Manaus, 16 de setembro de 2024

Guerra da desinformação

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“Essa conduta tem sido adotada, praticamente, por todos os grupos, partidos, coligações e federações políticas, uns mais outros menos.

Tendo tido o privilégio de acompanhar inúmeras campanhas eleitorais um pouco mais de perto do que a grande maioria dos eleitores, seja como dirigente partidário estadual, candidato, político com mandato e advogado no campo do direito eleitoral, ando abismado com o curso que a presente campanha – para todos os cargos em disputa neste ano – o curso desenfreado de agressões, informações falsas, circulação intensa de desinformações, e, mais recentemente, a deformação ou falsificação técnica premeditada da notícia por meio de instrumento digital, até certo ponto criminosa.

Sabendo-se que o principal objetivo desse período do processo eleitoral é oportunizar aos eleitores o conhecimento da trajetória dos candidatos, suas ideias e propostas em busca de soluções para os principais problemas que afligem a sociedade local e brasileira de modo geral, o que se tem visto, sem sombra de dúvidas, é completamente o inverso, ou, pior ainda, a apresentação de fatos, dados, discursos e imagens falsas ou falsificadas de propósito, para impedir que o eleitor faça seu próprio juízo, isento e livre, a respeito dos inscritos para cargos e mandatos políticos.

Essas condutas, sujeitas à fiscalização e punição pela Justiça especializada, e de todo reprováveis sob o ponto de vista do real interesse da população, ferem os princípios basilares do direito eleitoral brasileiro calcado na Constituição da República, em larga tradição que advém de priscas eras e de uma sequência histórica de eleições que se iniciam no interior de São Paulo em 1532 e seguiram, com muitos percalços, altos e baixos, leis e regulamentos, sendo aprimoradas, visando dotar o país de meios precisos, justos e invioláveis de respeito à vontade do eleitor.

Se a compra direta e pessoal de votos, a substituição de candidatos, o voto de cabresto, o campismo, o resultado a bico-de-pena, a manipulação na fila de votação, o desvio de votos nas longas e intermináveis apurações manuais foram sendo eliminados do nosso cenário – como de fato foram -, restaram a enrustida doação de bens e favores e o declarado anúncio de bolsas e vantagens ainda que previstas e propagadas para grande parte da coletividade, o que se tem nos dias correntes é a descarada guerra da desinformação a perturbar o eleitor, especialmente o menos esclarecido ou menos atento a certas artimanhas construídas a título de beneficiar este ou aquele grupo ou candidato.

O fato é que essas condutas podem (ou vão) provocar o desequilíbrio do pleito por razões indevidas, precisamente aquelas que não decorrem da natural competição em igualdade de condições entre os concorrentes ou da liberdade de ação e oportunidades entre todos, como previsto na legislação e é o objetivo constitucional, pois, além disso, parece haver abusos incontáveis de poder econômico, político e de gestão.

Mais do que isso, o que se vai construindo talvez sem a devida percepção em razão da cegueira de sobreposição exagerada e desesperada do interesse individual sobre o bem comum, é a condução de parte da sociedade nacional para caminhos obscuros, inseguros e os quais não desejaria percorrer se em sã consciência estivesse, se não fosse levada pela guerra da desinformação e mistificação dos fatos.

E o mais grave é que essa conduta tem sido adotada, praticamente, por todos os grupos, partidos, coligações e federações políticas, uns mais outros menos, como se estivessem agindo de forma orquestrada para macularem o processo eleitoral que é um dos fortes pilares que sustenta a democracia em nosso país.

De todo modo, não é possível saber até onde deverão seguir esses algozes da boa-fé do cidadão e da cidadã brasileira. O futuro dirá, e tomara que não seja tão tenebroso quanto parece.

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