Manaus, 18 de junho de 2025

Inteligência Artificial e Zona Franca de Manaus: perspectivas da produtividade

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“No entanto, será essencial que empresas e governos invistam em capacitação e infraestrutura para garantir que os benefícios da Inteligência Artificial sejam amplamente distribuídos, evitando que a automação agrave o desemprego na região.”

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma peça-chave da economia global. Empresas de todos os setores estão adotando soluções baseadas em IA para otimizar processos, reduzir custos e impulsionar a produtividade. No entanto, o crescimento acelerado da tecnologia levanta preocupações quanto ao impacto no emprego, exigindo um equilíbrio delicado entre inovação e regulamentação.

O Status Atual da Inteligência Artificial e Seus Impactos

A IA já está profundamente integrada ao dia a dia das empresas e dos consumidores. Desde algoritmos de recomendação em plataformas de streaming e e-commerce até assistentes virtuais, carros autônomos e sistemas de diagnóstico médico baseados em machine learning, sua aplicação se expande rapidamente.

O principal benefício dessa transformação é o ganho de produtividade. Com a automação de tarefas repetitivas e o aumento da eficiência em diversos setores, as empresas conseguem reduzir custos operacionais, melhorar a qualidade dos serviços e inovar mais rapidamente. Um estudo da consultoria PwC estima que a IA pode adicionar até US$ 15,7 trilhões à economia global até 2030.

Por outro lado, a automação também levanta preocupações sobre o desemprego estrutural. Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 14% dos empregos atuais podem ser automatizados nas próximas décadas, e outros 32% sofrerão transformações significativas. O grande desafio será requalificar trabalhadores para novas funções dentro dessa economia digital.

Adoção da IA no Mundo: Europa, Ásia e EUA

Diferentes regiões do mundo adotam abordagens distintas em relação à esta tecnologia refletindo suas prioridades econômicas e regulatórias.

• Europa: O continente tem buscado equilibrar inovação com regulamentação. O AI Act, primeiro conjunto de regras abrangentes para Inteligência Artificial no mundo, estabelece diretrizes rigorosas para o uso de algoritmos, priorizando ética e transparência. No entanto, como demonstrado na recente Cúpula de Ação de IA em Paris, a França vem adotando uma estratégia mais flexível, buscando atrair investimentos e fomentar um ecossistema competitivo de Inteligência Artificial, em contraste com a abordagem regulatória mais rígida da União Europeia.

No entanto, será essencial que empresas e governos invistam em capacitação e infraestrutura para garantir que os benefícios da Inteligência Artificial sejam amplamente distribuídos, evitando que a automação agrave o desemprego na região

• Estados Unidos: O país lidera o desenvolvimento global no setor, impulsionado por empresas como Google, Microsoft e OpenAI. A abordagem americana é mais descentralizada e orientada pelo mercado, com menos regulamentação e forte incentivo à inovação. Com a volta de Donald Trump ao governo, o país trouxe a questão da Inteligência Artificial para o centro gerencial das suas atribuições.

• Ásia: China e Japão estão entre os maiores investidores nessa disputa. A China, em particular, busca liderar o setor com políticas governamentais ambiciosas e grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, sua abordagem de regulamentação é distinta: o Estado supervisiona diretamente o uso dessas ferramentas, mas permite que empresas nacionais operem com grande liberdade para desenvolver novas tecnologias.

Oportunidades e Desafios no Brasil

O Brasil tem avançado na adoção, mas enfrenta desafios estruturais, aparato tecnológico deficiente, escassez de profissionais qualificados e falta de incentivos regulatórios claros. Algumas iniciativas públicas e privadas têm tentado mudar esse cenário. Segundo relatório divulgado pelo Google em 2023, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), até 2025, o Brasil deve ter um déficit de 530 mil profissionais da área de tecnologia. O estudo mostra ainda que, anualmente, 53 mil profissionais, entre os anos de 2023 e 2025, no entanto, a demanda por novos talentos nesse período será de 800 mil.

No setor privado, os bancos e empresas de tecnologia já utilizam intensivamente para otimizar serviços, enquanto startups vêm explorando soluções em setores como agronegócio e saúde. No entanto, a adoção da tecnologia ainda é desigual: enquanto grandes empresas conseguem investir em IA, muitas pequenas e médias empresas enfrentam barreiras para incorporar essas inovações.

O impacto no mercado de trabalho brasileiro será significativo. Um estudo do Banco Mundial estima que 46% dos empregos no país podem ser afetados pela automação. A grande questão é como o Brasil lidará com essa transformação: se apostará na capacitação da força de trabalho para novas funções ou se enfrentará um aumento no desemprego estrutural.

Oportunidades para a Zona Franca de Manaus

Zona Franca de Manaus (ZFM), polo industrial estratégico do Brasil, pode se beneficiar enormemente da inteligência artificial, especialmente no ganho de produtividade e inovação. Algumas das principais oportunidades incluem:

Automação da Indústria – Empresas do Polo Industrial de Manaus podem utilizar IA para otimizar processos produtivos, reduzir desperdícios e aumentar a eficiência. Ferramentas de manutenção preditiva, por exemplo, permitem prever falhas em máquinas antes que elas ocorram, reduzindo custos operacionais e aumentando a vida útil dos equipamentos.

Cadeia de Suprimentos Inteligente – IA pode ser usada para melhorar a logística e o gerenciamento da cadeia de suprimentos na ZFM, reduzindo prazos de entrega e otimizando estoques. Isso é especialmente relevante para uma região onde desafios logísticos impactam os custos da produção.

Sustentabilidade e Eficiência Energética – Com a crescente pressão por práticas sustentáveis, empresas da ZFM podem usar para monitorar e reduzir emissões de carbono, otimizar o consumo energético e implementar processos industriais mais ecológicos.

Desenvolvimento de Novos Produtos – O uso no design e na inovação de produtos pode permitir que empresas da ZFM criem soluções mais competitivas no mercado global, fortalecendo a posição do Brasil na bioeconomia e na indústria 4.0.

Capacitação e Treinamento – A tecnologia também pode ser uma aliada na formação de trabalhadores locais. Plataformas de aprendizado baseadas em IA podem personalizar treinamentos, ajudando a requalificar a mão de obra para novas funções dentro do setor industrial.

“Tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo”

Os filósofos pré-socráticos tinham razão ao questionar a tendência natural da consciência humana em absolutizar o mundo real. A realidade está em constante movimento. “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo”, afirma Heráclito.

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(250210) — PARIS, Feb. 10, 2025 (Xinhua) — This photo taken on Feb. 10, 2025 shows the venue of the AI Action Summit held at the Grand Palais in Paris, France. The summit, which falls on Feb. 10 and 11, focuses on five major themes: Public Interest AI, Future of Work, Innovation and Culture, Trust in AI, and Global AI Governance. (Xinhua/Gao Jing)

A inteligência artificial está remodelando a economia global, oferecendo ganhos expressivos de produtividade, mas também levantando desafios relacionados ao emprego. Enquanto países como EUA e China apostam no avanço acelerado da tecnologia, a Europa busca equilibrar inovação com regulamentação. No Brasil, a adoção ainda é desigual, mas apresenta grande potencial de crescimento.

Para a Zona Franca de Manaus, a Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta essencial para modernizar a indústria, melhorar a eficiência produtiva e tornar o polo mais competitivo globalmente. No entanto, será essencial que empresas e governos invistam em capacitação e infraestrutura para garantir que os benefícios sejam amplamente distribuídos, evitando que a automação agrave o desemprego na região. O futuro da IA no Brasil dependerá da capacidade do país de transformar inovação em inclusão econômica.

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