Manaus, 23 de junho de 2025

Mano Jorge

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*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro

Biografia de Dom Jorge Marskell

continuação …

CAPÍTULO 7

AS VIAGENS: O BARCO E OUTROS MEIOS DE TRANSPORTE

A Amazônia tem a maior bacia hidrográfica do mundo; entre os numerosos e grandes rios que a compõem, o maior e mais importante é o Amazonas. A sede da Prelazia, o município de Itacoatiara, fica na margem esquerda desse rio; as diversas sedes de outros municípios estão também situadas na beira de rios e lagos. Eles são os caminhos por onde passa o povo e, naturalmente, os missionários.

Quando os padres canadenses chegaram à Itacoatiara, não havia ainda a estrada ligando a cidade a Manaus, a AM-010, nem a estrada da Várzea.

Referindo-se ao rio Amazonas, escreve Miguel O ‘Kane:

este rio se tornaria central em nossa vida e trabalho missionário no futuro. Nós aprenderíamos a respeitar sua força e poder e tentamos entender sua poderosa personalidade.

Quando criança, Jorge passou por uma experiência traumática na baía de Hamilton, quase se afogando. Por causa disso, tinha pavor das águas profundas e jamais aprendeu a nadar. No entanto, uma grande parte de sua vida na Prelazia passou-a em barcos, canoas, sobre os rios, visitando as comunidades ribeirinhas na sua maior parte.

Dom Jorge em um barco.
Fonte: Comunidade Natária, Itacoatiara – AM, 1979.

Viagem para o Arari no motor de linha.
Fonte: Itacoatiara – AM, rio Arari.

O seu barco era o Calamatã, e seu companheiro habitual e piloto da embarcação o amazonense Antônio, conhecido como “Paladar”. O Calamatã tinha aproximadamente 14 metros de comprimento por 3 de largura e o corpo do barco era uma sala que servia para estudo e conversas com os comunitários, local de refeição e dormitório.

Na proa havia um banco em semicírculo acompanhando o formato da sala de comando. Nele Jorge se sentava às vezes com algum agente de pastoral para rezar as orações da manhã, contemplar a paisagem e conversar. Os agentes novatos ficavam assim informados de muitas peculiaridades da região e conhecendo alguma coisa das comunidades por onde o barco passava.

O Calamatã “servia alternativamente de táxi, cargueiro e ambulância” (O’KANE, 2003), pois muitas vezes transportava cursistas que voltavam das aulas no Centrepi para suas comunidades, levava gente doente para o hospital em Itacoatiara, carregava material para as comunidades.

Durante as visitas às comunidades ribeirinhas, geralmente a equipe almoçava com os comunitários, mas o jantar era no barco. Como era Jorge quem fazia o rancho e ele realmente não se preocupava com a comida, a refeição da noite consistia em carne enlatada ou sopão ou ainda café com leite e roscas, o que no final dos quinze dias que durava a viagem representava não pequeno sacrifício.

No entanto, a satisfação de estar com o povo, levando a Palavra de Deus e ajudando-o na solução dos problemas, e ver como a comunidade crescia na fé e na cidadania, compensava todos os sacrifícios.

Dom Jorge de motocicleta.
Fonte: Rua Eduardo Ribeiro, Itacoatiara – AM.

Mais difíceis do que as viagens no Calamatã eram aquelas feitas em rabetas, ou nas chamadas “voadeiras”, lanchas de metal nas quais se atravessava o lago Camaçari, para as visitas ao povo de Silves. Quando apanhados no meio do lago por um temporal de verão, era entregar a vida a Deus. Muitas vezes também Dom Jorge viajou para as comunidades em motores de linha.

Nos primeiros tempos em Itacoatiara, os canadenses usavam bicicleta para sua locomoção. Dra. Annelore de Oliveira lembra que os padres dispunham de um velho jipe para seu trabalho apostólico, e como já foi dito, conduziam os enfermeiros do Sesp no atendimento à população a beira das poucas estra- das da época. Mais tarde, Jorge e outros padres passaram a andar de motocicleta. Finalmente a Prelazia adquiriu um jipe mais moderno. A partir de 1981, o bispo começou a visitar Presidente Figueiredo e a Vila de Balbina, enfrentando as péssimas condições da BR-174, dispensando a mordomia do avião ofereci- da pelos poderosos de Balbina e de Pitinga (CADERNO INFORMATIVO DO POVO – CIPÓ, 1999).

Aberta ao tráfego a estrada da Várzea em 1987, Jorge viajou várias vezes por ela nas suas visitas a Silves e Itapiranga.

Continua na próxima edição…

*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro, nascida no Rio de Janeiro em 1930 e criada em São Paulo, formou-se em Filosofia e Pedagogia, obtendo um mestrado em Filosofia da Educação. Em 1977, mudou-se para Itacoatiara como missionária leiga, trabalhando na Prelazia com comunidades eclesiais de base e na formação de lideranças populares. É cofundadora da Associação Dom Jorge Marskell (desde 2001) e membro da Academia Itacoatiarense de Letras.

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