Manaus, 28 de novembro de 2023

Mundo da Lua, mundo da rua

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São mais de dois mil anos de história, ao menos pelo calendário Cristão. A humanidade, neste espaço de tempo, fez grandes progressos, isso é inegável. Como diziam os poetas de antigamente, o homem ganhou o mundo, cruzou os mares, rompeu os céus em busca de outros planetas. Os avanços foram extraordinários, inclusive, nos dias presentes, com a tecnologia de ponta.

Não é fantástico que consigamos perscrutar o Universo, falar ao vivo e em cores com qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta apenas com um instrumento portátil nas mãos, chamado celular? Não é incrível que, diante de uma pandemia terrível como a de Covid-19, tenha sido possível produzir vacinas em tempo recorde? Sim, isso merece ser registrado, com notas de louvor. É preciso, no entanto, considerarmos também – e de maneira lamentável – que a maior conquista de que nós poderíamos orgulhar, a aproximação com nosso semelhante, ainda está a anos-luz do ideal.

E para ver isso não é preciso ir tão longe. Uma esquina de Manaus é o suficiente. Em cada uma delas é possível verificar com uma constância angustiante o número crescente de pessoas que sobrevivem pedindo esmolas, uma situação que a própria tecnologia, para quem se compadece tem dificultado, pois poucos hoje, andam com dinheiro em espécie. Em cada cruzamento de nossas ruas e avenidas temos um encontro marcado com essa dura realidade. Não consigo ficar indiferente.

É bem verdade que ainda existem pessoas que exercitam a solidariedade, que elas sejam abençoadas, mas uma ação desse tipo nunca será plenamente eficaz porque, salvo exceções, não conseguem ter a abrangência e a constância necessárias ou, ainda, porque o ideal é que se buscasse a dignidade do ser humano se encontra em tais condições, através de meios que lhe permitam prover a própria subsistência.

Se os governantes cumprissem, minimamente, as tarefas para as quais foram eleitos, nunca teríamos de lastimar fatos como esses. As prioridades, porém, são as obras faraônicas, tão inúteis quanto suntuosas, bem como as iniciativas se que resumem ao mero marketing, sem concretude. E não é de hoje que as autoridades prometem mudanças no foco de suas administrações. Não é de hoje, também, que as ditas promessas são esquecidas.

Um governo – e aqui falo genericamente – jamais será digno desse nome enquanto houver um desgraçado a vagar pelas ruas. Acabar com a miséria, acabando com suas causas, é o compromisso de todo homem público ao romper do novo milênio. Já houve o tempo histórico de lutar pela liberdade e pela igualdade. Agora é tempo de tirar a fraternidade do dicionário, do texto das leis e dos discursos, para que tenhamos, enfim, um mundo novo. É preciso vencer essa guerra silenciosa que separa ricos e pobres, ignorantes e instruídos, saudáveis e doentes.

Nunca seremos felizes se o egoísmo não for afastado de uma vez por todas de nossas vidas. Alguém já disse que o ego é o nosso pior inimigo.

De nada adiantam as conquistas da ciência em todos os seus ramos se apenas alguns privilegiados pela sorte podem delas desfrutar. De nada vale o orgulho bobo de termos chegado à Lua, no presente ano se completam 53 anos dessa proeza, se pouco fizemos, aqui mesmo, pelos nossos irmãos. Desse belo e solitário satélite da Terra talvez possamos extrair somente o seu desenho romântico. O mundo precisa de amor, precisa da Lua dos namorados, das pessoas capazes de tudo por um ideal. Esse mundo árido e injusto precisa de sonhadores, mas de sonhadores que sonhem acordados, que ponham o coração na frente de suas atitudes e as mãos na massa do trabalho social. Nunca precisou tanto.

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