No último dia 20 do presente mês de mês junho, foi lançado em Itacoatiara o livro “Paraíso Perdido às Itakuatiaras. História e Arqueologia”, da experiente professora e intelectual Maria de Castro Gama – marcante acontecimento que reuniu uma expressiva parcela da população da cidade, incluindo autoridades, escritores e estudantes. Membro da Academia Itacoatiarense de Letras e ex-presidente da ARTEITA (Associação dos Artesãos de Itacoatiara), a autora é conhecidíssima na região e possui larga expediente no campo sociocultural.
A obra é um verdadeiro tratado de História da Amazônia, fundamentada na trajetória dos primeiros habitantes da região de Itacoatiara; um livro de memórias, indispensável à pesquisa científico-acadêmica; enfim, um instrumento direcionado ao estudo sério, ao debate e à divulgação do passado da Amazônia interiorana.
“Paraíso Perdido às Itakuatiaras” merece ser lido; precisa ser divulgado. Tive o prazer de elaborar o seu prefácio – peça que transcrevo abaixo:
Prefácio
“Paraíso Perdido às Itakuatiaras. História e Arqueologia”, livro de estreia de Maria de Castro Gama, é uma valiosa adição ao acervo bibliográfico de Itacoatiara, que tem se expandido nos últimos tempos. Representa um esforço admirável para melhor compreender a trajetória deste Município. A narrativa da obra não se restringe à contação pura e simples dos fatos centrados na ação/atuação dos primeiros colonizadores da Amazônia.
O trabalho da professora Maria de Castro é insinuante, indica pormenores. Os vestígios arqueológicos que identificam rios e formações rochosas da microrregião de Itacoatiara são testemunhos de tempos imemoriais.
Muitos desses registros, incluindo o Sítio Itaquatiara, ainda resistem ao passar dos séculos, embora se encontrem em estado extremamente precário. Desgastados pela ação do tempo e frequentemente alvo de interferências humanas, correm o risco iminente de desaparecer, comprometendo parte da memória histórica e cultural da região
Eles atualmente contêm apenas marcas; restos de registros hieroglíficos e de produtos cerâmicos. São meros testemunhos de povos e épocas de antigamente, que moldaram a identidade desta região.
Os avanços da obra de Maria de Castro não se expressam apenas em remarcar o alto significado da trajetória dos povos originários, que habitaram a microrregião de Itacoatiara, e um tanto da sua luta indormida pela preservação e proteção desse rico espaço tropical.
A Autora ousou muito mais e, aqui, registro o valor fundamental da obra que tenho o prazer de prefaciar: Maria de Castro foi fundo na pesquisa e na dissertação do tema buscando registros da trajetória indígena desde o século 16.
Na elaboração deste trabalho, Maria de Castro contou com o assessoramento direto de sua filha Kátia Gama Monteiro Fontenelle. Bravas mulheres amazônicas, ambas! Comungando dos mesmos ideais, foram incansáveis na formulação e conclusão do projeto que redundou nesta obra. Consultaram os melhores autores sobre a Temática Amazônica e, como se irmãs fossem, mantiveram-se unidas, buscando informações, trocando ideias, fazendo e revisando anotações.
Não se ativeram a pesquisar somente em recintos fechados. Idealistas, além de consultarem bibliotecas e tratarem com estudiosos, foram a campo; visitaram sítios arqueológicos em Itacoatiara e no rio Urubu; estiveram em Nova Olinda do Norte, Canumã e Abacaxis. Nestas e noutras regiões, entrevistaram comunitários, fizeram pesquisas, gravaram diálogos, colheram imagens. Desse trabalho, resultou a obra “Paraíso Perdido às Itakuatiaras”.
Autora e Assessora cumpriram, enfim, com rigor e absoluta coerência, os ditames da moderna pesquisa. Através da análise de fontes primárias e secundárias, buscaram reconstruir os acontecimentos, interpretar o seu significado e analisar as causas e consequências dos fatos pertinentes ao trabalho sob sua responsabilidade.
Kátia Gama é administradora, oradora e escritora. Concluiu o ensino médio com formação técnica em Contabilidade pela Escola Vital de Mendonça. Graduou-se em Letras pela UFAM, com pós-graduação em Literatura e Língua Portuguesa. Possui mestrado em Ciências da Educação conferido pela Universidade de Integração das Américas (UNIDA), sediada em Assunção, Paraguai.
Simpática e expansiva, Kátia Gama sempre acreditou na força da educação, da arte e da espiritualidade como instrumentos de transformação. Tem participado ativamente dos movimentos socio-culturais de Itacoatiara. Tem uma vida corrida, como é próprio das pessoas estudiosas.
Durante 20 anos, Kátia atuou no setor financeiro, em banco privado, onde desenvolveu experiências em gestão, atendimento e planejamento estratégico. Paralelamente a tais atividades profissionais, há 25 anos tem se dedicado ao trabalho voluntário na Obra Social Chico Xavier, vinculada ao Centro Espírita Maria Dolores, onde atualmente exerce a função de vice-presidente.
