Manaus, 23 de julho de 2025

Manaus em 1900: uma cidade que não existe mais

Avenida Eduardo Ribeiro, esquina da Avenida Sete de Setembro, no Centro de Manaus.

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Era a Manaus do Teatro Amazonas, do Palácio da Justiça, da Alfandega. Uma Manaus de outrora. Manaus de um período que não volta mais.

Em 1908, Manaus teria em torno de 80.000 habitantes e era denominada, pelo The India Rubber World, “a metrópole da borracha que lhe vaticinava uma população superior a 100.000 habitantes nos anos seguintes, com suas propriedades prediais triplicando de valor”. Mas, em 1920, em virtude da retração econômica decorrente da perda do monopólio amazônico da borracha, ficaria reduzida a apenas 69.959 habitantes.

Cidade rica, progressista e alegre, de ruas retas e largas, calçadas com granito e pedra de liós importadas de Portugal, sombreada por frondosas mangueiras e de praças e jardins bem cuidados, com belas fontes e monumentos, tinha todos os requisitos de uma grande urbe moderna: água encanada e telefone, energia elétrica a partir de 1896, a rede de esgotos em construção e bondes elétricos desde 1895, espantando até os visitantes europeus do ralar do século, com sua alucinante velocidade de 40 a 50 quilômetros por hora, nas linhas de aço espalhadas por toda a malha urbana e penetrando na floresta até aos arrabaldes mais distantes.

O seu porto flutuante, obra-prima da engenharia inglesa, construído a partir de 1900, recebia navios de todos os cantos e das mais diversas bandeiras.

Construção em Manaus na Belle Époque. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O movimento no centro comercial regurgitando de gente de todas as raças – nordestinos, ingleses, peruanos, franceses, judeus, norte-americanos, americanos, caboclos, alemães, indígenas, italianos, sírios, libaneses, sulistas e portugueses – tinha por eixo principal a atual Avenida Eduardo Ribeiro, com maiores concentrações de estabelecimentos comerciais nas proximidades do Mercado Municipal, nas ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Sete de Setembro, Henrique Martins, e ainda na Instalação e na praça XIV de Novembro, logradouro onde estavam instalados os armazéns recebedores e exportadores de borracha, as casas aviadoras, os atacadistas, os retalhistas, os bancos, os hotéis, as sedes das empresas estrangeiras os bares, os restaurantes e algumas repartições públicas.

Tudo o que o comércio internacional oferecia à época poderia ser encontrado nesta longínqua cidade plantada a milhares de quilômetros dos principais centros civilizados. Algumas lojas bem constituídas abrigavam, no andar superior, a família do comerciante, próxima ao seu trabalho, em verdadeiro ‘tempo integral’, das 7 às 21 horas, como ocorria então. Esse tipo de moradia era o que predominava no próprio centro comercial.

Mais afastados na Praça dos Remédios, ao longo da Avenida Joaquim Nabuco, na Rua 24 de maio e outras ruas circunvizinhas, dispunham-se as residências mais ricas: magníficos palacetes construídos ao melhor estilo da época, associadas de acapu amarelo e pinho-de-riga, ornamentados com vidraças e lustres europeus, paredes e tetos decorados de pinturas em telas ou de afrescos. Seus salões exibiam luxuosíssimos móveis, porcelanas, cristais e pratarias, estando sempre abertos para festas de aniversários, banquetes e saraus, as divisões familiares da belle époque.

Avenida Eduardo Ribeiro no Centro de Manaus. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Casas de alvenaria com porões habitáveis, mais ou menos padronizadas, algumas azulejadas, eram as que abrigavam as pessoas de economia intermediaria com sua entrada em degraus de pedra liós ou de mármore, sala de visita, alcova, sala de jantar, o grande corredor ladeado de dois a três quartos, terminando nas instalações complementares – uma cozinha com seu fogão a lenha e fogareiro a carvão; dispensa e o banheiro com louças e azulejos franceses ou ingleses.

As famílias de menores recursos habitavam as extensas vilas de casas populares, que ainda podem ser observadas nas ruas 24 de maio, Lauro Cavalcante e Joaquim Nabuco e, as chamadas estâncias, extensas construções de madeira meia água, divididas em pequenos quartos de aluguel. Fora do centro urbano, ao longo das linhas de bondes da Cachoeirinha. Além da terceira ponte e dos entroncamentos, estendia-se algumas chácaras e chalés e naturalmente as habitações mais modestas de madeira. Havia ainda pequena concentração de casario em São Raimundo, em Educandos, em torno da antiga escola que deu o nome ao bairro.

Era a Manaus do Teatro Amazonas, do Palácio da Justiça, da Alfandega. Uma Manaus de outrora. Manaus de um período que não volta mais.

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