Os bondes de Manaus
O serviço de luz elétrica de Manaus começou em 1894, e o de bondes, em 1897, este pertencente ao engenheiro americano Frank Hirst Hebbletwhite, auxiliar de Eduardo Ribeiro, em suas obras. Durante as cinco décadas iniciais do século passado esses serviços passaram por diversas mãos até o controle pela empresa inglesa Manaos Tramways and Electric Light Co, que manteve ambos em funcionamento regular, até os seus equipamentos se tornarem insuficientes e obsoletos, produzindo eletricidade de corrente contínua, mundialmente já em desuso, acabando por vender este acervo obsoleto ao governo, por volta de 1948/50, que em pouco mais de cinco anos deixou de funcionar, completamente sucateado, resultando no maior apagão da nossa História, que durou uns doze anos.
Enquanto funcionou, o serviço de bondes da Manaos Tramways and Eletric Light Cy foi perfeito, pela modernidade dos veículos, que chegavam à linha do Flores, a atingir as alucinantes velocidades de 40 e até 60 quilômetros por hora, pela sua limpeza e pelo rígido cumprimento dos horários, controlados por fiscais e relógios localizados em pontos estratégicos dos percursos.
Os seus trilhos estendiam-se por mais de 30 quilômetros, distribuídos por uma trama de linhas espalhadas através da cidade, da qual se constituía no único transporte público até o surgimento dos primeiros ônibus adaptados em carrocerias de caminhões.
As duas linhas de maior extensão urbana foram a Circular-Cachoeirinha e a Circular-Avenida, com o mesmo trajeto, apenas trafegando de maneira inversa, percorrendo basicamente a partir da Estação, as ruas 7 de Setembro, Waupés (Castelo Branco), Ipixuna, Praça Floriano (Hospital Militar), Borba, Manicoré, Carvalho Leal, Praça General Carneiro (UEA), Belém, São Luís, Entroncamento, Tapajós, Silva Ramos, Afonso Pena, 10 de Julho, Avenida Eduardo Ribeiro até a Estação da Praça Sant’Ana Nery e vice-versa.
As linhas do Flores e da Vila Municipal ultrapassavam este arco das ruas Belém e São Luís, com a primeira chegando à região do atual Aero Clube, passando pelos banhos da Chapada e pelo Hospício, e a segunda, levando a um platô de 100 metros de altitude, com temperatura mais amena que a do centro, onde moravam os ingleses, um maravilhoso passeio nas noites de calor.·.
As linhas restantes trançavam o interior daquele círculo, como uma teia, das quais ainda me recordo de algumas das suas denominações: Remédios, Alto de Nazaré, Praça da Saudade, Fábrica de Cerveja, Entroncamento, além de outras, que já se apagaram da minha memória. Naquele tempo até as paradas tinham nomes e algumas linhas mais extensas estavam divididas em seções, como a de Flores, com as seções Bilhares e Chapada.
Acima público a foto de um bonde atravessando a 7 de Setembro canto com a Eduardo Ribeiro, e subindo na direção da última, pela posição da lança transmissora de energia. Talvez se trate do bonde Circular-Avenida, em horário de almoço, apinhado de passageiros no estribo, a maior parte em fatos de linho branco, pois os bancos destinavam-se às senhoras, idosos e crianças, em uma época de costumes diferentes dos de hoje.
O transporte coletivo era para os ricos e a classe média, pois eram pouquíssimos os que podiam comprar automóveis. Na cidade, ainda pequena, os pobres andavam a pé ou de catraia, talvez em pé, no bagageiro dos bondes.
Na foto que se segue a chamada Estação dos Bondes de Manaus, local onde começavam todas as linhas e para onde retornavam todos eles, após percorrerem essas linhas.
Estação final dos bondes
Foi um local de grande movimento onde estavam algumas das grandes firmas internacionais de Manaus, como a alemã Scholz & Cia, a francesa Delagotellerie, o britânico The River Plate and London Bank, a Booth Line, e a sede da Manaos Tramways, controladora da luz e dos bondes, estabelecida no belo prédio com as duas compridas torres, no meio da fotografia.
Desses antigos prédios só restam as carcaças de suas fachadas, pois o seu miolo foi demolido, como vem ocorrendo em outros prédios, para darem curso à revenda de um material de construção reciclado, à exportação de madeiras antigas, em perfeito estado e no interior deles um triste vazio, transformado em um grande estacionamento particular, explorado sabe lá por quem.
O mesmo aconteceu com o grande espaço da estação, em parte cedido ao porto, incluindo até a Rua Monteiro de Souza e onde foi a Praça Sant’Ana Nery, um dos poucos amazonenses que virou praça, com outro estacionamento de explorador não explícito.
Monumento a Santa’Ana Nery – Hoje estacionamento
Com tanto espaço desocupado no centro de Manaus, ainda querem vender as beiras de calçadas!
Vocabulário amazonense antigo:
Canto – Hoje esquina.
Fato – Hoje terno.
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