Manaus, 16 de setembro de 2024

INPA: ciência, desenvolvimento e mercado

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É o INPA que sabe responder a questões sobre a importância e a necessidade do bioma Amazônia para o Brasil e para o mundo. Infelizmente, sofremos a síndrome de vira-latas e damos créditos a determinadas instituições estrangeiras que, muitas vezes, vendem muito caro o naco que conseguiram capturar/compreender/compilar.

É preciso reinventar o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia! Este brado percorre os bosques do INPA, o maior centro de pesquisa tropical do planeta com um acervo monumental de informações capaz de fomentar um novo tempo na direção da bioeconomia sustentável. Para tanto, impõe-se uma interação institucional entre os segmentos afins da Ciência, Tecnologia e Inovação na perspectiva do mercado, emprego renda. Internamente, é aconselhável recriar o modelo de gestão da ação pública na região, dentro de um referencial interdisciplinar e interinstitucional que aproxime pesquisa e desenvolvimento num movimento incessante.

Reinventar é definir as premissas científicas e tecnológicas da produção de conhecimento na Amazônia e, principalmente, interagir com a alteridade social. Afinal, em qualquer relacionamento, um ator só passa a existir quando o outro o descobre, valoriza e possibilita a troca, a interlocução e a interação com objetivos comuns. Simples assim. Neste momento, em que se discute a escolha de uma nova diretoria para o instituto, mais uma vez, os servidores buscam estabelecer critérios e habilidades para um novo mandato. Como delegar poder aos representados se a força institucional foi corroída pelo orçamento esvaziado e pela ausência de um planejamento coletivo e interativo que definam metas, métricas e responsabilidades?

Ora, se o INPA precisa ser reinventado, a lógica exige mudanças neste formato intramuros para pontuar os requisitos da transformação. Isso não implica em ignorar ouvir depoimentos de quem não abandonou a nave, aqueles que ora carregam, heroicamente, a instituição, a despeito da ruína de seus recursos materiais, instrumentais e do cenário depauperado das condições de trabalho de quem ali atua. É bem verdade que alguns setores, com parcerias institucionais pontuais, são destacadas exceções.

Em qualquer contexto, entretanto, é preciso conquistar o envolvimento do tecido social para que seus gestores públicos acordem para a necessidade premente da investigação científica, o rumo do desenvolvimento que ela aponta e os requisitos de sustentabilidade para transformar o conhecimento em produtos. É preciso assegurar as condições de um novo mercado baseado numa economia que imita, protege e aproveita a diversidade biológica da natureza Amazônica.

O envolvimento da sociedade significa apresentar-lhe 70 anos de investigação rigorosa e vigorosa do INPA, uma jornada fecunda de informações que precisam ecoar com espírito de partilha entre potenciais parceiros decididamente dispostos a responder às demandas de emprego, renda, oportunidades e responsabilidade socioambiental. Responsabilidade compartilhada deveria ser este o espírito da Lei que, infelizmente, prioriza o proibicionismo em detrimento dos empreendimentos e benefícios que a ação verbal do fazer em conjunto deve ser declinada na primeira do plural.

No Repositório do INPA são encontrados em torno de 40 mil nomes de estudiosos e suas preciosas informações, ou seja, a devolutiva do produto científico como contrapartida do investimento em exercícios científicos no inventário desta biodiversidade sem fim. Quem duvidar desta robusta contribuição é porque frequenta o culto negacionista do conhecimento. Que seria da Amazônia sem o INPA, o grande artífice da construção de nossa identidade. Ou a floresta seria um Saara tropical a serviço da civilização predatória e inculta. E toda informação será poderosa na construção de uma sociedade livre quando gerenciada com sabedoria e propósitos calcados nos direitos civis.

É o INPA que sabe responder a questões sobre a importância e a necessidade do bioma Amazônia para o Brasil e para o mundo. Infelizmente, sofremos a síndrome de vira-latas e damos créditos a determinadas instituições estrangeiras que, muitas vezes, vendem muito caro o naco que conseguiram capturar/compreender/compilar. Sempre que os saberes creditados às instituições estrangeiras são submetidos ao aprofundamento científico é muito frequente a identificação dos pontos de partida em que se baseiam: ou são informações geradas no INPA ou seu autor passou frequentou a Instituição.

Senão vejamos: questões relacionadas à fauna amazônica estão sendo produzidas em grande escala no INPA. Se originam no INPA ou ali são validadas as comprovações. São geradas no campo, sua veracidade ocorre no mato, sempre amparada pelo suporte de mateiros, verdadeiros cientistas intuitivos que trazem a pulsação da floresta em seu portfólio genético. Não importa quem aprende e quem ensina num dado momento pois os trabalhos, temas, dilemas e problemas vibram e brotam num movimento sem fim.

Manejo e inventário florestal, a dinâmica do carbono, a troca de nutrientes e resíduos entre a floresta e a civilização devastadora que nem desconfia o tamanho dos benefícios desenvolvidos pelo INPA. Questões de doenças negligenciadas na Amazônia são objetos de investigação permanente e bem sucedidos mediante as demandas do tecido social.

É no INPA que ainda são validadas faz contraprovas dos testes feitos no Hospital de Doenças Tropical. Questões relacionadas à mudança climática pesquisadores do INPA fazem parte do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU). Cabe ao Instituto assegurar ou referendar a identificação de espécies animais e vegetais e suas relações com a natureza. Todos os trabalhos de Estudo e Relatório de Impacto são baseados na autoridade do INPA. A piscicultura da Amazônia foi desenvolvida pelo INPA, e se tornou uma matriz econômica distribuída por toda a Amazônia, com as melhores informações e conhecimentos. É no INPA que são produzidos os referenciais sobre biologia de água doce utilizados na piscicultura tropical no mundo inteiro.

Peça ajuda ao Google para viajar no Repositório do INPA, https://repositorio.inpa.gov.br/, teses e dissertações, artigos científicos, vídeos, imagens…

INPA: ciência, desenvolvimento e mercado – parte II

“Vamos considerar o papel da Botânica como um dos exemplos de nossas contradições: este é o único curso de pós-graduação na Amazônia e está para ser extinto. Neste curso estão envolvidos 20.000 anos de relacionamento entre as populações indígenas e o acervo natural do bioma amazônico.”

O INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), assim como todo país, está sob o signo da política, no modo empobrecedor do maniqueísmo, onde o mundo está classificado entre anjos e demônios. Assim procedendo ficamos longe da democracia, um exercício histórico e cultural de ordenamento do interesse público. Uma metodologia cívica que é preciso adotar. A demonização dos atuais gestores do INPA é incongruente e não agrega na adoção do interesse civil. Ciência é ação compartilhada em sentido amplo, quando explicitamos os propósitos de seus atores e respectivas implicações sociais e econômicas em jogo. Vivemos um período muito pobre da nossa história para conviver com deleites acadêmicos que não priorizem a geração de emprego, renda e distribuição de oportunidades, de olho no mercado e na geração de riquezas e de sua distribuição inteligente. Sem esquecer que a melhor maneira de proteger um bem natural é atribuir-lhe uma atividade econômica sustentável.

O local que o INPA deve ocupar

O INPA precisa ser tratado como um instituto para fazer Ciência com o radar ligado na realidade presente e suas determinantes na escolha dos objetos, objetivos e compromissos do saber a ser consolidado. Não há espaço para o laissez faire, ou seja, cada macaco na sua ingazeira, quando o motor desta atividade é o dinheiro do contribuinte. O papel do gestor público é assegurar a sacralidade desta vinculação, suas premissas e métricas de resultados..