Sua atuação nessa instituição beneficente abrange os setores de evangelização de jovens e adultos, além da coordenação e participação em atividades culturais e artísticas, como teatro, artes visuais e oficinas educativas. Paralelamente a tais atividades, Kátia Gama integra a rede pública municipal de ensino, mantendo um firme compromisso com a formação humana e o desenvolvimento da comunidade jovem do Município de Itacoatiara.
A professora Kátia Gama desempenhou um papel fundamental na elaboração deste trabalho. O assessoramento que deu à Autora, permitiu-lhe desenvolver um estudo maduro, bem estruturado e informativo capaz de oferecer à comunidade científica e acadêmica um panorama mais dinâmico sobre a História e a Arqueologia deste Município. A colaboração e o comprometimento de Kátia Gama foram essenciais para a realização de “Paraíso Perdido às Itakuatiaras”.
Quanto à Autora, trata-se de uma mulher determinada e resiliente que, por meio de sacrifícios, de estudo e muito trabalho, soube se firmar na sociedade amazonense. Maria de Castro Gama nasceu no rio Arari, e muito tem batalhado para honrar suas origens. Como palestrante e pesquisadora, tem participado ativamente da vida social, acadêmica e cultural de Itacoatiara.
Inteligente e visionária, a Autora estudou magistério em Manaus; atuou como docente da rede pública (SEDUC/Am) durante 30 anos, com incursões nos municípios de Eirunepé, Ipixuna e Guajará; tem graduação em História e é especialista em Museologia pela UFAM.
Maria de Castro presidiu durante muito tempo a Associação dos Artesãos de Itacoatiara (ARTEITA). Sócia do Centro Recreativo dos Professores de Itacoatiara (CREPI); membro fundadora e vice-presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Itacoatiara (IGHI); e sócia efetiva da Associação Cultural e Recreativa dos Artistas de Itacoatiara (ACRAITA), instituição onde exerce a 2ª Secretaria.
A presente obra, agora entregue ao público leitor, é fruto de extensas e aprofundadas pesquisas conduzidas ao longo de vários anos. O tempo dedicado pela Autora para sua elaboração é perfeitamente compreensível, dada a riqueza de conteúdo e a amplitude do texto. Os que esperavam uma leitura breve e superficial certamente se surpreenderão com a profundidade e o detalhamento apresentados.
Antes de abordar diretamente o tema sugerido pelo título, o livro conduz os leitores por uma imersão nos aspectos essenciais da fascinante História da Amazônia. A narrativa percorre desde as sociedades indígenas pré-colombianas, passando pela chegada dos colonizadores europeus e os impactos de sua presença, incluindo os massacres ocorridos nas Américas, as guerras no Brasil colonial, as disputas territoriais pela região amazônica e, por fim, a incansável resistência dos povos indígenas.
Esses temas, que precedem a História civil e cristã de Itacoatiara, são fundamentais ao estudo e à pesquisa sócio-cultural, cujos textos são de grande relevância e particularmente indicados para aqueles que desejam se aprofundar na matéria. Servem como recursos essenciais para estudantes, acadêmicos e qualquer pessoa interessada em compreender as origens e a trajetória histórica desta parte da Amazônia interiorana, oferecendo análises detalhadas e narrativas enriquecedoras sobre a História de Itacoatiara.
O contexto deste Prefácio objetiva propiciar uma leitura mais atenta ao Capítulo desta obra referente aos sitios históricos e à etimologia do nome da nossa cidade. Afinal, qual o significado do termo Itacoatiara?
O nome é originariamente indígena, e está ligado às inscrições rupestres encontradas em nossa região. Derivado do tupi moderno ou nheengatu, esse título se desdobra em duas partes: “Itá”, que significa pedra, e “coatiara”, que pode ser traduzido como pintado, gravado, escrito ou esculpido. Assim, o nome da cidade remete à presença de pedras com inscrições feitas pelos povos originários, um verdadeiro testemunho da História ancestral da Amazônia.
Em um trecho da obra “Tesouro Descoberto do Máximo Rio Amazonas”, do padre João Daniel (1722-1777), onde ele descreve aspectos da região amazônica, lemos o seguinte:
“[…] O rio Amazonas, em sua vastidão, guarda riquezas inestimáveis, desde suas águas caudalosas até os povos que nele habitam. Suas margens são adornadas por pedras e formações naturais que contam a história da terra e de seus habitantes”.
Também discorrendo a respeito, a Autora deste livro é taxativa:
“[…] Nossa história, a verdadeira, merece ser contada com respeito.
“[…] As verdadeiras Itakuatiaras estão lá no Jauarí e no rio Urubu. São elas que guardam as expressões rupestres dos nossos antepassados, caretas milenares, grafismos em baixo-relevo, traços de uma história que resiste ao tempo”.
Ao encerrar a feitura desta peça introdutória proclamo, com alegria e muita satisfação: A História não é um conjunto de datas frias, mas sim o pulsar do tempo, onde ideias se transformam, sociedades evoluem e o espírito humano desafia seus próprios limites. O livro da professora Maria de Castro Gama é um convite à reflexão, à redescoberta e ao entendimento das forças que nos moldaram. Boa leitura!
Itacoatiara, 20 de junho de 2025
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