Manaus, 19 de junho de 2025

Mestre exemplar

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Tendo assistido palestra bem elucidativa no salão nobre dom Pedro II do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas sobre a organização do bairro da Praça 14 de Janeiro, reduto de grande influência da comunidade afrodescendente brasileira, senti-me na obrigação de contribuir para tais estudos, isso porque o bairro está intimamente ligado à presença e ao importante trabalho do governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, ao qual tenho dedicado tempos de pesquisa.

A denominação do bairro, por si, é história pura. Ou nitroglicerina, diria melhor, porque à época dos fatos que lhe deram o nome, parecia haver uma grande explosão na política amazonense, especialmente entre forças partidárias que reuniam Eduardo Ribeiro, Emilio Moreira, sua tropa e outros militares, contra Thaumaturgo de Azevedo. Quem nos conta, em documento manuscrito, estava presente no cenário dos acontecimentos, firme ao lado de Thaumaturgo: Leônidas e Sá.

A imprensa da cidade estava em polvorosa. O jornal “O Amazonas” publicou artigo de oficial do 360 Batalhão afirmando que ficaria ao lado do povo quando fosse preciso; O “Commercio do Amazonas” defendia o governador Thaumaturgo; os militares federais diziam-se unidos em derredor de Ribeiro. Na noite anterior o capitão Affonso de Carvalho havia sido preso por estar aliciando guardas do Batalhão Militar contra o governo; um vapor chegado do Sul do País trazia ordens para promover a deposição de Thaumaturgo. Ao meio dia um folheto assanhou a população, convocando para uma grande reunião na Praça General Osório, assinado por deputados federais e estaduais, desembargadores, juízes, advogados, empresários e artistas, dentre os quais Almino Affonso, Emílio Moreira, Lima Bacury, Francisco Carvalho e Públio Bittencourt.

Lanchas aportavam com pequenos contingentes armados, vindos do interior próximo. O Partido Nacional, o Partido Artístico, o Partido Operário, a Junta Comercial e a Associação Comercial, expediam boletins conclamando o povo. Às quatro da tarde havia muita gente no General Osório, mas também havia muita gente no Palácio do Governo uns para defender o governador empossado. Na Praça “Cinco de Setembro” estavam os amigos do governador.

Almino pregava em praça pública e em tom socialista, dizia a imprensa. A distribuição de novo boletim proclamando Ribeiro como governador e anunciando uma junta de intervenção até a chegada do Líder, foi organizada com os militares Borges Machado, Porfírio Rosas e o desembargador Luiz Duarte da Silva, enquanto uma comissão seguiu para Palácio para depor o governador. Almino, Lima Bacury e Leonardo Malcher.

A confusão foi geral. Os amigos do governador quiseram impedir a entrada deles em Palácio. Almino gritava em defesa dos direitos do povo. Malcher anunciou ao próprio Thaumaturgo que ele estava deposto. Os amigos do governador protestaram. Tiros de revólver foram disparados. Almino ficou ferido e foi socorrido em Palácio. Outra bala feriu de morte o soldado de cavalaria João Fernandes Pimenta. Teria sido do revólver de Bacury. Almino ainda portava um punhal com cabo de prata, guardado no colete. Bacurye Malcher saíram do Palácio. Thaumaturgo decretou estado de sítio, suspendeu as garantias individuais, mandou prender coronéis, desembargadores, políticos e juízes, mas pouco depois foi efetivamente deposto por ordens do governo federal e após longa negociação política, tomando o rumo do porto pelas horas da madrugada, em fuga para sua proteção.

Para o jornal “Diário de Manáos”, foi um dia de angústias e terror, aquele 14 de Janeiro de 1892.

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