Manaus, 29 de junho de 2025

Imigração judaica em Itacoatiara (Continuação)

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O Jornal A Epocha de 14 de outubro de 1917, cita em nota social a solenidade de iniciação a vida civil do jovem Leon Perez:

No dia 11 do corrente mez, teve logar, com raro esplendor, a confirmação do jovem Leon Perez, dilecto e intelligente filho do nosso ilustre amigo Sr. Isaac José Perez e de sua digna esposa D. Rachel Perez. (A solenidade), É o festejado tefilin da lei judaica, o qual é um acto por demais tocante e muito significativo; pois marca a entrada para o culto e para a vida civil, do pequeno israelita, que completa 13 annos de idade. Apos a parte religiosa, seguiu-se um profuso ágape, durante o qual foram trocados enthusiasmados brindes. Nossos parabens ao distincto Sr. Isaac Perez e a sua exma consorte ( A EPOCHA  de 14 de outubro de 1917. Anno I, numero 21, p. 02).

Heller (2010), aponta que o congracamento religioso associado a convivencia social era a forma da comunidade projetar para a juventude a aproximacao com o casamento endogâmico, essa prerrogativa, reforça a tese da família como papel de preservação da identidade judaica. Portanto, a família constituía elemento, que estava intrisecamente associada à prática diária da religião. Quando o rigor desta prática era relaxado, a tendência era de maior assimilação. Para esses judeus marroquinos que faziam da família o núcleo a partir de qual construíram sua judeidade em plena Amazônia, a identidade judaica era não apenas profundamente arraigada, como admitida com orgulho e alegria. Eles souberam diferenciar-se muito bem, da vida em sociedade, em relação ao seu cotidiano íntimo familiar. Influenciados pela tradição dogmática da religião, e pela formação laica na AIU, não hesitaram em adotar para si a máxima do cidadão de fé mosáica, que implicava em ser: brasileiro como todos na rua ou no trabalho, e judeu praticante dentro de casa (BENCHIMOL, 1996). Assim viveram a ambivalência cultural, pois nem sempre a kashrut -a dieta judaica- era praticada fora do lar. As diferenças eram, assim, dissimuladas. Procurava-se, também, estabelecer vínculos de solidariedade com a população das cidades ribeirinhas da Amazônia e, inclusive, com a igreja Católica, de forma a dissipar, na raiz, qualquer veleidade anti-semita.

Atinente a essas possibilidades de relação matrimonial, entre o caboclo e o judeu, sobressai em essência a identidade tradicional judaica na perspectiva de Benchimol (2008),  sobretudo, como forma de conservação da tradição, entendida como algo estável e que estaria sendo constantemente ameaçada em decorrência de casamentos mistos. As mudanças por sua vez, são vistas como formas de distorção de uma tradição que está o tempo inteiro desaparecendo, como consequência das diásporas, em choque com o outro. O que talvez tenha faltado a análise de Benchimol (2008),  a nosso ver, foi a sensibilidade de entender que foi por meio das mudanças e adaptações que os judeus reexistiram há mais de dois séculos de imigração na Amazônia. A abertura e flexibilização dos costumes já vinham sendo feitas desde o exílio marroquino, e diante das possibilidades de novas adaptações ao espaço/tempo amazônico, sobressairam novas perspectivas de reinventar uma tradição que está sempre em constante movimento.

(Continua próxima semana)

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