
*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro
Biografia de Dom Jorge Marskell
continuação …
CAPÍTULO 2
FAMÍLIA, INFÂNCIA, JUVENTUDE E VOCAÇÃO
George Edward Marskell nasceu em Hamilton, na Provincia de Ontário, no Canadá, em 8 de novembro de 1935.
Nesse país, onde há províncias de língua inglesa e francesa, Ontário é uma daquelas onde se fala inglês.
Jorge, grafia que adotou algum tempo depois de sua chegada ao Brasil, tinha dificuldade em falar francês e, coisa curiosa, quando se entretinha com um padre canadense de língua francesa, que trabalhou alguns anos em Itapiranga, escolhia o português para melhor se comunicar.
Jorge era descendente de ingleses, por parte de seu pai, Albert Marskell, e de irlandeses por parte da mãe, Catarina Molloy. Quando se casaram, a cerimônia foi realizada na sacristia da Igreja, porque Albert era anglicano, e naquela época não eram comuns casamentos entre católicos e protestantes. Eles se casaram já com uma certa idade, porque não tinham condições financeiras para fazê-lo antes; ele era metalúrgico e ela dona de casa.
Depois do nascimento do primeiro filho, James, Catarina recebeu dos médicos o conselho de tomar medicamentos para evitar uma segunda gravidez, e dois anos mais tarde, quando engravidou novamente, aconselharam-na a abortar, pois corria risco de morte. Acreditando na Providência, ela levou adiante a gestação e o filho que nasceu se chamou George Edward.
O menino foi educado na fé por seus pais e pela comunidade católica de Hamilton.
Falando de sua adolescência e juventude, Jorge contava que antes de entrar no seminário, ia a festas, tinha sua namoradinha e pensava em ser engenheiro; praticava esportes e apreciava handball, hockey e softball; lembrava-se do time chamado “Tiger Cats”.
Desde criança tinha o desejo de ser padre; era uma ideia que ia e vinha, mas ele não falava disso com ninguém. Pouco tempo antes de sua morte, ele confiou à irmã enfermeira que o acompanhou durante os últimos tempos de sua enfermidade:
Eu admirava muito os padres de minha paróquia. Para sustentar uma vocação, a gente precisa de exemplos, de heróis, e cu tinha muitos heróis, padres que eu admirava. Hoje meu grande herói é Jesus Cristo. Minha vocação amadureceu. Aprendi bem depressa que um padre é feito para viver ’em baixo’, com os pés na terra…, (…) Quando eu vim para aqui (Itacoatiara), fui eu que pedi; eu queria ser um missionário operante, ativo…
Quando resolveu ser padre, o seminário escolhdo foi o da Sociedade das Missões Estrangeiras, em Scarborough, Canadá, sociedade fundada por Monsenhor João Maria Fraser em 1918, com o objetivo de enviar padres para as missões na China. Após a Revolução Chinesa, os padres de Scarboro foram expulsos pelo governo desse país e abriram missões em outras partes do mundo, primeiramente na República Dominicana e no Japão, em 1961 no Brasil.
Ele contava que, quando seminarista, aproveitava as férias para ganhar algum dinheiro, trabalhando na rua com uma britadeira (máquina para quebrar pedras). Durante toda sua vida, quando era possível, escolhia fazer os trabalhos mais humildes.
Jorge era um homem agradecido. Em 1984, ele escreveu:
Eu sou grato pela família no seio da qual nasci, pela missão de Scarboro e por minha vocação – ser cristão, sacerdote e bispo… Eu espero… ter aprendido um pouco como amar, porque esta é a maior vocação.
Continua na próxima edição…
*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro, nascida no Rio de Janeiro em 1930 e criada em São Paulo, formou-se em Filosofia e Pedagogia, obtendo um mestrado em Filosofia da Educação. Em 1977, mudou-se para Itacoatiara como missionária leiga, trabalhando na Prelazia com comunidades eclesiais de base e na formação de lideranças populares. É cofundadora da Associação Dom Jorge Marskell (desde 2001) e membro da Academia Itacoatiarense de Letras.
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