Vamos considerar o papel da Botânica como um dos exemplos de nossas contradições: este é o único curso de pós-graduação na Amazônia e está para ser extinto. Neste curso estão envolvidos 20.000 anos de relacionamento entre as populações indígenas e o acervo natural do bioma amazônico. Entomologia com informações sobre os insetos da Amazônia, sua forma de vida e sua relação com o seu ambiente; Genética, a dinâmica da vida, sua propagação e possibilidade de perenidade; Ciências Florestais e Ecologia (atualmente temos os melhores cursos de pós-graduação nessas áreas no Brasil). É fundamental enfatizar duas coisas importantes nestes cursos: 1. Cursar alguns programas de pesquisa no INPA é considerado uma experiência entre as mais raras no mundo, posto que o pesquisador vê o objeto de seu estudo no esplendor da natureza Amazônia que se descortina a sua frente. Os dados, na sua maioria, são primários e experiência de campo na floresta Amazônica dos estudantes do INPA é única e indescritível. 2. Cerca de 85% dos alunos formados pelo INPA ficam na Amazônia, alguns exercem cargos relevantes na Amazônia Continental. Esta é a mais preciosa cultura amazônica, seu modo amoroso de olhar e cuidar da realidade e seus determinantes ambientais.

Nossos cursos, com efeito, devem avançar na multidisciplinaridade, expandir na utilização de equipamentos com maior agregação tecnológica, conjugar inovação e aprofundamento científico. Assim fica mais fácil acessar e integrar as diversas áreas do conhecimento. Sem descuido de estatísticas, bases matemáticas e modelagem que devem fazer parte, com a facilitação de instrumentos eletrônicos que integram esse processo, mas não dispensam o domínio das variáveis e interpretações da intuição humana. A Academia de Estatística dos Estados Unidos tem alertado ao mundo erros de análises seríssimos em grande parte da produção cientifica em movimento, incluindo as publicadas nas revistas cientificas mais importantes.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA

Algumas teses já poderiam ser defendidas simultaneamente por 2 ou 3 ou mais pesquisadores. Assim os alunos poderiam ser avaliados por sua capacidade de desenvolver trabalhos multi, e interdisciplinares, somando ares de conhecimento e diversidade de abordagens para um relevante problema. Há um círculo vicioso na rotina da pós-graduação quando prioriza a titulação desvinculada da necessidade de integração com a realidade econômica e social em que está inserida. Temos necessidade de desenvolvimento tecnológico dada a escassez do conhecimento interdisciplinar nesta área inovadora. É fundamental criar mecanismos para bons alunos para se deslocarem para centros destacados para execução/adensamento de seu acervo de conhecimento e experiência.

Na área de piscicultura e floresta, existe uma rotina histórica e bem-sucedida nessa troca de experiências.

Quando falamos em urgência do INPA se reinventar, queremos acentuar a emergência e a gravidade de algumas questões. O INPA está minguando na quantidade de pesquisadores e técnicos, na sua forma de governança, na produção cientifica e na sua participação de assuntos relacionados as suas áreas de competências juntos a sociedade. E por uma razão muito simples: como qualquer outra instituição pública, muitos servidores estão se aposentando, alguns infelizmente faleceram. Isto implica que houve linha de pesquisas suspensa e que pararam e alguns laboratórios estão sem funcionamento.

No caminho entre o laboratório e o chão de fábrica, antes de testar o produto no mercado, é preciso que façamos pequenas revoluções organizacionais, tecnológicas com a participação de especialidades que, outrora, não imaginávamos ser tão importantes para essa expansão do conhecimento e sua conexão com o interesse maior da sociedade. Os novos equipamentos, como a adoção de energia infravermelha, do raio laser, Drones, nanotecnologia e por aí vai porque a lista é enorme, precisamos abrir as portas “sagradas” dos laboratórios e acolher os especialistas do cotidiano, permitir que eles nos orientem, compartilhe suas habilidades e as integre com as nossas.

Cabe aventar, aqui, a distribuição farta de sandálias da humildade, a começar pelo auto reconhecimento de que alguns métodos, alguns referenciais teóricos e algumas certezas dogmáticas se revelaram obsoletas E pela falta de acesso a equipamentos com mais rigor de análise e de resultados. E ao usar a expressão chão de fábrica, queremos dizer o tamanho das lições que precisamos assimilar para a produção em série de nossos inventos. Planilha de custo, gestão corporativa, logística avançada, análise de custo benefício. Aqueles que geram riqueza tem muito o que nos ensinar para retirarmos dos escaninhos as descobertas que ficaram nas pastas suspensas da desarticulação institucional. 

Voltaremos!

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