Manaus, 26 de julho de 2024

Histórias esquecidas

Compartilhe nas redes:

Introdução

Eu vejo um grande vazio a respeito dos temas que vamos abordar neste livro, talvez por que o Amazonas seja uma região abrangida por diversos tipos de culturas, que convivem sem se misturarem e que só tem de comum o jaraqui frito, o Encontro das Águas e o Teatro Amazonas.

O leve traço de união entre elas foi Manaus, em viagens fluviais, que alguns faziam anualmente, por dezenas de dias, em confortáveis navios, no passado, e até hoje, em atulhadas embarcações, continuando a maioria das suas populações isoladas pela floresta, pelas distâncias e pelas vazantes anuais.

Apesar da mistura interna que se efetua em cada região cultural, continua a existir uma estratificação correspondente às origens raciais de seus componentes. Assim teríamos:

1:- Antiga Cultura Urbana de Manaus fortemente influenciada pelos 15.000 imigrantes portugueses, espanhóis e italianos, os profissionais do ciclo da Borracha, entre 1875 e 1914, e pelos mamelucos e brancos nascidos na terra, ocupantes dos cargos públicos em todos os níveis, que bloqueavam a entrada de nordestinos e cabocos, na cidade, vivendo uma imitação da vida europeia, no Equador terrestre, daí este buraco negro da nossa literatura, mais voltada para outros modelos estabelecidos na terceira margem do rio, em Paris, Lisboa, Londres, Berlim e Liverpool.

Evoluiu a partir do fim do ciclo da borracha pela invasão da elite nordestino-amazônica do interior, mais tarde pela emigração de populações indígenas e mamelucas e, a partir da Zona Franca, por novas levas de brasileiros de diversos estados, principalmente do Pará e do Nordeste. Hoje somos policulturais e em lutas antropofágicas, como nos velhos tempos, quando nos aliávamos aos estrangeiros, para destruirmos os nossos vizinhos.

2:- Cultura Nordestino-Amazônica com variantes em cada bacia dos chamados rios da borracha:

Javari, Juruá, Alto e Baixo Solimões, Purus e Madeira, esta a cultura dos seringais, e na região do Careiro-Autazes, outra variante, dedicada à agricultura e à pecuária de várzea.

3:- Cultura Amazonense Arcaica – abrangendo as populações coloniais civilizadas do rio Negro e Branco, de Manaus por Barcelos até São Gabriel e Boa Vista, com tradições diferentes das outras.

4:- Cultura Cabocla Amazônica – da área central da Amazônia, de Itacoatiara ao estreito de Breves, abrangendo partes do Amazonas e do Pará, a mais regional, correspondendo aos tempos da autossuficiência agrícola, da unidade de produção a que denominei de sítio, produzindo milho, feijão, farinha, manteiga de tartaruga, pirarucu seco e drogas do sertão. Comercializando com a civilização externa através dos regatões – a Amazônia Clássica.

5:- As Culturas Indígenas que no tempo da Colônia estavam representadas por povos falando mais de 600 línguas diferentes, de quem o Padre Vieira teria dito: “Se Babel fosse localizada em alguma parte do Mundo, ela seria aqui”. E continuam sendo muitas, cada uma com a sua cultura própria e sua língua, espalhadas por este imenso território.

Talvez, por que essas culturas fossem sem escrita, tenha acontecido o silêncio dos seringais, tabas e beiradões, e somente alguns dos sons, que elas emitiram nessa época, foram os articulados nas poesias dos jornais das cidades do interior, onde a maior parte dos ricos seringalistas era analfabeta e só alguns advogados, jornalistas, guardas livros e encarregados de seringais sabiam ler e escrever.

Também os tempos eram outros e o arbítrio das autoridades muito impediu o desabrochar desta literatura dos contos e dos costumes, da qual os amazonenses se ressentem. Principalmente depois do crítico vaudeville O Patureba, de cujos resquícios só ficaram o anúncio da estreia e uns curtos comentários, nos jornais, além dos padecimentos do seu autor Thaumaturgo Vaz.

Hoje, nós amazonenses, somos minoritários, em Manaus, verdadeiros animais em extinção, motivo pelo qual, em programas de televisão de que participo, sempre digo: socorro IBAMA.

Talvez seja contraditório ao que todos pensam, mas o que nos salva do desaparecimento são os paraenses, da nossa mesma linha cultural, na verdade amazonenses que retornam, pois em dado momento da História, após os massacres dos aruã e tupinambá, o Grão Pará foi repovoado com os índios descidos do Alto Amazonas. Porém, no futuro, em duas gerações, voltaremos a ser majoritários.

Visits: 23

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques