No pretérito dia 21 de dezembro, os membros do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas reuniram-se para confraternizar – antecipando a data natalina. Uma sessão simbólica, sem dúvida, presidida pelo jurista José dos Santos Pereira Braga.
Além dos comes e bebes, da boa conversa e da alegria do reencontro, foram distribuídas cópias do folheto “Natal Natais”, contendo mensagens do historiador Robério Braga e do poeta Max Carphentier, e poemas dos consócios Elson Farias e Lourenço Braga.
Ei-las:
Feliz Natal
Robério Braga
Os festejos natalinos, tal como os conhecemos, com vibrações positivas de alegrias e luzes que esplandecessem por toda a cidade, reanimando os homens a fortalecerem a fé e a boa vontade as relações familiares e sociais, e com ceia e troca de presentes é coisa tão antiga quanto nem e pode pensar, e não como costumam propalar alguns menos avisados.
A data especial de 25 de dezembro foi fixada no século IV pelo Papa Júlio, para assinalar a data provável do nascimento de Cristo, mas, mesmo que haja essa confirmação anual, diversos povos que adotam essa consagração, comemoram de forma diversa, sempre conforme as tradições e culturas que os caracterizam, alguns procurando manter e fortalecer o espírito de fraternidade que a preside.
A Ceia de Natal, nos primórdios em que foi adotada, era um encontro frugal entre poucos convivas de família aproveitando o encontro após a celebração da Missa do Galo, muito sagrada para os católicos apostólicos romanos, mas esta Ceia, com o tempo, foi sendo enriquecida com regalos mais régios e sofrendo mudança de horário para alguns grupos de pessoas, chegando a ser antecipada à Missa e a ser servida independentemente do comparecimento a esse santo ofício religioso católico.
A troca de presentes que costuma alegrar as crianças, vem desde a Roma Antiga, quando era levada a efeito nas festas de Saturnália, que eram realizadas em homenagem ao deus Saturno, entre 17 e 23 de dezembro, no solstício de inverno, sendo bastante popular e considerada de “renascimento do ano”, portanto, de Ano Novo, na forma de rito tipo pagão, tempo em que os romanos presenteavam aos amigos com estátuas dos “deuses” que adoravam. Depois, desejando aumentar a riqueza dos presenteados, davam-lhes ouro; para demonstrar desejo de sabedoria, davam-lhes candeeiro; para desejar uma vida de delícias, davam-lhes doces… e por aí seguiam, sempre procuravam manifestar, de forma simbólica, o desejo que estavam representados nas lembranças.
O presente de Natal, como ainda hoje parte das famílias consegue trocar, foi ideia Bonifácio VII, no século X, que, após a Missa, distribuía pão aos fiéis e, em troca, recebia regalos no dia dos Santos Reis. Depois, evoluindo gradualmente para o formato usual que conhecemos, cada vez mais transformado em demonstração material de simpatias, agradecimentos e amizade, abstraindo-se o sentimento verdadeiro que a data deveria representar, como o da solidariedade, da esperança, dos bons e sinceros votos de felicidade e paz espiritual.
Após muitos anos nos quais esses festejos tiveram uma conotação mais sacra, religiosa e sobe conceitos mais cristãos, em meados do século passado parece ter havido uma evolução mais intensa do sentido comercial dos festejos natalinos com valorização maior dos presentes, da ceia, dos brindes com bebidas requintadas, da preparação das casas de residência e, gradativamente, das próprias cidades com decorações exuberantes sem que o que “espírito natalino”, assim considerado o da fraternidade entre os povos fosse valorizado e estimulado em família e na sociedade. A criação e a propagação de figuras lendárias como Papai Noel estimularam esse viés que se confirma ano após ano, e que vem abafando primordial dessa oportunidade de congraçamento humano.
Para os que creem na presença de Cristo e sua passagem sobre a terra, para compreendem que há um corpo espiritual eterno, o transcurso dessa data simbólica precisa se revestir ser comemorada com alegria, entusiasmo e festejos, mas, antes de tudo, ser como uma oportunidade para reconstrução interior de cada ser humano.
………………………….
