Manaus, 21 de novembro de 2024

Manaus – o dia a dia e o futuro – a cidade onde nasci – 353 anos

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A 1º de julho de 1867, saía de Nova Iorque, financiada pelo Instituto Smithsoniano, uma expedição, dirigida por James Orton, com destino à Guayaquil, no Equador.

A partir daquela cidade, ele subiu os Andes e desceu o rio Amazonas até Belém, descrevendo essa viagem. No livro The Andes and The Amazon or Across The Continent of South América, publicado, em Nova Iorque, com uma terceira edição de 1876.

No Natal de 1867, diante da pequena cidade de Manaus, com no máximo 3000 habitantes, Orton esboçou o vaticínio de que ela estava destinada, pela sua posição estratégica, a ser a Saint Louis da América do Sul, uma cidade industrial e pragmática, enquanto Belém seria a Nova Orleães, exportadora e tradicionalista.

Quase ao mesmo tempo, em 1866, William Chandless, também americano, que junto com Manuel Urbano, após visitar os rios, no Acre, que receberiam os seus nomes, declararia, no Journal of the Geographical Society, que “séculos se passariam antes que as margens do Purus fossem habitadas por gente civilizada”.

Hoje, 145 anos depois desses eventos, verificamos os erros e acertos dessas duas previsões.

A de Chandless não foi confirmada.

Nos anos seguintes do seu pronunciamento, as margens do Purus foram povoadas por milhares de nordestinos, graças à implantação de centenas de seringais ao longo do seu curso e de alguns de seus afluentes, começando pelo baixo Purus, com a fundação de Lábrea e de Canutama. Depois, com a tomada do navio Anajás, chegou-se a Boca do Acre, povoando-se o médio rio.

E finalmente a onda humana, sequiosa, pelo ouro negro, subiu rio Aquiri, o Iaco e o alto Purus, atingindo o território boliviano, que foi conquistado, e onde foram fundadas as cidades de Rio Branco, antes Empresa, Xapuri e Sena Madureira.

As de Orton cumpriram-se plenamente.

Manaus começara a crescer, a partir de 1870, com a vulcanização da borracha, e as novas descobertas tecnológicas, como a eletricidade, o telefone, o cabo submarino, as bicicletas e os automóveis, necessitando de quantidades cada vez maiores de borracha, para o isolamento e a fabricação de pneus, que a tornaram extremamente cara, uma verdadeira especiaria, o que levou os ingleses a estudarem o plantio de seringueiras, nas suas colônias do Oriente, baseados no trabalho do pioneiro major João Martins da Silva Coutinho, o primeiro a escrever sobre o plantio racional da seringueira, que foi tomado a sério pelo Ministério das Índias, na Inglaterra.

Centralizando o fornecimento e o transporte para os seringais, Manaus passou a controlar a compra e a exportação da borracha, crescendo rapidamente a partir de 1880, quando atingiu 10.000 habitantes, começando a receber as melhorias de uma cidade, como água encanada, telefone, mercado, ruas calçadas e alguns dos seus primeiros prédios públicos, durante a década que se seguiu.

Com a República, a cidade continuou a crescer, passando para 30.000 habitantes, até chegar aos 60.000, na década de 1890, quando houve um grande processo de modernização.

As duas grandes cidades da Amazônia tornaram-se exemplos para as demais cidades do País, que não conseguiam acompanhar o seu progresso urbano, graças ao suor, as lágrimas e as mortes dos seringueiros nordestinos, nos rios da borracha, que aqui chegavam aos milhares, havendo a necessidade das reposições anuais desses trabalhadores, pelas suas mortes prematuras na verdadeira frente da guerra para a extração da borracha, em péssimas e penosas condições de trabalho.

Apesar dos gigantescos atos de corrupção através de empréstimos externos, comprometedores do seu futuro, Manaus, teve energia elétrica e bondes a partir de 1884, cabo submarino, em 1896, teatro, esgoto tratado, grandes aterros, a abertura de largas avenidas, pontes de pedra e aço e suntuosos prédios públicos.

