Manaus, 28 de novembro de 2023

Nonato Pinheiro & Adriano Jorge

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“A proximidade de Padre Raimundo Nonato Pinheiro Filho com Adriano Augusto de Araújo Jorge foi intensa, embora em fase final da vida do médico alagoano.

E dever de justiça registrar neste ano o centenário de nascimento de Raimundo Nonato Pinheiro Filho, o padre, cristão de formação rigorosa iniciada no Instituto São Geraldo, a escola de sua própria mãe, a professora Diana de Macedo Pinheiro. Depois dessa iniciação seguiu para Pernambuco, Belém e São Luiz do Maranhão, em cuja cidade concluiu o curso e tomou ordens no seminário de Santo Antônio, retornando a Manaus para celebrar a sua primeira missa como pastor católico em 31 de janeiro de 1947 na festa de São João Bosco.

Desde logo tornou-se pregador de missas 5olenes, colaborador de revistas como “Amazônida” e “Flama”, conferencista em eventos religiosos, professor de Latim do Instituto de Educação da Amazonas, membro de banca examinadora de concursos para o magistério, Chanceler do Bispado amazonense, tudo isso em pouco menos de um ano de seu retorna a Manaus, sempre em companhia de outros lustrados escritores como Felix Valois, André Araújo e Carlos Mesquita.

Eram muito festejadas as orações que proferia, diariamente, as 18 horas, pelas ondas da Radio Baré, a emissora que ganhava popularidade por irradiar os shows da Maloca dos Barés e radionovela como suas grandes atrações. Foi no “Jornal do Commercio” que, na mesma época, iniciou a publicação de artigos semanais tratando de temas os mais variados, e, mais tarde, estabelecendo polémicas com outros professores em inúmeros embates sobre o bom uso do idioma pátrio, entre eles Aderson de Menezes, João Chrysostomo de Oliveira e José Braga. Diga-se, nesse ponto, que possuo em meus arquivos centenas desses artigos, seja os que reuni diretamente, seja os que recebi por doação de Luiz Costa, grande colecionador e bom leitor.

A proximidade de Padre Raimundo Nonato Pinheiro Filho com Adriano Augusto de Araújo Jorge foi intensa, embora em fase final da vida do médico alagoano. Orador fulgurante desde muito jovem e quando ainda estudante, teria sido retumbante, segundo se conhece de depoimentos antigos, o discurso que Nonato proferiu em solenidade da Câmara Municipal de Manaus quando da aposição da imagem de Jesus Cristo no Plenário da Casa Legislativa, então sob a presidência de Adriano Jorge, em 1948. O presidente da Academia Amazonense de Letras e vereador de Manaus respondeu à altura, enaltecendo a palavra do religioso e demonstrando sentida emoção.

Anos mais tarde, pouco antes de proferir mais uma das suas belas peças de oratória quando o novo Plenário da Câmara recebeu o nome de Adriano Jorge, em 1975, foi ele mesmo, Pe. Nonato, que recordou aqueles momentos que teriam sido inesquecíveis para um homem que se apresentava alquebrado pelos anos, e o fez falando baixo, ao pé do meu ouvido, para não perturbara solenidade. Em seguida, no verdor dos meus anos joviais, o sucedi na tribuna saudando a fato em nome do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.

Nenhum outro discurso da autoria de Nonato Pinheiro teria sido mais gravemente tocante ao sentimento de Adriano Jorge e ao público presente do que a homenagem prestada ao velho médico, em seu aniversaria, em festa organizada na Ação Católica do Amazonas, na Avenida Joaquim Nabuco, em 1948, em tributo de gratidão pelo trabalho que realizava no atendimento médico e de cunho social e caridoso. Foi ali que, tremulo pela emoção e a fulgor das palavras recolhidas no coração, Adriano permitiu viessem lagrimas em seus olhos fundos, e, voz embargada, interrompida pelos aplausos calorosos da plateia, proferiu seu derradeiro pronunciamento encerrando a passagem terrena pouco tempo depois.

Creio que esses registros servem para festejar Nonato Pinheira mais do que tudo que ele se passa reunir em biografia: haver dobrado de emoção, por sua palavra fulgurante encantadora, aquele que era o sumo sacerdote da inteligência e da oratória ao qual todos se dobravam.

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