O macaco infernal ou a primeira panela de pressão de Coari
Francisco do Areal Souto foi um filho temporão do casal Franklin do Areal Souto e Cândida Alves de Souza Pinto, irmão de Antonio do Areal Souto, meu bisavô, nascido vinte oito anos antes dele. Pela tradição ele deveria chamar-se Isaac, mas o padre da igreja de Vertentes, no Ceará, não lhe quis dar o nome judaico e o batizou como Francisco, mas para os familiares, continuou a ser Jesus, do mesmo significado daquele do segundo patriarca.
Mas o fato excepcional acontecido é que ele nasceu no mesmo ano que o do meu avô Antonio Pinto do Areal Souto, seu sobrinho, o que justificaria o nome bíblico, pois a minha bisavó Cândida ha muito ultrapassara o tempo das mulheres engravidarem e parirem, já tendo mais de sessenta anos de idade.
Então uma grande seca abateu-se sobre os sertões de Crateús, e a família saiu a pé de Vertentes ou Independência, não sabemos mais ao certo, passando fome e sede pelo caminho, indo parar na serra de Uruburetama, ficando meu avô e tio Francisco Souto com uns parentes ali residentes, em Itapagé e Itapipoca, de onde vieram para o Amazonas.
Apesar de ter chegado como retirante-arigó-seringueiro meu bisavô conseguiu adquirir um pequeno seringal, no Juruá, e pelo seu trabalho educou meu avô, que chegou a ser Governador no Acre e Promotor Federal, em Sena Madureira. Mas esta é outra história.
Tio Francisco do Areal Souto foi para a região de Coari, onde adquiriu um imenso castanhal, foi Prefeito Municipal, Deputado Estadual, Governador Interino do Amazonas e comerciante de produtos regionais.
E foi em Coari que aconteceu esta estória.
No retorno de uma de suas viagens a Manaus, tio Souto trouxera, em sua bagagem, uma novidade especial, uma invenção moderna, que acabava de chegar do Sul, capaz de cozinhar os mais duros alimentos, até carne de pescoço – a panela de pressão.
Talvez não fossem tão bem-feitas quanto as atuais, mas os vendedores diziam que ela cozinhava rapidamente o feijão mais duro e até a carne da anta desmanchava dentro dela.
Chegando ao castanhal tio Souto quis logo experimentar o produto e as suas vantagens, as que lhe tinham passado sobre aquela panela maravilhosa.
Um caçador trouxera-lhe um macaco para o almoço, animal de carne dura e difícil de cozinhar, um ótimo teste para o novo equipamento adquirido. O fogo foi aceso e o macaco, bem temperado na panela, foi colocado em cima do fogão de lenha.
Os convidados, para assistirem a inauguração da panela, foram chegando das localidades vizinhas, ficando ali por perto, entretidos em um animado jogo de dominó. As batidas sobre a mesa repetiam-se, as partidas desdobravam-se, as conversas estendiam-se, os goles de cachaça se repetiam e a panela foi sendo esquecida e aquecida.
De repente um gigantesco estrondo, seguido de um assobio. Todos se voltaram para o fogão e ali já não mais estava na panela. Um furo na cobertura de palha mostrava o azul do céu.
Procuram o objeto em toda a parte, em todos os lugares, no meio da mata, nos arredores da cabana e nada. O esperado almoço de carne amolecida de macaco desaparecera sem deixar rastro.
Logo os mais desconfiados e medrosos começaram a comentar que aquilo teria sido uma obra do coisa ruim, que disfarçado de macaco dentro da panela, enfurecido e aprisionado, desaparecera com ela.
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