Menino Jesus
Max Carphentier
Estamos nos aproximando do berço do Menino Jesus. Vamos encontrá-lo de novo entre a palhas, no colo de Maria, sob a canção dos anjos. Uns mais outros menos, alguns até sem ter consciência disso, o certo é que todos, durante o ano, o buscamos, procuramos tê-lo, sonham vê-lo ao nosso lado. Pelo menos de três formas o procuramos. Nós o procuramos na fé, nós procuramos no amor, nós o procuramos nas criaturas. Vejamos hoje como é procurar Jesus na fé.
Primeiro recordemos, conforme São Paulo, que “a fé é o argumento das coisas que não se vê. Então, a fé são os nossos olhos mais adaptados a buscar e a encontrar o Senhor. É essa fé, que recebemos como herança dos antigos, que diz que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, o Salvador prometido. Jesus não apareceu na história de um momento para o outro, como uma espécie de ilusão tida no deserto. Ele vinha sendo anunciado pelos profetas, pela sabedoria do coração; o próprio instinto humano, que busca a eternidade, o anunciava, o esperava na fé. E a fé não baseia em dados visíveis, manipuláveis pelas criaturas. Ela se baseia em tudo que Deus, pela palavra divina, revelou a respeito de si mesmo e dos seus mistérios. Sob esse aspecto, a fé aparece como ato de obediência. Diz o Concílio Vaticano II: “A Deus que se revela é devida a obediência da fé, com a qual o homem se abandona total e livremente a Deus, prestando-lhe o obséquio do intelecto e da vontade.”
Tendo se apresentado ao mundo não como Salvador dotado de exércitos, poderoso em revoluções sanguinárias, mas como homem humilde e pobre, sua aparência escandalizou a muitos que não conseguiram, e ainda hoje não conseguem ultrapassar a aparência humana, para reconhecerem em Cristo o Messias esperado. Mas a fé rompe essa carência dos nos olhos inadaptados ao mistério. Assim, quanto mais viva for nossa fé, com tanto mais clareza encontramos Jesus, com tanto mais amor o acolhemos, com tanto mais certeza aceitamos a mensagem do Homem-Deus. É por isso que, um dia, os apóstolos pediram a Jesus: Senhor aumenta-nos a fé!
E os discípulos, já tinham verificado os prodígios realizados por Jesus. Então, quanto a nos, como somos necessitados de fé para procurarmos e encontrarmos Deus! O caminho, no entanto, nos foi apontado. Fala São João da Cruz ao homem que procura Deus: “Ouve uma palavra cheia de substância e de verdade inacessível: busca-o em fé e em amor, sem te quereres satisfazer em coisa alguma (…) Por meio da fé, manifesta-se Deus à alma em divina luz que excede todo o entendimento.”
Senhor, que a proximidade do Natal alimente a nossa fé e torne o nosso coração mais apto a ti encontrar e a te acolher. Amém.
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Um poema de Natal
Elson Farias
No lugar onde nasci não existia Natal,
não guardo na lembrança
nenhuma festa de Natal.
Não sei se meus irmãos se lembram disso,
mas só recordo das festas cívicas
da Semana da Pátria,
da semana da árvore,
do dia da República,
quando meu pai vestia os meninos
com uniformes de campanha
e os treinava na posição de sentido,
e proferia discursos de exaltação
ao sentimento cívico.
Era difícil celebrar o Natal
no lugar onde nasci.
Na beira do rio, no escuro das noites
não se ouviam os sinos das igrejas
chamando para a Missa do Galo,
não se ouvia a música do Natal.
Não se ouvia o tilintar das sinetas do Papai Noel
pelas ruas com o seu saco de brinquedos.
Em verdade, nem ruas existiam.
Não é que eu não tivesse uma noção
tênue que fosse, do Natal,
porque a presença do Cristo
surgiu em minha vida
com as orações da minha mãe
rezadas antes de dormir,
o Pai Nosso, a Ave Maria, a Salve Rainha,
o Creio em Deus Pai,
mas não era um Natal assim
com troca de presentes e troca de abraços.
– Ah, lembro-me agora,
um dia, quando acordava de manhã,
encontrei debaixo da minha rede um
presente diferente.
Procurei saber quem trouxera aquela prenda
e me disseram que era presente do Papai Noel.
Desde esse dia aquilo ficou martelando em minha cabeça:
– de onde é que vinha o Papai Noel
se os meus brinquedos
eram feitos de sementes de seringueira,
barquinhos de casca de árvores de taperebá, frutinhas de cuieira?
