em clima de combate ao açúcar, é possível adensar e diversificar essa economia usando os recursos da ciência e tecnologia?
LCC – A utilização da ciência e tecnologia é uma ferramenta importante e auxilia a empresa a se adaptar, mais rapidamente, às mudanças do mercado e continuar a crescer e diversificar sua economia, mantendo sua identidade e seus valores. Nesse sentido, a empresa já promoveu reduções significativas em seus produtos, chegando até a zerar a utilização do açúcar em em alguns deles, com a isenção total, os denominados de zero açúcar.
BAA – A Embrapa – que projetou o agronegócio no Centro-Oeste – ajudou a resgatar a bioeconomia do guaraná, retomando a importância do produto e seu glamour Amazônico. Que outros avanços podemos sugerir para a interiorização do desenvolvimento agroindustrial com nossas frutas?
LCC – Existem diversas possibilidades de avanços para a interiorização do desenvolvimento agroindustrial com frutas da Amazônia, tais como: abiu, açaí, araçá-boi, bacaba, bacuri, buriti, biribá, camu-camu, cubiu… o acervo é generoso. É preciso, porém, melhorar a infraestrutura de transporte e armazenamento; fortalecer as cooperativas e associações de produtores oferecendo suporte técnico para melhorar a qualidade e a produtividade dos plantios; investir em pesquisa e desenvolvimento para criar novos produtos a partir das frutas amazônicas, como sucos, geleias, sorvetes, polpas, além de explorar novas tecnologias para aproveitar ao máximo as propriedades nutricionais das frutas; estimular o consumo interno de frutas amazônicas e, investir em certificações e selos de qualidade para dar maior valor as frutas amazônicas.
Foto divulgação
BAA – Estamos em clima de reforma tributária. Você acha viável incluir compensações fiscais para as indústrias tradicionais da Amazônia para gerar uma economia sustentável no beiradão?
LCC – Sim, não apenas viável, mas é necessária a inclusão de compensações fiscais para as indústrias regionais e tradicionais da Amazônia como forma de promover uma economia sustentável no beiradão. A inclusão de políticas de incentivo fiscal pode ajudar a fomentar o desenvolvimento econômico em regiões remotas da Amazônia, promovendo a criação de empregos e o aumento da renda para a população local. Além disso, essas medidas podem estimular a produção sustentável, ajudando a preservar a biodiversidade e o meio ambiente. Algumas das possíveis compensações fiscais incluem a redução de tributos para as indústrias que utilizem práticas sustentáveis de produção, incentivos para investimentos em infraestrutura e tecnologia, além de programas de treinamento e capacitação para a mão de obra local.
Em resumo, a inclusão de compensações fiscais para as indústrias regionais e tradicionais da Amazônia pode ser uma medida fundamental para promover uma economia sustentável no beiradão, desde que sejam implementadas com responsabilidade e transparência.
BAA – Nestes 56 anos de Zona Franca de Manaus, constatamos dificuldades de diversas ordens para tomar os destinos do Amazonas em nossas mãos. A que você atribui essa dificuldade num estado da federação com um leque imensurável de recursos naturais?
LCC – Certamente, essa dificuldade envolve questões estruturais, históricas, sociais, políticas e econômicas. A superação desses desafios requer a realização de uma série de ações coordenadas e comprometidas de todos os setores da sociedade, incluindo tanto os governos – Federal, Estadual e Municipal, quanto o setor privado e a sociedade civil organizada.
No que diz respeito ao Governo Federal precisamos ser vistos e tratados como sendo parte do Brasil, e muito nos animou ver o Vice Presidente da República dizendo que somos a Zona Franca do Brasil, enquanto nestes 56 anos fomos tratados como um problema que precisa ser resolvido com a utilização de incentivos fiscais, podemos ser vistos como parte importante do desenvolvimento de uma economia sustentável que viabilize a manutenção da Floresta Amazônica – importante estandarte para o Brasil na Geo Politica Internacional.
Esta Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, no Jornal do Comercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM, e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora.
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