“O que está em jogo não é a natureza – ela sobreviverá. O que está em risco é a condição humana como a conhecemos. Somos a primeira geração que pode presenciar o colapso climático em tempo real e talvez a última que pode evitá-lo.”
Estamos diante de um tempo em que o futuro já não é mais promessa – é alerta. A modernidade, com seus triunfos técnicos e sua pretensa autonomia sobre a natureza, produziu um paradoxo insustentável: quanto mais dominamos o mundo, mais nos afastamos dele. A crise climática, talvez o mais eloquente dos sintomas, denuncia uma ruptura fundamental – a do humano consigo mesmo e com tudo o que o cerca.
O grito de Mujica: viver com o que basta, mesmo depois da dor
Pepe Mujica não é apenas um estadista que escolheu a simplicidade. É um símbolo vivo da capacidade humana de transmutar sofrimento em sabedoria. Este homem, que passou mais de uma década encarcerado em condições desumanas, saiu do isolamento sem ódio – e com um projeto de pacificação nacional. Sua vida é uma pedagogia política: não se constrói um país com vingança, mas com reconciliação.
Na Rio+20, quando denunciou o consumismo e o paradigma do “progresso” que transforma a natureza em almoxarifado de recursos, ele falava de um lugar profundo: da consciência de que a liberdade maior não está em ter tudo, mas em precisar de pouco. Sua existência traduz o que o mundo precisa reaprender: não há paz social sem paz interior. E não há sustentabilidade sem sentido de limite.
Divaldo Franco: o evangelho da empatia radical
Divaldo é o arquétipo do mensageiro silencioso, que sem cargos nem palanques construiu uma ponte entre a dor e o afeto. Sua missão foi e é clara: fazer da paz um verbo, do perdão um gesto político e da união uma plataforma espiritual. Em tempos de indiferença algoritmizada e afetos descartáveis, Divaldo revelou uma coragem radical: enxergar o outro, mesmo o outro que nos fere.
Sua determinação em espalhar a empatia como uma força transcendental de cura se ergue como antídoto contra o colapso moral do nosso tempo. Ele não prega fuga, mas acolhimento. Não exalta milagres, mas escolhas. Seu legado é um chamado à responsabilidade do afeto: sem amor pelo humano, a Terra será apenas um palco de disputas e não de convivência.
Papa Francisco: os últimos como primeiros
Francisco, o papa que escolheu o nome do santo da pobreza e da natureza, elevou os marginalizados ao centro da fé e da política. Seu gesto de abençoar, reconhecer e lutar pelos excluídos, refugiados, vítimas da fome, do tráfico e da guerra, é uma afronta ao projeto global de dominação baseado na eliminação simbólica – e às vezes literal – do outro.
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Papa Francisco durante Sínodo da Amazônia, em 2019. Foto: Vatican New
Sob o signo luminoso de “amai-vos uns aos outros”, ele confronta o ódio como instrumento de poder e convoca os povos a reconhecerem na fragilidade alheia a força de uma nova humanidade. Sua teologia é política, ecológica e profundamente ética. Ele entende que, sem justiça, a paz é discurso. E que sem inclusão, qualquer progresso é apenas mais um nome para a barbárie.
O Fim de um Ciclo, o Início de um Chamado
O que está em jogo não é a natureza – ela sobreviverá. O que está em risco é a condição humana como a conhecemos. Somos a primeira geração que pode presenciar o colapso climático em tempo real e talvez a última que pode evitá-lo. Se a humanidade continuar se vendo fora da natureza, tratando seus estoques como um almoxarifado infindável, o “fim” será apenas consequência.
Mas talvez este fim seja também espelho – um reflexo brutal que nos obriga a reconhecer que o desequilíbrio do planeta nasce da desordem da alma. Reconfigurar essa relação é tarefa de ética, estética e espiritualidade. E talvez, só talvez, o colapso seja o útero de um novo nascimento.
Artigo em parceria com Régia Moreira Leite
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