Mas o tempo passou
e o mundo virou!
Agora sinto que o Natal
é a celebração do nascimento do amor,
porque no Evangelho de São João
Deus é amor.
Para provar esta verdade
daqui a pouco estarão entre nós
mais quatro crianças,
nossos irmãos, primos,
filhos, netos ou bisnetos,
para também cantar o Natal
que é a festa da esperança.
A troca de presentes
é a troca de lembranças
que a gente guarda no lugar mais quente do peito
na medida em que se mais ama
a presença da lembrança.
É por isso que agora sinto
que no lugar onde nasci
existia sim Natal,
senão como é que eu poderia estar aqui
Nesta noite maravilhosa
Falando do Natal?
Feliz Natal
E Noite Feliz para todos!
………………………………
Comemoração
Lorenço Braga
Que Natal comemorar?
O da troca de presentes
entre amigos e parentes
diante de mesa farta,
com frutas da estação,
algumas até importadas
desde logo descartadas,
com vinho, cerveja e champanhe,
inda nem sempre acompanhe
uma festa no coração?
Para a criança o brinquedo
Mais caro que houver,
Que nem sirva pra brincar,
seja mesmo pra guardar,
mais que vale ostentação,
em disputa nem bem velada
com quem jamais vai ganhar.
Ou o Natal da sinaleira,
Do menino sem eira nem beira
na rua do desencanto,
que aprende na esmola
que nem precisa ir pra escola,
se o que lhe resta é pranto,
se a vida basta pra ensinar
que nem é possível sonhar?
E muitos passando ao largo,
como a desconhecer
que ali não há presente,
que a vida quase ausente
só lhes concede não morrer.
É tanta a indiferença
que nem se permitem ver
em cada olhar às vezes puro
um pedido, quase crença
de sonhar com o futuro.
Ou o Natal do idoso
que, esquecido e sozinho,
em casa, asilo, hospital,
entrega-se às próprias lembranças,
mesmo que lhe façam mal,
do tempo que também foi Noel,
de quando abraços trocou
até presentes recebeu,
mas vê que tudo passou
agora nem mesmo o papel
de presente lhe restou?
Se há visita, nem demora,
porque tem de ir embora
para a vida lá de fora,
sem sequer interessar
se a saudade vai ficar
machucando o coração
se o que de fato vai sobrar
é só o Natal do não.
Felizmente ainda há,
dentre os muitos que festejam,
os que lembram da razão
do que devem comemorar
e homenageiam o Menino
da manjedoura pequenino
que veio para ficar.
Fazem festa de bonança
porque constroem a esperança
em Natal de amor e luz
bendizendo e festejando Jesus.
………………………………..
Relação dos Associados do IGHA
Abrahim Sena Baze
Aguinaldo Nascimento Figueiredo
Almir Diniz de Carvalho Júnior
Althino Berthier Brasil
Ana Carla dos Santos Bruno
Antonio José Souto Loureiro
Cláudio do Carmo Chaves
David Belota Sabbá Guimarães
Edinea Mascarenhas Dias
Elson José Bentes Farias
Euler Esteves Ribeiro
Francisco Gomes da Silva
Francisco Paulo Pinto
Hailton Luiz Siqueira da Igreja
Jane Clotildes Cony Cruz
João Bosco Lopes Botelho
Jorge de Paula Gonçalves
José Bernardo Cabral
José das Graças Barros de Carvalho
José dos Santos Pereira Braga
José Geraldo Xavier dos Anjos
José Maria Pinto de Figueiredo
José Roberto Tadros
Júlio Antonio de Jorge Lopes
Júlio Santos da Silva
Lourenço dos Santos Pereira Braga
Luiz Carlos de Matos Bonates
Manoel Roberto Lima Mendonça
Marcílio de Freitas
Marcus Luiz Barroso Barros
Maria Izabel de Medeiros Valle
Marilene Corrêa da Silva Freitas
Mário Ypiranga Monteiro Neto
Marita Socorro Monteiro
Max Carpenthier Luiz da Costa
Newton Sabbá Guimarães
Osiris Messias Araújo da Silva
Paulo Fernando de Britto Feitoza
Pedro Lucas Lindoso
Regina Lucia Azevedo de Melo
Robério dos Santos Pereira Braga
Rosa Mendonça de Brito
Veralúcia Ferreira de Souza
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