Manaus, 28 de novembro de 2023

O essencial é a vida

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“O que se viu na última semana, com olho sem lágrimas e coração sangrando, foi o crescimento do número de mortes, o desbaratamento das mínimas condições hospitalares, de ambulâncias.

Há tempos, a partir da crise de saúde pública que se instalou no mundo e em particular no Brasil e no Amazonas, tenho ouvido manifestações as mais variadas em defesa do funcionamento regular dos serviços indispensáveis ao atendimento da população (saúde, segurança, farmácia, alimentos), e a suspensão das atividades não essenciais, ou seja, aquelas que não se incluam nesse rol muito particular. Além do mais, ouço, com insistência, a proclamação de cientistas, médicos e outras pessoas sensatas, indicando a necessidade de isolamento social, uso de máscara e higiene constante das mãos com sabão ou álcool em gel, como medidas necessárias ao controle da pandemia a que estamos submetidos. Medida profilática, aliás, bastante antiga e de ampla recomendação na gripe espanhola de 1918.

Aqui e ali verifica-se um gesto de adesão a essas orientações sociais. Insistentemente, entretanto, há realce às preocupações com a economia, o emprego, as empresas, os negócios que, afinal, movem o mundo por imposição do regime capitalista que escolhemos – e ainda bem que o escolhemos, com todos os seus males, para gerir a vida da nação. Não há falar em estabelecer, em espaço tão diminuto, qualquer apreciação comparativa sobre tais questões, nem assumir posição definitiva relativa ao tema. Haveria razões de parte a parte a serem consideradas.

O que se nos apresenta em Manaus, no momento, com o enorme e profundo estrangulamento das condições de hospitalização e de tratamento médico, mesmo residencial, exige, sem dúvida, a meu sentir, posição clara e desabrida a favor do mais completo isolamento social, mais do que o distanciamento a que se têm referidos os técnicos, desde março do ano passado. Exige, por imposição da mais dolorida verdade, que se proceda a processo de restrição geral e irrestrita da circulação de pessoas, como remédio amargo que é, para a redução do adoecimento acometido pelo vírus que nos assusta e consequente pressão na rede de saúde.

O que se viu na última semana, com olhos em lágrimas e coração sangrando, foi o crescimento do número de mortes, o desbaratamento das mínimas condições hospitalares, de ambulâncias, serviços médicos e clínicos, e, quase, de sepultamento das vítimas do covid-19.

Se conforta e anima verificar a adesão de várias instituições, pessoas físicas e jurídicas, e artistas, Brasil afora (e quanta gratidão devemos a tantas pessoas ao lado do esforço de autoridades, na luta para oferecerem o mínimo necessário aos cuidados de pacientes internados ou não internados. De outro lado, essa fase mais aguda de nosso sofrimento exige uma tomada de posição única e comum a toda a sociedade: não só darmos um basta a tudo que, de uma forma ou de outra, possa contribuir para o agravamento dessa crise, e mantermos as contribuições para a solução das deficiências do sistema público e privado de saúde, impensável, diante da magnitude da crise. E mais: observar os direitos assegurados e os deveres impostos pela Constituição a cada cidadão, agirmos com ética e respeito, responsabilidade moral e social, e exigirmos que tudo se faça com transparência, em benefício do bem comum e sem privilégios.

Não adianta a revolta nem a contestação estapafúrdia pelas redes sociais, ainda que sejam legítimas em uma democracia, muito menos a ofensa e o desrespeito às instituições e às autoridades constituídas, nem as fakes News que põem parte da população em maior desespero. A hora é de solidariedade, apoio, humanidade, compreensão. E hora de demonstração de Amor ao próximo e de Amor a si próprio, pois todos sabemos que, não havendo remédio preventivo nem curativo que se nos afigure certeza de tratamento e certa recuperação da saúde, e que temos de esperar a vacina como nossa salvação, só nos resta a defesa prévia do isolamento social, seguro e eficiente.

Afinal, o que se deve ter em mente nesse cenário desolador, mesmo diante da possibilidade de maior empobrecimento da Nação e de todos nós, é sabermos que a hora presente impõe salvar vidas, afinal, o essencial é a vida.

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