Com os seringais asiáticos dobrando de produção anualmente, reduzindo os preços do mercado, a Amazônia entrou em colapso econômico, refletido na falta de resistência da população, que sofreu uma grande mortalidade, com a gripe espanhola de 1919, matando dez por cento da população de Manaus, que atingira o pico dos 100.000 habitantes, dos quais 10.000 portugueses, logo caindo com a crise, para 60.000, e até 40.000, em 1940, só voltando a crescer, em 1950.

Passamos pelo domínio americano, entre 1942 e 1945, quando o Brasil cedeu a região, dentro de um esforço de guerra, para a produção de borracha, pois os seringais do Oriente estavam ocupados, e por isso, o Brasil ganhou a usina de Volta Redonda, a estrada de ferro Vitória Minas e o reequipamento das Forças Armadas, tudo em detrimento da Amazônia, que passou a produzir borracha a preço fixo, até o fim do contrato, isto, da Guerra.

Por volta de 1950, após cem anos da criação da Província, iniciou-se um surto industrial, em Manaus, colocando-a, na senda estabelecida por Orton, com a construção de uma refinaria de 6.000 barris diários, destinada a processar o petróleo peruano de Pucalpa, produzido pela empresa Ganso Azul e de quatro tecelagens, utilizando a juta como matéria prima, para a fabricação dos sacos de exportação do café.

A implementação da Zona Franca de Manaus, a partir da década de 1970, fez surgir um importante polo comercial de produtos importados e um polo industrial, que acabou por absorver as cotas comerciais, expandindo-se até uma produção, que hoje supera muitos bilhões de dólares anuais.

Manaus com 2.300.000 habitantes tornou-se, apesar do seu intenso calor, não suportável, pelos inadaptáveis, em uma grande metrópole da linha do Equador, onde hoje, ao contrário do que se pensa, estão numerosas, grandes e populosas cidades, destacando-se, do Ocidente para o Oriente: Guayaquil (2.600.000) e Quito (2.011.000), no Equador, Belém 1.506.000, no Brasil, Kinshasa (13.700.000), na República Democrática do Congo, Campala (1.200.000), em Uganda, Nairobi (4.400.000), no Quênia, Dar-es-Salam (4.300.000), na Tanzânia, Jacarta (10.500.000), Bandung (8.400.000), Surabaia (2.600.000) Medan (2.300.000), Palembang (1.750.000) e Samarang (1.500,000), na Indonésia, Kuala Lumpur (1.800.000), na Malásia, e a cidade estado Singapura (5.700.000), muitas delas amenizadas por um clima de altitude. ou pelas brisas marinhas.

Manaus é igual a tantas outras cidades do Mundo:

1: Já queimou uma biblioteca, como Alexandria.

2: É um jaguar sul-americano, na produção de eletro-eletrônicos, como o tigre Taipé.

3: Produz muitos relógios, como Zurich.

4: É um polo de duas rodas como qualquer cidade do Japão.

5: Fabrica muitos telefones, como Helsinqui ou Seul.

6: Abastece grande parte do país com petróleo, como o Bahrein, embora a gasolina daqui seja uma das mais caras do Brasil.

7: Está cercada por extensas favelas, como o Rio de Janeiro.

8: Atrai imigrantes, como São Paulo.

9: Tem um porto semelhante ao de Sidney.

10: Mata os seus filhos e queima os seus profetas, como Jerusalém.

11: Foi a Paris dos Trópicos.

12: É a Saint Louis da Amazônia.

13: Manaus é uma ilha da fantasia, no Mar Doce da Amazônico, que produz o que não consome e consome o que não produz.

14: Mas todos nós manauenses e manauaras gostamos dela e temos alguns traços culturais que anda nos unem e mantêm a nossa identidade: o jaraqui frito com baião de dois, o tambaqui assado, a caldeirada, a tartarugada, o cupuaçu, o xis caboquinho, o Mercado Central, a Praça dos Remédios, o Encontro das Águas e o Teatro Amazonas.

15: Manaus é túmulo e monumento da sobrevivência cultural humana, ao longo da linha do Equador, que não pensa nem em Inverno, nem no futuro, estando sempre mergulhada, nos raios e no calor do Sol, vivendo o dia a dia.

16: E apesar de todas as crises, que sempre dificultaram o nosso progresso, continua crescendo…

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