Manaus, 23 de setembro de 2025

O Brasil do Norte, um bolsão de resistência produtiva e fiscal

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*Nelson Azevedo

“Enquanto colunistas do asfalto zombam do “ventilador no meio da selva”, a Zona Franca de Manaus segue arrecadando, gerando empregos e sustentando a floresta em pé. É hora de virar o jogo da narrativa”.

A sátira fiscal e o suor amazônico

A frase “ventilador no meio da selva” virou símbolo de um tipo de crítica que, sob o disfarce do humor, perpetua uma injustiça histórica: o preconceito contra a Amazônia produtiva. Vinda de gabinetes refrigerados e colunas de opinião bem localizadas no eixo Sul-Sudeste, essa sátira carrega uma lógica colonial, que mantém a Amazônia no papel de fornecedora de recursos brutos — sem valor, sem voz, sem soberania.

Mas aqui na Amazônia real, o ventilador gira à base de suor. A Zona Franca de Manaus, com sua indústria limpa e seu modelo constitucional, é a prova de que é possível gerar riqueza com floresta em pé. E faz isso mesmo sob ataque constante, desinformação crônica e negligência federal estrutural.

Os dados que o preconceito não quer ver

É preciso repetir com firmeza: o estado do Amazonas é o que mais arrecada tributos federais per capita entre todos os estados do Norte e Nordeste. Supera Bahia, Ceará, Pernambuco e Maranhão. A indústria instalada no Polo Industrial de Manaus financia a maior universidade multicampi do Brasil (a UEA), gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos, e é a principal responsável por manter em pé uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta.

E como ela é tratada?

Com desdém. Com ironias. Com infográficos forjados. Com o julgamento apressado de quem nunca pisou num galpão industrial no meio da floresta.

A falácia da planilha rasa

Boa parte dos ataques à ZFM se baseia em uma estimativa fictícia de “gasto tributário” – um cálculo que imagina quanto o governo arrecadaria se o modelo não existisse. Um raciocínio falho, que ignora o chamado efeito cruzado (em que a redução de um imposto gera aumento de outros) e o aumento de base (mais consumo, mais empregos, mais atividade).

Ou seja, o número inflado de renúncia fiscal é uma ficção contábil, não uma análise técnica. E essa ficção, alimentada por órgãos como a Receita Federal, se converte em munição para destruir um dos poucos projetos de descentralização econômica do país.

Para completar o absurdo, a ZFM ainda sofre com a chamada DIRB, uma declaração obrigatória que transfere ao contribuinte a responsabilidade de estimar a própria “renúncia fiscal”. Um jogo perverso, que transforma a vítima em ré.

Custo real? Vamos falar dele

Querem falar de custo? Falemos com seriedade.

  • Fundos especulativos e latifúndios improdutivos recebem benefícios bilionários sem gerar floresta em pé, universidade pública ou justiça regional.
  • A Zona Franca, por sua vez, reduz o desmatamento, impede migrações forçadas, gera conhecimento e sustenta milhares de famílias. É uma trincheira civilizatória no coração da floresta.

O custo real não está na ZFM. Está em ignorar a floresta como plataforma de futuro.

A blindagem não é política – é resistência histórica

Há quem diga que a Zona Franca sobrevive por “blindagem política”. A realidade é outra: ela resiste apesar do desmonte, apesar da insegurança jurídica, apesar da ausência de uma política nacional definitiva para a Amazônia.

A ZFM é sustentada pela coragem dos seus empreendedores, pela fé das instituições locais, pela resiliência dos trabalhadores. É um milagre diário de sobrevivência produtiva — feito não de favores, mas de suor.

O Brasil que sua camisa – e arrecada

Existe um Brasil que opina e outro que sua a camisa. Um que vive de colunas, outro que vive de chão de fábrica. Um que ridiculariza, outro que resiste.

A Zona Franca de Manaus não é uma ficção tropical. É um oásis de dignidade fiscal. E o ventilador que gira na floresta é movido a esforço real, não a sarcasmo editorial.

Queremos crítica – mas que sejam procedentes

Toda crítica é bem-vinda, desde que venha com dados, justiça e o mínimo de sensibilidade territorial. O que não aceitamos é a zombaria institucionalizada, o preconceito contábil, a caricatura de um Brasil que sequer se deu ao trabalho de nos conhecer.

Àqueles que nos criticam sem nos visitar: as portas estão abertas. Venham ver como se produz com floresta em pé. Como se arrecada com dignidade. Como se educa com autonomia.

Porque a Amazônia não é o quintal exótico da República. É a vanguarda silenciosa de um Brasil que o Brasil insiste em desconhecer.

*Economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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