Manaus, 27 de julho de 2024

Integridade

Compartilhe nas redes:

Nas minhas aulas de Introdução à Economia, no primeiro período da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), quando ela funcionava no lindo prédio da Praça dos Remédios, em Manaus, aprendi que os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas. O meu professor da época repetia isso como um mantra. E ele tinha razão.

Logo percebi que, quanto mais alto fosse o preço de mercado de alguma coisa, mais rara ela seria. É um raciocínio simples, porém exato. As areias do deserto, por exemplo? Valem nada. E um oásis neste mesmo deserto? Vale tudo. Guardadas as devidas proporções, a vida da gente, os nossos relacionamentos, de qualquer natureza, também se medem e se pautam por este princípio. Se algo é muito fácil de se ter, se é farto, não interessa. Se, ao contrário, é raro e difícil de se obter, o seu valor vai lá pra cima.

Então, pergunto, o que é farto nos dias de hoje? Infelizmente, a falta de caráter, de ética, a desfaçatez, a ignorância, a corrupção em todos os níveis. E o que escasseia, por outro lado? Pessoas em quem se possa confiar… Pessoas do bem, lapidadas, altruístas, honestas, colaborativas, propositivas.

A crise que vivemos (política, econômica, social) é, portanto, no fundo e no fim, uma crise de CONFIANÇA, o capital, digamos assim, que aparentemente está quase em extinção, ou que, nos dias hoje, anda menos, muito menos evidenciando, pelo culto desavergonhado que muitos fazem ao banditismo. Não é por outro motivo que os tribunais estão entulhados de processos e ganharam protagonismo. É porque muitos perderam a capacidade de resolver as suas questões com base em princípios e valores edificantes, querem levar vantagem em tudo, atirando os escrúpulos às favas.

Apesar disso, as pessoas mais felizes e bem-sucedidas – e bem-sucedidas porque felizes – são aquelas que inspiram confiança. É claro, é lógico! Quem quer ter um amigo ou uma companheira ou companheiro de vida que lhe viva suscitando dúvidas? Quem quer fazer negócios com aquele camarada especialista em enganar o cliente ou o fornecedor? Quem quer um sócio trapaceiro? Quem quer um colega de trabalho que conspire contra os objetivos do grupo, que viva fomentando intrigas? Quem quer conviver com um egoísta, que tudo faz para derrubar os outros para alcançar os seus torpes objetivos? Quem quer um eleger um político sabidamente desonesto, que lhe vai continuar roubando? Aqui pra nós, só alguém que seja feito da mesma matéria. Meu amado pai, que era um sábio, sempre me dizia, parafraseando Newton, que “matéria atrai matéria”, no sentido de que gente boa atrai gente boa, e gente ruim atrai gente ruim.

Competência técnica, inteligência emocional, capacidade de se relacionar, tudo isto é importante para aquilo que se chama “sucesso”. Fundamental, todavia, para o sucesso sem aspas, é a integridade, que se expressa, dentre outras coisas, na capacidade que o sujeito possui de confiar e de inspirar confiança.

O Brasil precisa de integridade. Nunca precisou tanto.

Visits: 4000

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques